Leitura Matinal -65
É tremendo debitar bitaites sobre a clareza
na literatura, pois teremos que ter presente
que o que para uns é tão límpido como as
menos poluídas águas, para os outros constitui
treva impossível de alumiar. Daí que Paul Valéry
tenha estabelecido que «falando de clareza em
matéria literária, dois pontos há a considerar; a
coisa escrita e o ser que lê; e o segundo raramente
se culpa a si próprio»...
O que me parece seguro rejeitar é a colocação da
obscuridade num pedestal, a sua promoção a qualidade
de per se, como se poderia deduzir, talvez abusivamente,
da frase de Agustina «A clareza é um subterfúgio do
vazio».
Onde topamos com terreno firme para um ataque em devida
forma é nos casos em que a se recorre à ambiguidade, à
ostentação de subentendidos e alusões veladas, de jargão
pretensamente impenetrável ou a construções sibilinas, no
fito de se fazer pensar como espirituoso ou sabedor.
Como, no Século XVI, via François de Maynard, ainda posto
na lusa fala por A. Herculano de Carvalho, no divertido
epigrama:
(EPIGRAMME III)
Nada escreve a tua pena
Que de mil véus não se cubra,
Teus dizeres são noite negra
De lua e estrelas viúva.
Amigo meu, deita fora
Essa retórica horrenda,
Bem precisa a tua obra
Dum adivinho que a entenda.
Se o teu espírito pede
Que ocultes seu génio imenso,
Dize-me lá: quem te impede
De te servires do silêncio?
na literatura, pois teremos que ter presente
que o que para uns é tão límpido como as
menos poluídas águas, para os outros constitui
treva impossível de alumiar. Daí que Paul Valéry
tenha estabelecido que «falando de clareza em
matéria literária, dois pontos há a considerar; a
coisa escrita e o ser que lê; e o segundo raramente
se culpa a si próprio»...
O que me parece seguro rejeitar é a colocação da
obscuridade num pedestal, a sua promoção a qualidade
de per se, como se poderia deduzir, talvez abusivamente,
da frase de Agustina «A clareza é um subterfúgio do
vazio».
Onde topamos com terreno firme para um ataque em devida
forma é nos casos em que a se recorre à ambiguidade, à
ostentação de subentendidos e alusões veladas, de jargão
pretensamente impenetrável ou a construções sibilinas, no
fito de se fazer pensar como espirituoso ou sabedor.
Como, no Século XVI, via François de Maynard, ainda posto
na lusa fala por A. Herculano de Carvalho, no divertido
epigrama:
(EPIGRAMME III)
Nada escreve a tua pena
Que de mil véus não se cubra,
Teus dizeres são noite negra
De lua e estrelas viúva.
Amigo meu, deita fora
Essa retórica horrenda,
Bem precisa a tua obra
Dum adivinho que a entenda.
Se o teu espírito pede
Que ocultes seu génio imenso,
Dize-me lá: quem te impede
De te servires do silêncio?
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