A Vingança é um Prato que se Come Frio

Incerta foi sempre a condição de cometa. Quem não se
lembra, em criança, ou já graúdo, de ouvir dizer que formular
um desejo quando se avista uma estrela cadente favorece a
sua consecução? Por outro lado, Simon Schaffer informa-nos
no estudo «Os Cometas e o Fim do Mundo», inserto em obra
colectiva, da crença que grassou, no Século IX, de que era mau
agoiro a passagem de um cometa; e que uma dessas ocasiões
precedeu de perto a morte do Imperador.
No "estúpido Século XIX" , por outro lado, época de cientismo
avassalador, conviveu com a espalhada e antiquíssima preocupação,
então sobretudo a propósito do «Halley», de que um cometa viesse
a embater contra a Terra.
E uma vez entrados na XXI Centúria da nossa era, o quadro é o oposto.
Compete ao próprio homem a iniciativa de fazer colidir contra um cometa
um corpo estranho, na circunstância uma sonda do tamanho de uma pobre
máquina de lavar roupa. Em vez dos agónicos berros de pavor de outrora
perante a aterradora proximidade do Fim, ouvimos os quase orgíacos
gritos de prazer e triunfo dos cientistas da NASA.
Ou como uma inversão de papéis pode acarretar o exorcismo dos nossos
medos.