O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, September 16, 2005

Carta Aberta a um Cidadão-Gay

Meu caro Cidadão-Gay:

Perdoe dirigir-me a si por meio desta genérica designação.
Mas, convenhamos, ela não é ofensiva, tem, de resto, a
inequívoca vantagem de reconhecer a sua integração e a sua
participação cívicas na República, estatutos em que não
pretendo tocar um cabelo que seja. É minha convição estarem
os dois mesmo a calhar um(a) para o outro.
Porque lhe dirijo esta pública missiva? Porque sou muito
zeloso quanto à minha imparcialidade e quanto à exposição
fiel das minhas opiniões. Falei, em tempo, contra a pobre
manifesação que 500 dos seus afins realizaram pelas ruas
de Lisboa. Falo, agora, contra a que oponentes vossos
querem empreender na mesma cidade. Significa isto que as
coloco no mesmo plano? Não significa tal. Aquela em que,
porventura, terá participado era um espanejamento relapso
do que deveria remeter à sua intimidade. A que se prepara
é motivada pela preocupação com o que as acções de propaganda
dos vossos gostos possam influir na formação dos Filhos dos
desfilantes. É a diferença entre uma vocação egotista e
uma preocupação com os que se ama.
Entenda-me, não me acuse, pelo que então disse, como pelo que
agora afirmo, de ser um escravo da homofobia. Que V. tenha escolhido
viver de costas voltadas para a acção que se espera do género
em que, casualmente, nasceu, é coisa que só lhe diz respeito a si.
Cada um come do que gosta e, em sua casa, igualmente deve ter a
mais absoluta liberdade na determinação do que dá a comer. Deve
é manter reserva da sua intimidade, não obrigando os outros a ver
espectáculos para que não compraram bilhete.
Por isso me opus ao exibicionismo do vosso orgulho, para o qual
não encontro razões. E por me opor tenazmente a essa presente
degenerescência humana que é o homo manifestandis, lavro o meu
protesto contra a convocatória em curso, apesar de as encarar em
planos diversos.
Uma manifestação em que se grita palavras de ordem e se ostenta
letreiros é uma diminuição do Homem. Sem querer cair na armadilha
de me oferecer como exemplo, posso comunicar-lhe que, na idade
adulta, só me associei a três desfiles de combate por valores; e
porque me garantiram previamente ser adoptada a forma de marcha
silenciosa. Dois, em defesa daqueles que não podem ainda usar os
braços para se defenderem. O terceiro, em memória deo Rei D. Carlos,
eu, um miguelista, por achar dever expressar o meu repúdio pelo
uso do assassínato como arma política contra quem não tinha morto
pessoa alguma. Sempre motivos públicos, como vê.
E a si, como aos seus, dei bons conselhos. Falei, com tal suscitando o
notável protesto do BOS, em substituirem seriados e pressões de
qualidade suspeitas por evocações históricas de figuras importantes
que partilhassem os vossos gostos. Seria mais higiénico e mais
eficaz. Pelo menos, se os vossos opositores não tivessem vindo
amplificar o eco, à partida pequeno, do novel programa. A mim, pouco
me incomoda. Rara televisão vejo e, até essa reputo de maléfica
pelo tempo que rouba aos meus livros. Quer ver como me não guia uma
má vontade de princípio contra a homossexualidade? Alguns escritores,
entre os que mais prezo, tiveram períodos em que só pensaram nisso.
Cito ao acaso, Montherlant, Cocteau, Brasillach... Só que o meu
amigo gostará deles pelo que passaram no papel que escolheram; e eu
admiro-os pelo que escolheram passar ao papel. Michel Déon tem, em
«Un Taxi Mauve», uma cena muito forte em que dois indivíduos apregoam
o seu amor por Proust e Gide, unicamente baseados na sua sexualidade.
Dir-me-á: «Então e os seus queridos gregos?». Já disse e repito - é
o aspecto que nada me diz, nessa grande civilização. Contudo, os homos,
lá, alimentavam-se sobretudo da efebia, e a demarcação dos pedófilos
creio ser uma das linhas de força que a sua comunidade anda a tentar
passar... E depois, vê algum grego antigo a corporizar a "cultura
rosa"?
Portanto entendamo-nos: nada de apreço por manifestações, contra ou a
favor. Liberdade recatada e com o limite da contenção.
Creia-me (e peço que não leve a mal não escrever "seu")
P

3 Comments:

  • At 12:07 PM, Blogger JMTeles da Silva said…

    Bravo, bravo, bravo! Abraço

     
  • At 2:21 PM, Anonymous Anonymous said…

    O quê? Mas há gays a ler este blog? Caramba, hoje é só novidades! Eu cá defendo as manifestações pró e contra, de preferência à mesma hora e no mesmo local, por exemplo o Centro Comercial Colombo.

     
  • At 7:30 PM, Anonymous Anonymous said…

    Ignorando estrondosamente o despertador que me propulsionaria para a hidroginástica das 16 e 15, remeto-me à protecção do leito de uma forma tal que me faz falhar a sessão das 19 horas da Mostra de Cinema da América Latina. Irei ver/beber "WhisKy" pelas 22 horas. E depois do "copo" darei uma saltada ao Quarteto, para sacar o programa do festival de cinema Gay e Lésbico. E só me preocupo com isso. É cinema. Com bons e maus filmes.

     

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