O Significado da Palma

Não sei se terei algum Leitor Muçulmano. Mas se um
semelhante Ser existir, é bem-vindo, se entender dar
a todos os visitantes do «Misantropo» precisões sobre
os artigos da sua Fé.
Posto isto, vamos à vaca fria. Despertei-me para a
oportunidade desta especulação, após ter ouvido as
notícias que nos dão conta de haverem os sanguinolentos
massacres de Londres sido perpetrados por suicidas.
Sabendo-se que a Sharia proíbe expressamente o assassínio
contra si, qualificando-o até como o pior dos actos, tem
vindo a ser elaborada por alguns exegetas extremistas a
teoria legitimadora que considera não serem esses suicídios
...suicídios. A base da conclusão funda-se no facto de que
o suicida, «por definição, não quer levar ninguém com ele,
mas apenas pôr fim à sua carreira neste mundo». Tratar-se-ia,
no caso dos bombistas britãnicos, de homicidas.
Estes homicídios seriam por sua vez justificados através de
uma interpretação extensiva do preceito do Texto Sagrado dos
maometanos que promete a Recompensa Divina a quem morra,
combatendo na guerra, os inimigos do Islão.
O óbice que eu levanto a esta construção doutrinal - que está
longe de ser unânine entre os Fieis de Allah, assenta não na
impugnação da interpretação do conceito de suicídio, mas no
significado lógico do vocábulo «Martírio».
É que não se vê, pelo menos numa acepção influenciada pela
tradição lógica ocidental, como possa um mártir ascender a tão
recompensante estatuto, quando o seu sofrimento seja infligido
pelas próprias mãos. Teria , por definição, de ter sido ou
maltratado ou morto por outrem.
Para além desta objecção, ainda merece inquérito a questão que
um crente da Religião de Mahomé, António Barahona, enunciou,
num estudo publicado na revista «Communio» Nº 6 Novembro/Dezembro
1994, sobre o dual conceito islâmico da Guerra Santa e uma
consequente superioridade da «grande guerra santa (al jihadul-
-abkar)», interior e espiritual, sobre a «pequena guerra santa (al
jihadul-açghar)», de ordem social e exterior.
Seria este o pensamento profundo do Profeta, o qual, diga-se por
curiosidade, teria sido tentado pelo suicídio e impedido de se
atirar do alto das montanhas pelo equivalente muçulmano do anjo
Gabriel, que lhe teria feito ver que lhe faltava cumprir o seu
destino de Pregador da Fé. E, pelo menos nessa altura, não se
ouviu do Angélico Espírito o apelo a outro tipo de combate.
Mas há homens que querem ser mais angélicos que os Anjos. E
escolhem tristes meios.