Leitura Matinal -246

A inflicção da morte vergonhosa aos sentimentos bons e maus que dantes animavam, perceptível, sobretudo pela escolhada Forma indistinta
ou dificilmente decifrável, tem de encontrar, inescapavelmente, uma nova força motora a que possa prender a continuidade da existência. Já sepultada a possibilidade única de acreditar num bem e num mal apontado ao outro e dele recebido,
resta o contínuo galgar do caminho indicado pelas agulhetas da anterioridade, com motor mais potente, mas sem a pressa de chegar ao destino, ou disponibilidade paradoxal para a fruição total das paragens da jornada. Sendo uma fidelidade a escolhas próprias, nem se exagera esse puro engenho vitalístico que se quer
natural, em homenagem ao Passado, ou pelas necessidades das consequências dele. É, por conseguinte, nas reacções dos espectadores que a admiração é desperta, pois no mundo de timoratos ainda há quem se disponha a render homenagem a um estatuto de segunda, o qual, pela dignidade e raridade, é elevado à superioridade absoluta, natural no Divino, apesar de sempre sobressair da generalidade, cá por baixo.
De José Manuel Travado:

Coragem

Não mais o rumor cego
que algum momento nos guiou

Nem os muros brancos
ou as vozes enoveladas em bruma
os desvios inclinados
sobre a tua face
.....não mais os ínvios caminhos

Crucificaste o ódio
serenaste a paixão
pelos campos ceifada

da tua Fé sobra
em estátua perfilada
................a Coragem
estás soberba no olhar dos homens
sóbria no dos deuses
corpo reclinado
................nas mãos da natureza


A «Floresta da Serenidade» como oposição e
resultado do «Amor Apaixonado», de Trung Viet
Nam e «Ódio», de L. J.Lindhart.