Leitura Matinal -120

Há formas de previsão que estão a anos-luz das profecias.
Não são monopólio duns quantos que se garantem iluminados,
são, sim, detidas, quanto a muitos acontecimentos vindouros
do curto-prazo, por alguns estudiosos que, estribando-se no
conhecimento dos precedentes históricos e da psique humana,se
dispnibilizam para observar os sucessos e as gestações, furtando
dessa forma o seu trabalho cerebral à inconsideração que os
rodeia, sem valia para ver sinais e deles tirar consequências.
Mas como a mutidão ignara, por inevitabilidades físcas e por
temperamento, grita mais alto que um erudito esclarecido,
as colectividades continuam, alegremente, na senda da asneira.
Só têm ouvidos para os políticos, que, se apoiados nos votos
ou na oratória, são uma espécie de cantores-pimba da actividade
pública espiritual.
A falta de gosto é a irmã mais velha do disparate. E quando o
ajuda a atravessar a rua, é toda a família que vem a pagar caro.
De Constantin Cavafy, um poema que Jorge de
Sena colocou assim na lusa língua:

OS HOMENS SÁBIOS ENTENDEM O QUE VAI PASSAR-SE

Porque os deuses sabem dos eventos futuros,
e os homens dos eventos presentes. Mas o
sábio sabe do que vai passar-se.
Filóstrato, «Sobre Apolónio de Tiana, VII, 7».

O que acontece agora sabem os mortais
e o que será um dia os deuses sabem,
os únicos senhores de toda a luz profunda.
Mas o que vai acontecer em breve
o atento sábio sabe. O seu ouvido

às horas do silêncio há que escuta
inquieto e perturbado estranhos sons
que às vezes vêm de eventos que estão prestes.
E, respeitosamente, atenta neles,
enquanto as gentes fora nada ouvem.