Leitura Matinal -174
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Se o remorso e a procura da elevação pelo abandono da vida social são conhecidos universalmente, só a Doutrina Cristã, no Catolicismo concretizada, dá plena vazão às transformações proporcionadas pelo arrependimento sincero, que podem ir até aos votos e ingresso em Ordens. Mas como manter, sem abanar, a rejeição do que se amou? Qual será maior tentação? Estender a mão para o que se quer, ou conservar a tempo inteiro a rejeição do que, mesmo em rota de perdição nos fez felizes? Da saudade não está imunizado nem o mais fero penitente, aquele que é absolutamente impermeável a cantos de sereia do presente. É que o homem é demasiado fraco e a recordação é multifacetada, pois investe em duas frentes - traz-lhe aos olhos tudo o que, conscientemente mais gostou e, espectralmente, o que verdadeiramente amou, o pretenso apogeu da sua pessoa.
Paixão antiga que regressa é o que Júlio Dantas nos dá em:
A ESPADA
No convento, e talvez dez léguas ao redor,
Frei André de Jesus tinha fama de santo:
Vigílias, orações, milagres, - e, entretanto,
Nunca tentara a Deus tão grande pecador.
Em môço fôra o mais terrível e o melhor
Dos duelistas de Espanha: ao vento o feltro e o manto,
Batia-se a sorrir, matava em cada canto,
Chamava à espada o seu primeiro amor.
Depois, envelheceu, surgiu do seu engano,
Tomou para mortalha o burel franciscano, -
Mas apesar de frade, e santo, e penitente,
Na sua cela, um dia, alguém o viu, a mêdo,
Abraçado a uma velha espada de Toledo,
A chorar, a chorar silenciosamente...
As imagens reproduzidas são: «Jovem com uma Espada», de
Ferdinand Bol e «Nostalgia», de Séquoia.
Se o remorso e a procura da elevação pelo abandono da vida social são conhecidos universalmente, só a Doutrina Cristã, no Catolicismo concretizada, dá plena vazão às transformações proporcionadas pelo arrependimento sincero, que podem ir até aos votos e ingresso em Ordens. Mas como manter, sem abanar, a rejeição do que se amou? Qual será maior tentação? Estender a mão para o que se quer, ou conservar a tempo inteiro a rejeição do que, mesmo em rota de perdição nos fez felizes? Da saudade não está imunizado nem o mais fero penitente, aquele que é absolutamente impermeável a cantos de sereia do presente. É que o homem é demasiado fraco e a recordação é multifacetada, pois investe em duas frentes - traz-lhe aos olhos tudo o que, conscientemente mais gostou e, espectralmente, o que verdadeiramente amou, o pretenso apogeu da sua pessoa.
Paixão antiga que regressa é o que Júlio Dantas nos dá em:
A ESPADA
No convento, e talvez dez léguas ao redor,
Frei André de Jesus tinha fama de santo:
Vigílias, orações, milagres, - e, entretanto,
Nunca tentara a Deus tão grande pecador.
Em môço fôra o mais terrível e o melhor
Dos duelistas de Espanha: ao vento o feltro e o manto,
Batia-se a sorrir, matava em cada canto,
Chamava à espada o seu primeiro amor.
Depois, envelheceu, surgiu do seu engano,
Tomou para mortalha o burel franciscano, -
Mas apesar de frade, e santo, e penitente,
Na sua cela, um dia, alguém o viu, a mêdo,
Abraçado a uma velha espada de Toledo,
A chorar, a chorar silenciosamente...
As imagens reproduzidas são: «Jovem com uma Espada», de
Ferdinand Bol e «Nostalgia», de Séquoia.
1 Comments:
At 1:40 PM, Anonymous said…
"Leitura Matinal - 7"
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