Dispensa Sem Distinção

Lemos com espanto e pasmo no DN que o Dr.
António Costa dispensou o Primeiro Ministro
de interromper os seus africanos descansos,
para companhar de perto o drama dos incêndios
nas florestas do nosso País. Teria o substituto
do Chefe do Governo dito que o Eng.º Sócrates
se deixasse estar «que o que tinha de ser feito
estava a ser feito».
Traz-me o caso à lembrança a lenda colada a D.
Luísa de Gusmão, que teria exortado o Marido a
aceitar a Coroa que os Conjurados de 1640 lhe
ofereciam dizendo antes querer ser «Rainha uma
hora do que Duquesa toda a vida». Do mesmo jeito,
o actual Ministro da Administração Interna pode
ter alimentado a noção de que melhor é ser P.M.
umas semanas do que M.A.I. todo um mandato. Mas
o orgulhoso dito da Consorte se D.João IV era
posto ao serviço da recuperação da Independência
Nacional; a atitude do Dr. Costa ou tem por fonte
a sede de protagonismo individual, ou a desoladora
insensibilidade ao tamanho da tragédia.
Suspeito de que o generoso governante quereria
dispensar Sócrates por mais quatro anos...