Leitura Matinal -39
Numa feirazita de velharias que costumo frequentar aos Domingos
encontrei ontem um exemplar do «Anel de Sete Pedras», de Natércia
Freire. Passando por lá os olhos, detive-me num poema que pode bem
constituir mais uma achega na ilustração das relações entre o Sujeito
e o Mundo, bem assim como das suas restrições, físicas ou emotivas.
Os versos são bons:
O SILÊNCIO DO MUNDO
Entorno os olhos numa luz sem estrada
e resgato de névoas o meu espanto.
O silêncio do Mundo cresce em asas
e o momento de agora não tem som.
É transparente a esfera em que flutuo
e leve e azul como a paixão da lua.
Contorno os montes altos no perfil
da claridade azul que me flutua.
Não sou de luz e queixo-me da Terra.
De mim e em mim, a queixa ganha altura.
Cantigas de ontem! Era o rio, o vento,
e as águas me enlevam de verdura.
Canto de cega pela noite fora
e sei ouvir as vozes dos romeiros.
A casa é mesmo à beira do caminho
e os ecos dobram sons dias inteiros.
Quando encosto o ouvido ao pó do chão
o rumor cresce. - Eh remos! Eh nortadas!
Rasguem de longe os vossos nevoeiros!
Saibam todos que as portas estão fechadas!
Fechadas, sim! Que as fechei eu, sincera,
com dedos nús de pó e solidão.
Por isso este silêncio! Esta lonjura
ao espaço aberto! Este ruir assim!
Por isso, estrêlas: basta de promessas
aos quatro pontos cardeais de mim!
encontrei ontem um exemplar do «Anel de Sete Pedras», de Natércia
Freire. Passando por lá os olhos, detive-me num poema que pode bem
constituir mais uma achega na ilustração das relações entre o Sujeito
e o Mundo, bem assim como das suas restrições, físicas ou emotivas.
Os versos são bons:
O SILÊNCIO DO MUNDO
Entorno os olhos numa luz sem estrada
e resgato de névoas o meu espanto.
O silêncio do Mundo cresce em asas
e o momento de agora não tem som.
É transparente a esfera em que flutuo
e leve e azul como a paixão da lua.
Contorno os montes altos no perfil
da claridade azul que me flutua.
Não sou de luz e queixo-me da Terra.
De mim e em mim, a queixa ganha altura.
Cantigas de ontem! Era o rio, o vento,
e as águas me enlevam de verdura.
Canto de cega pela noite fora
e sei ouvir as vozes dos romeiros.
A casa é mesmo à beira do caminho
e os ecos dobram sons dias inteiros.
Quando encosto o ouvido ao pó do chão
o rumor cresce. - Eh remos! Eh nortadas!
Rasguem de longe os vossos nevoeiros!
Saibam todos que as portas estão fechadas!
Fechadas, sim! Que as fechei eu, sincera,
com dedos nús de pó e solidão.
Por isso este silêncio! Esta lonjura
ao espaço aberto! Este ruir assim!
Por isso, estrêlas: basta de promessas
aos quatro pontos cardeais de mim!
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