Leitura Matinal -131
Qualquer ponto de vista publicado pode, certamente,
resvalar para a toleima de inculcar no seu progenitor
a noção lisonjeadora de ser um maitre à penser. Não se
poderá levar a mal que a fragilidade de cada qual viva
de estímulos tão comezinhos. O que interessa, para além
da pura qualidade de apresentação das suas vistas, é que
tenha realmente uma opinião estruturada e sincera sobre o
tema. O que não acontece muitas vezes nos jornais do sistema,
de qualquer sistema, em que a promoção ao estrelato de um
analista origina, da parte deste, o ecoar das mais difundidas
banalidades, sob a capa de umas credenciais assentes numa
incerta mas presumível sagacidade especial.
É o comentarismo de bater o ponto, a rotineira emissão de
lugares-comuns, por nada se ter a dizer que extravase das
intenções geralmente espalhadas, que, por tão repetidas, se
elevam ao estatuto de "verdades incontestáveis". Donde, a função
do analista passa a ser corroborá-las, para dar o lustro dos
aplausos fáceis à sua já massajada auto-satisfação, sem com nada
de próprio contribuir para a seriedade dos debates.
Claro que na própria apresentação de uma notícia se pode deformar
os factos, para moldar as opiniões. Mas esse é um momento anterior.
A repetitividade analítica sem conteúdo original vem depois e faz dos
seus expoentes os coristas dos media.
Na Universidade, ensinou-me um Velho Professor que «não devemos ter
demasiado medo do lugar-comum, porque esse é, afinal, aquele em que
todos nos encontramos». Mas é-o quando emergente da experiência
colectiva, não o bebido das linhas editoriais de jornais que se confundem,
fermentados por pilhas de pareceres sem arte, orientados para as
facilidades da aderência ao que mais se ouve, para exclusivo
engrandecimento do ego dos seus emissores.
Nota escrevi propositadamente «aderência».
De Fernando Assis Pacheco:
SONETO CONTRA AS PESPORRÊNCIAS
É favor não pedirem a esta poesia
que faça o jeito às alegadas tendências
do tempo nem às vãs experiências
que sempre a deixaram de mão fria
o que iria bem mas mesmo bem seria
num jornal a coluna das ocorrências
as coisas da vida mais que as pesporrências
editoriais do comentador do dia
o que vai mal com ela são as petulâncias
de que se vestem muitas redundâncias
dando-se públicos ares de sabedoria
que o leitor farto das arrogãncias
magistrais troca por outras instâncias
onde pode mandá-las pra casa da tia
resvalar para a toleima de inculcar no seu progenitor
a noção lisonjeadora de ser um maitre à penser. Não se
poderá levar a mal que a fragilidade de cada qual viva
de estímulos tão comezinhos. O que interessa, para além
da pura qualidade de apresentação das suas vistas, é que
tenha realmente uma opinião estruturada e sincera sobre o
tema. O que não acontece muitas vezes nos jornais do sistema,
de qualquer sistema, em que a promoção ao estrelato de um
analista origina, da parte deste, o ecoar das mais difundidas
banalidades, sob a capa de umas credenciais assentes numa
incerta mas presumível sagacidade especial.
É o comentarismo de bater o ponto, a rotineira emissão de
lugares-comuns, por nada se ter a dizer que extravase das
intenções geralmente espalhadas, que, por tão repetidas, se
elevam ao estatuto de "verdades incontestáveis". Donde, a função
do analista passa a ser corroborá-las, para dar o lustro dos
aplausos fáceis à sua já massajada auto-satisfação, sem com nada
de próprio contribuir para a seriedade dos debates.
Claro que na própria apresentação de uma notícia se pode deformar
os factos, para moldar as opiniões. Mas esse é um momento anterior.
A repetitividade analítica sem conteúdo original vem depois e faz dos
seus expoentes os coristas dos media.
Na Universidade, ensinou-me um Velho Professor que «não devemos ter
demasiado medo do lugar-comum, porque esse é, afinal, aquele em que
todos nos encontramos». Mas é-o quando emergente da experiência
colectiva, não o bebido das linhas editoriais de jornais que se confundem,
fermentados por pilhas de pareceres sem arte, orientados para as
facilidades da aderência ao que mais se ouve, para exclusivo
engrandecimento do ego dos seus emissores.
Nota escrevi propositadamente «aderência».
De Fernando Assis Pacheco:
SONETO CONTRA AS PESPORRÊNCIAS
É favor não pedirem a esta poesia
que faça o jeito às alegadas tendências
do tempo nem às vãs experiências
que sempre a deixaram de mão fria
o que iria bem mas mesmo bem seria
num jornal a coluna das ocorrências
as coisas da vida mais que as pesporrências
editoriais do comentador do dia
o que vai mal com ela são as petulâncias
de que se vestem muitas redundâncias
dando-se públicos ares de sabedoria
que o leitor farto das arrogãncias
magistrais troca por outras instâncias
onde pode mandá-las pra casa da tia
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