O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, September 02, 2005

Leitura Matinal -106

Certo dia, numa recepção, um cavalheiro bem
estabelecido na vida arremessava, como se um dito
de espírito se tratasse, a uma forçada audiência:
«Eu só acredito naquilo que vejo».
Léon Bloy, que acabara de lhe ser apresentado,
retorquiu-lhe, num tom cordial, dizem que melífluo,
mesmo: «Meu caro sr., não é preciso declinar a sua
qualidade de imbecil a todo o instante».
Por muito que o homem confie nos cinco sentidos que,
por enquanto, universalmente reconhece, não se pode
levar a mal que queira pensar-se como mais e melhor,
logo que, mesmo neste mundo e não nas vindouras utopias
do poema, procure descobrir-se outras ocultas faculdades.
Porque não?
Também ensinaram durante anos a fio que a matéria tinha
três estados, sólido líquido e gasoso, até que ao número
veio juntar-se a descoberta dum quarto: o plasma.
E em que concretizações se pode traduzir a novidade quanto à
capacidade vigente? Ao acaso, sugiro duas: aquela que permite
engrandecer o alcance espacial e temporal da percepção, hoje
passando por extra-sensorial, ou seja, dupla visão, telepatia,
premonições; e Essa Outra que facilita o contacto com Deus,
ainda cá por baixo, e que é exclusivo dos Grandes Místicos.
Mas sobre a aspiração ao incremento das actuais possibilidades,
que diminua a nossa pequenez, com a sequente alargada consciência
do que nos aborda, temos, de Alberto de Oliveira:

CINCO SENTIDOS

(Depois de ler uma página de Maeterlinck)

Cinco sentidos são os cinco dedos
Com que o homem tacteia a escuridão,
Rodeado de sombras e segredos
De que busca, e não acha, a solução.

Mas decerto haverá mundos mais ledos
Onde outros seres, de maior visão,
Rompendo brumas, dissipando medos,
A treva finalmente vencerão.

E sendo sete as cores, e outros tantos
Os sons da escala, mas com mil matizes
Que prolongam seu eco e seus encantos,

Talvez nos seja um dia transmitido,
Por esses mundos fortes e felizes,
Um novo sexto e sétimo sentido!

1 Comments:

  • At 10:19 AM, Blogger JMTeles da Silva said…

    Excepcional, o poema, ó vizinho.
    Quanto ao estado de Plasma, é aquele em que se encontram os nossos políticos: aquecidos pela cobiça, rarefeitos na honra e espírito de serviço e irresistivelmente atraídos por campos intensos de interesse pessoal que os deformam em permanência.Abraço

     

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