A Diluição

É uma situação perversa, da qual não se lobriga qual dos
termos seja a causa e qual seja a consequência. Falo da
progressiva falta de confiança que as populações do mundo
contemporâneo, em países de uma certa industrialização,
sente nas forças militares e policiais a que estaria cometida
a protecção da sua segurança. Já aqui falei da timidez que
leva os graduados do que deveriam ser corpos de elite do
estado a abdicar de envergar o uniforme, fora das mais restritas
horas de serviço. Mais do que o resvalar para o anonimato há,
porém a vinda a público de fragilidades de comportamento, as
quais, igualizando ao comum dos mortais aqueles que deveriam
ser a garantia do seu sossego, gera o desprezo e aversão contra
as forças de prevenção, já que as de investigação continuam a
marcar pontos e a gozar de algum prestígio.
Não é apenas a visibilidade do crime a aumentar. Essa vai
desgastando, mas, se desacompanhada, não fere de morte.
Quando, entretanto, começam a acumular-se corrupção em
massa nos "polícias de trânsito" do Algarve, quando surgem,
com esgotamento mediático, repetidas novas de polícias agredidos
ou assassinados, seja em bairros problemáticos ou fora deles,
quando culmina na revelação de que, em forças militares ou
militarizadas e policiais, se vivem as vulnerabilidades à droga e
ao álcool que impendem sobre a vida civil, as quais foram bem
abordadas, já, por Manuel Azinhal, quando, por fim, se vê no
Cáucaso Russo elementos das forças de protecção tornados
reféns, como qualquer indefeso habitante, é fatal que surjam
as interrogações sobre a função e o modelo e o terrível encolher
de ombros acerca dos seus servidores.
Um modelo sem protectores impolutos e eficazes, em que os
agentes que deveriam desempenhar essa função sejam vistos
e se vejam como funcionários iguais aos outros, como eles
reivindicando comportando e... a breve trecho, temendo, é como
notoriamente dizia o Outro, um mundo que está perigoso.