Leitura Matinal -148
A relação da individualidade com um ambiente hostil que a
rodeia e ameaça, exigindo de todos o alinhamento, mais do
que a mera quietude, pode suscitar reacções de diversa ordem,
consoante a grandeza interior e as escapatórias culturais a que
o pressionado pode recorrer. Uns caem na pura luta contestatária,
outros no abatimento profundo. Chamando-se Ernst Juenger pode
ainda haver refúgio na fria observação e meditação da História
conhecida, espelhada em modelos sem endereço ou ficha, que dão
à crítica o seu espaço vital.
Mas quem, tendo talento, não possui orgulho e génio comparáveis
pode enveredar por uma arte sofrida, mas não lamurienta, em que
se evidencie a necessidade de ocultar vivências e conhecimentos
do Pretérito, para não afrontar as pressões dos vectores poderosos
que o querem erradicar; em que se põe a nu a hedionda imanência
das ferramentas desumanas usadas para perfurar as campânulas de
complexidade e segredo dos seres que seviciam; em que se passe ao
lado da facilidade final, porque precoce desistência que impede de
esgotar a endurance e os recursos de um conjunto pensante
e sensível.
Tendo vivido, na ex-RDA sob a pressão de poder invasor da
sociedade, mas sem, por a ele opor as faculdades poéticas, se
deixar enredar num totalitarismo diferente, o do unanimismo demo-
-liberal, na altura imerso em reflexos pavlovianos de frias guerras,
Reiner Kunze deixou-nos, entre muitos outros, estes três pequenos
poemas:
PRESENTE
O que eu guardo a sete chaves?
Nenhuma conspiração nem sequer
pornografia
Passado, filha
Conhecê-lo pode
custar o futuro
HINO A UMA MULHER DURANTE O INTERROGATÓRIO
Mau terá sido
o momento do
despir
Depois
exposta aos seus olhares ela
descobriu tudo
sobre eles
SUICÍDIO
De todas as portas - a última
Porém nunca ninguém
bateu primeiro a todas
rodeia e ameaça, exigindo de todos o alinhamento, mais do
que a mera quietude, pode suscitar reacções de diversa ordem,
consoante a grandeza interior e as escapatórias culturais a que
o pressionado pode recorrer. Uns caem na pura luta contestatária,
outros no abatimento profundo. Chamando-se Ernst Juenger pode
ainda haver refúgio na fria observação e meditação da História
conhecida, espelhada em modelos sem endereço ou ficha, que dão
à crítica o seu espaço vital.
Mas quem, tendo talento, não possui orgulho e génio comparáveis
pode enveredar por uma arte sofrida, mas não lamurienta, em que
se evidencie a necessidade de ocultar vivências e conhecimentos
do Pretérito, para não afrontar as pressões dos vectores poderosos
que o querem erradicar; em que se põe a nu a hedionda imanência
das ferramentas desumanas usadas para perfurar as campânulas de
complexidade e segredo dos seres que seviciam; em que se passe ao
lado da facilidade final, porque precoce desistência que impede de
esgotar a endurance e os recursos de um conjunto pensante
e sensível.
Tendo vivido, na ex-RDA sob a pressão de poder invasor da
sociedade, mas sem, por a ele opor as faculdades poéticas, se
deixar enredar num totalitarismo diferente, o do unanimismo demo-
-liberal, na altura imerso em reflexos pavlovianos de frias guerras,
Reiner Kunze deixou-nos, entre muitos outros, estes três pequenos
poemas:
PRESENTE
O que eu guardo a sete chaves?
Nenhuma conspiração nem sequer
pornografia
Passado, filha
Conhecê-lo pode
custar o futuro
HINO A UMA MULHER DURANTE O INTERROGATÓRIO
Mau terá sido
o momento do
despir
Depois
exposta aos seus olhares ela
descobriu tudo
sobre eles
SUICÍDIO
De todas as portas - a última
Porém nunca ninguém
bateu primeiro a todas
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