O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, October 05, 2005

Leitura Matinal -139

Há três narcóticos fortes de que se socorre o homem
para continuar a viver. Mas todos eles têm efeitos
secundários. O primeiro é a Força, pela qual alimenta
a ilusão - e dela se alimenta - de que tudo o que quer
está ao seu alcance e que o que é belo, por ser presente,
é eterno. Ai! É a época em que se não importa de ferir,
antes de ver esvair-se a pura animalidade disponível dos
seus afectos e interesses. Mas os acidentes e as armadilhas
encarregam-se depressa de o desenganar, algemado-o no
pessimismo próprio do desconhecimento.
Depois vem a criatividade. Encarreira por ela, julgando
ter, enfim, atingido as alturas da superioridade, vendo-se
no enganador espelho da sua fantasia, igual ou próximo dos
Deuses, ávido do tributo que prestem, já não à sua simples
companhia, mas à totalidade espiritual e vital de que se
julga senhor. Mas os entusiasmos que desperta, inclusivé o
seu, acabam por esgotar-se. E esta dor, sendo menos aguda,
é muito mais permanente do que a primeira.
Por fim, vem a confiança no bálsamo que alivia, pensando com
ele tornar o sofrimento tão pretérito que lhe diminua ou extinga
a existência. Não conta com o nojo de si, causa irreversível de
esterilidade dolorosa, que, se beneficia do que apaga da ordem
do dia, é estigmatizado e estigmatizante pela sua natureza de
impotência.
E são três drogas cujo consumo, por não ser opcional, não têm
hipóteses de serem revertidas por um tratamento de desintoxicação.
Salvo o da Fé, talvez.
Uma miniatura sublime, de Aleksandr Púchkin:

Na estepe do mundo, triste e infinita,
Brotaram em mistério três nascentes:
A da juventude, célere e rebelde,
Ferve, corre, mareja e cintila.
A de Castália, fonte de inspiração,
Mata a sede ao desterrado na estepe.
A última - a fria, do olvido - mata
Ânsias do coração, mais doce e estreme.

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