Leitura Matinal -124

Sustentam os calvinismos vários, ainda que camuflados, a
tese desmascarada por Chesterton de estar o inferno cheio
de boas intenções. Cingem-se à pura materialidade da acção,
sem outra virtude que a corroboração de percursos predestinados,
pelo que o arrependimento também desempenha papel pouco
relevante.
Um Autor que não era Cristão, embora de formação familiar
luterana e tendo flirtado com a Igreja Católica nos finais dos anos
1960´s, Ernst Juenger, dizia não gostar do remorso, o que espelha
voluntária incompreensão das Virtudes Divinas da Justiça e da
Misericórdia, fora das fronteiras do Catolicismo, assim como a
menorização do valor, para aquilatação, do que precede e sucede ao
acto humano.
As demandas do nosso imaginário fazem-nos identificar os Anjos
como colaboradores com as mencionadas Reacções do Supremo aos
momentos inactuais da ética. Precisamos muito da identificação do
socorro desses Entes Espirituais, o que levou a descambar no exagero
da nomenclatura arbitrária dos angelicais acompanhantes de cada
indivíduo, obrigando a Sagrada Congragação para a Doutrina da Fé, em
6/6/1992, a proibir a designação dos anjos com nomes que se acreditem
ser os deles, mesmo na devoção privada e com base em revelações
recebidas particularmente. Foi uma protecção contra esse fenómeno falho
de categoria que é o esoterismo de massas, passe a contradição nos termos.
E não deixa de ser maravilhoso que duma acrescida abstracção surja
a mais extremada concatenação dos concretos do homem.
Representante de outra Espiritualidade, António Barahona,
deu conta dos Angélicos Reflexos das duas Grandes Qualidades
no poema que dedicou a Ismail Khan:

OS DOIS ANJOS DA GUARDA

O Anjo sentado no ombro direito que escreve
num livro as intenções das boas acções
O Anjo sentado no ombro esquerdo que escreve
noutro livro as más acções

O Anjo da direita pede smpre ao anjo da
esquerda:
- espera sete horas antes de escrever a má acção e,
se, entretanto, ele (ou ela) se arrepender,
não escrevas nada

No fim de Namaz cumprimenta-se para os dois lados,
em voz baixa, fixando com atenção as extremidades dos ombros