Leitura Matinal -187
A imitação: Desde a aliciante mas falsa concepção que dizia
ser a arte «imitação da vida», ignorando cega e rebuscadamente
que é... Vida, sem mais, até à capitulação perante a odiosa
vulgaridade e o furto, pode-se sempre encontrar umas partículas
de bondade em quem decalca. É que, por péssimos que sejam os
motivos, evidenciam-se, pelo menos, dois sentimentos estimáveis:
a avassaladora admiração por uma obra e a irreprimível vontade
de participar na maravilha da criação.
Participar? Como ilusão, decerto. Criar é, por definição, o
inverso de copiar. Ao apor a sua assinatura no que Outro
concebeu, ou, pura e simplesmente vendo pelos olhos e pelo
espírito de um estranho, o imitador está a apagar sem remédio
a individualidade que, por pouco marcante que fosse, lhe
estava destinada. E, nesse sentido, é morte. Mas, claro, já
não é Arte.
De Sandor Petofi, cujo 2º nome parece dever ser grafado com
dois ´´ sobre o "o", coisa que não consigo fazer, traduzido
por Ernesto Rodrigues:
AOS IMITADORES
Julgais que a poesia é um carro
que deambula por caminhos largos?
Águia, a poesia voa, livre,
até onde não sobem outros passos.
E o grupo miserável de incapazes
vigia, cobarde, qual saída.
E quando abre, então, famintos cães,
ao osso se lançam, a toda a brida.
Toma a pena e escreve, se tens forças
p´ra chegar onde ninguém chegou inda;
se não, pega na charrua ou ferro,
e desmancha teu ronrom indistinto.
ser a arte «imitação da vida», ignorando cega e rebuscadamente
que é... Vida, sem mais, até à capitulação perante a odiosa
vulgaridade e o furto, pode-se sempre encontrar umas partículas
de bondade em quem decalca. É que, por péssimos que sejam os
motivos, evidenciam-se, pelo menos, dois sentimentos estimáveis:
a avassaladora admiração por uma obra e a irreprimível vontade
de participar na maravilha da criação.
Participar? Como ilusão, decerto. Criar é, por definição, o
inverso de copiar. Ao apor a sua assinatura no que Outro
concebeu, ou, pura e simplesmente vendo pelos olhos e pelo
espírito de um estranho, o imitador está a apagar sem remédio
a individualidade que, por pouco marcante que fosse, lhe
estava destinada. E, nesse sentido, é morte. Mas, claro, já
não é Arte.
De Sandor Petofi, cujo 2º nome parece dever ser grafado com
dois ´´ sobre o "o", coisa que não consigo fazer, traduzido
por Ernesto Rodrigues:
AOS IMITADORES
Julgais que a poesia é um carro
que deambula por caminhos largos?
Águia, a poesia voa, livre,
até onde não sobem outros passos.
E o grupo miserável de incapazes
vigia, cobarde, qual saída.
E quando abre, então, famintos cães,
ao osso se lançam, a toda a brida.
Toma a pena e escreve, se tens forças
p´ra chegar onde ninguém chegou inda;
se não, pega na charrua ou ferro,
e desmancha teu ronrom indistinto.
2 Comments:
At 12:09 PM, Bruno Santos said…
Sou, de há muito, um apreciador atento da literatura húngara. No húngaro de hoje já não há dupla acentuação de letras, pelo que para evitar as limitações ortográficas dos computadores na grafia destes nomes de família antigos, atira-se correntemente com um til (~) sobre a letra em questão. Sándor Petõfi (os húngaros colocam o patronímico antes do nome próprio), ou Sandor Petofi, sem acento algum, que daí também não vem mal ao mundo, é o Byron da Hungria: um grande poeta oitocentista, de estilo simples, directo, pleno de humor, mas que sabe igualmente guindar-se a amplos voos líricos.
Nacionalista, foi ele quem compôs o famoso hino "Talpra Magyar", cantado pelas tropas magiares que se envolveram em 1848-49 na guerra da Independência da Hungria. O poeta, de resto, foi morto em combate em 1849. Tinha 26 anos de idade.
Hoje, há ruas com o seu nome em praticamente todas as cidades e vilas da Hungria. E uma das pontes de Budapeste chama-se Sandor Petofi.
At 6:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigadíssimo, Caro BOS, pela magistral lição. vou já enviar a acentuação supérflua para o destino que ela merece.
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