Leitura Matinal -110

Respondia Santo Agostinho à sem-razão da pergunta
sobre o que se passava «antes de Deus ter criado o
tempo», dizendo que, previamente a uma cronologia
possível, «Deus fazia o próprio tempo». E sendo a
temporalidade um dos termos essenciais emergentes da
operação criadora, interage necessariamente com uma
consciência mortal e passível de usura, formando um
tandem que possibiltaria o surgimento da ética.
Como hino ao que prefiguraria esse Terrível Estado de
Perfeição a que faltava o Amor, leia-se, de Antonio
Corrêa d`Oliveira,

ANTES

Deus, era Deus. Só Deus preexistia;
Deus, sempre foi. A vida, (argila obscura,
Alma celeste: dúplice escultura,)
Não acordara na algidez sombria

Não se medira a Luz á noite e ao dia,
A Eternidade ao tempo, o espaço á Altura;
-Fluída em névoa, a Criação futura,
Qual, no silêncio, o corpo da harmonia.

Mar, e não onda que, na praia, á sôlta,
Se espraia, adonda, e logo ás ondas volta,
O Verbo enchia a Imensidão calada;

Sem Onde, ou Quando, nem Depois, nem Antes:
Êle era...-As mais palavras conjugantes
Não lhes ouvira, ainda, o frio Nada.