Leitura Matinal -36
Uma das mais contundentes críticas que conheço
à hostilidade rotineira e recíproca gerada pelos
habitantes das grandes cidades contemporâneas,
encerrados no seu egoísmo, foi dada à luz pelo
grande estadista judaico-britânico Benjamin
Disraeli. Comentando o Preceito Evangélico «Ama
o teu Próximo como a ti mesmo», o futuro Lord
Beaconsfield deixou cair: «Porém, nas metrópoles
de hoje ninguém sabe quem é o seu próximo».
Esta queda abrupta das solidariedades pessoais sem
o fatal artificialismo das campanhas, só terá conhecido,
no Século XX, uma relevante excepção - a camaradagem
dos combatentes na frente. Sabe-se como um romance
pacifista como «A Oeste Nada de novo», de Remarke, teve
o efeito contrário ao pretendido, "militarizando" os
sentimentos da juventude alemã de entre as duas guerras,
ao oferecer-lhe um quadro de afectos retribuídos que
lhes era desconhecido na vida civil. E, por vezes, o
respeito mútuo de antigos inimigos que se tinham
combatido esteve na génese de amizades autênticas, como
E. Juenger e Drieu, que chegaram nos anos 40´s à amistosa
conclusão de que, em 1916-17, poderiam ter trocado uns
tiros, dado o posicionamento das respectivas unidades,
uma frente à outra.
Também nos nossos veteranos da Guerra de África, por muito
integrados que se encontrem, tenho observado a força dos laços
que os prendem a antigos camaradas de guerra, muito superiores
aos dos ex-colegas de escola, salvo aqueles que as escolhas
individuais guindam à esfera amical.
Bela ilustração de como as comunhões no campo de batalha afastam
as perspectivas de exclusão é, de Rodrigo Emílio:
IRMÃO D´ARMAS
1.
O negro, aqui a meu lado,
À flor deste chão sagrado,
Arma aperrada na mão,
Coroado,
Orvalhado (como eu) de imensidão,
E tão a mim aferrado
Em solidária
Solidão
- Não é negro negregado
mas soldado, meu irmão.
2.
Morrermos no mesmo dia
Irmos por ermos irmão
Que onde antes havia
Onde sempre amanhecia
Sol no céu da solidão
Já só álgida nostalgia
Voa virada ao Verão
A apontar toda a apatia
Em que as estátuas estão.
Morrermos no mesmo dia
Pedras do mesmo padrão
Todo o condão e a magia
Toda a magia da acção
Gerando a interior geografia
De mapas sem dimensão.
Morrermos no mesmo dia
Noivos do mesmo nevão
Solidão por companhia
Manhã d`armas meu irmão!
à hostilidade rotineira e recíproca gerada pelos
habitantes das grandes cidades contemporâneas,
encerrados no seu egoísmo, foi dada à luz pelo
grande estadista judaico-britânico Benjamin
Disraeli. Comentando o Preceito Evangélico «Ama
o teu Próximo como a ti mesmo», o futuro Lord
Beaconsfield deixou cair: «Porém, nas metrópoles
de hoje ninguém sabe quem é o seu próximo».
Esta queda abrupta das solidariedades pessoais sem
o fatal artificialismo das campanhas, só terá conhecido,
no Século XX, uma relevante excepção - a camaradagem
dos combatentes na frente. Sabe-se como um romance
pacifista como «A Oeste Nada de novo», de Remarke, teve
o efeito contrário ao pretendido, "militarizando" os
sentimentos da juventude alemã de entre as duas guerras,
ao oferecer-lhe um quadro de afectos retribuídos que
lhes era desconhecido na vida civil. E, por vezes, o
respeito mútuo de antigos inimigos que se tinham
combatido esteve na génese de amizades autênticas, como
E. Juenger e Drieu, que chegaram nos anos 40´s à amistosa
conclusão de que, em 1916-17, poderiam ter trocado uns
tiros, dado o posicionamento das respectivas unidades,
uma frente à outra.
Também nos nossos veteranos da Guerra de África, por muito
integrados que se encontrem, tenho observado a força dos laços
que os prendem a antigos camaradas de guerra, muito superiores
aos dos ex-colegas de escola, salvo aqueles que as escolhas
individuais guindam à esfera amical.
Bela ilustração de como as comunhões no campo de batalha afastam
as perspectivas de exclusão é, de Rodrigo Emílio:
IRMÃO D´ARMAS
1.
O negro, aqui a meu lado,
À flor deste chão sagrado,
Arma aperrada na mão,
Coroado,
Orvalhado (como eu) de imensidão,
E tão a mim aferrado
Em solidária
Solidão
- Não é negro negregado
mas soldado, meu irmão.
2.
Morrermos no mesmo dia
Irmos por ermos irmão
Que onde antes havia
Onde sempre amanhecia
Sol no céu da solidão
Já só álgida nostalgia
Voa virada ao Verão
A apontar toda a apatia
Em que as estátuas estão.
Morrermos no mesmo dia
Pedras do mesmo padrão
Todo o condão e a magia
Toda a magia da acção
Gerando a interior geografia
De mapas sem dimensão.
Morrermos no mesmo dia
Noivos do mesmo nevão
Solidão por companhia
Manhã d`armas meu irmão!
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