Leitura Matinal -117
Já não nos arrastamos pelo terror destilante de Agosto,
mas, como dizem que a temperatura vai voltar a subir,
tenho que mencionar a completa paralisia a que o pino
do Verão me condena. Nada parece funcionar nestes
calores mediterrnicos, pelo que tremo como varas
verdes só de pensar no que aconteceria em rgimes
tropicais. Não sou caso único, longe disso. Guerra
Junqueiro queixava-se do mesmo e, para tanto, caiu
quase no que podemos assimilar a quadras populares.
Ora vejam se não é a descrição exacta desta
CARTA
(A UM AMIGO QUE ME PEDIU VERSOS)
Como hei-de ser um Petrarca
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!
Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d´Alfama.
Enxota o Pégaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.
A hipocondria maciça
Conduzo-a , não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.
Eu trago a inspiração oca,
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.
Não tenho a rima imprevista,
Os guizos d´oiro ou de opala,
Que à asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.
P´ra lapidar à vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que é como o pó do diamante.
A musa foi-se -me embora;
Para onde foi nem me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.
Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagãs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.
Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.
Enfim, o calor achata-nos.
Vamos aos bosques pacíficos
Onde os guarda-sóis - os plátanos -
Têm forros novos, magníficos!
mas, como dizem que a temperatura vai voltar a subir,
tenho que mencionar a completa paralisia a que o pino
do Verão me condena. Nada parece funcionar nestes
calores mediterrnicos, pelo que tremo como varas
verdes só de pensar no que aconteceria em rgimes
tropicais. Não sou caso único, longe disso. Guerra
Junqueiro queixava-se do mesmo e, para tanto, caiu
quase no que podemos assimilar a quadras populares.
Ora vejam se não é a descrição exacta desta
CARTA
(A UM AMIGO QUE ME PEDIU VERSOS)
Como hei-de ser um Petrarca
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!
Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d´Alfama.
Enxota o Pégaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.
A hipocondria maciça
Conduzo-a , não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.
Eu trago a inspiração oca,
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.
Não tenho a rima imprevista,
Os guizos d´oiro ou de opala,
Que à asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.
P´ra lapidar à vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que é como o pó do diamante.
A musa foi-se -me embora;
Para onde foi nem me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.
Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagãs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.
Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.
Enfim, o calor achata-nos.
Vamos aos bosques pacíficos
Onde os guarda-sóis - os plátanos -
Têm forros novos, magníficos!
2 Comments:
At 11:42 AM, João Villalobos said…
Finalmente uma poesia, cultura, Guerra Junqueiro. Já pensava que a autoria deste blog tinha sido usurpada por uma troika de mecânicos, tal a quantidade de fotos de miúdas que o inundou.
O misa voltou a transbordar de testosterona, foi o que foi. O que pensará disso a menina Innie?
At 11:57 AM, Anonymous said…
A menina Innie acha que esta Leitura Matinal - 117, foi escrita com muito calor...
Certo Sr. Misa?
Innie
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