Leitura Matinal -29
A lucidez advém do reconhecimento da medida real
de todas as coisas. E a mais difícil parte dessa
clarividência reside em conter o conceito que se
faz da espécie humana nos justos limites que são
os seus. Não peço já que se chegue ao requinte de
lhe considerar como superior a sua congénere felina,
cinjo-me a exortar o meu semelhante a não deificar
o grupo biológico em que calhou pertencer.
Já os gregos antigos proscreviam o orgulho do homem
que se queria igual aos Deuses. E o «conhece-te a ti
mesmo», quer na originária formulação de Quilon de
Esparta, quer na sua trasladação para lema do oráculo
de Delfos, ia nesse sentido. Só com a subversão socrática-
- do antigo, do mestre de Platão - é que ganhou uma
valência de alguma forma inversa, passando a consistir
num passo impulsionador de autosuficiência.
Sobre o tema, escreveu Goethe, com o ziguezagueio habitual
servido por uma forma límpida e estimável; na versão de
Paulo Quintela:
LIMITES DA HUMANIDADE
Quando o antiquíssimo
Pai sagrado
Com mão impassível
De nuvens troantes
Semeia sobre a Terra
Relâmpagos de bênção,
Beijo eu a última
Fímbria da sua túnica,
Temor filial
Fiel no peito.
Pois com Deuses
Não deve medir-se
Homem nenhum!
Ergue-se ele ao alto
Até tocar
Co´a cabeça os astros,
Nenhures se prendem
Os pés incertos,
E com ele brincam
Nuvens e ventos.
E se está com ossos
De rijo tutano
Sobre a Terra Firme,
Inabalável,
Nem sequer chega
A poder comparar-se
Com o carvalho
Ou com a vide.
O que é que distingue
Os Deuses dos homens?
Que muitas vagas
Ante aqueles vagueiam,
Eterna torrente:
A nós ergue-nos a vaga,
Traga-nos a vaga,
E vamos para o fundo.
Um estreito anel
Nos limita a vida,
E muitas gerações
Se alinham constantes
À cadeia infinda
Do seu existir.
de todas as coisas. E a mais difícil parte dessa
clarividência reside em conter o conceito que se
faz da espécie humana nos justos limites que são
os seus. Não peço já que se chegue ao requinte de
lhe considerar como superior a sua congénere felina,
cinjo-me a exortar o meu semelhante a não deificar
o grupo biológico em que calhou pertencer.
Já os gregos antigos proscreviam o orgulho do homem
que se queria igual aos Deuses. E o «conhece-te a ti
mesmo», quer na originária formulação de Quilon de
Esparta, quer na sua trasladação para lema do oráculo
de Delfos, ia nesse sentido. Só com a subversão socrática-
- do antigo, do mestre de Platão - é que ganhou uma
valência de alguma forma inversa, passando a consistir
num passo impulsionador de autosuficiência.
Sobre o tema, escreveu Goethe, com o ziguezagueio habitual
servido por uma forma límpida e estimável; na versão de
Paulo Quintela:
LIMITES DA HUMANIDADE
Quando o antiquíssimo
Pai sagrado
Com mão impassível
De nuvens troantes
Semeia sobre a Terra
Relâmpagos de bênção,
Beijo eu a última
Fímbria da sua túnica,
Temor filial
Fiel no peito.
Pois com Deuses
Não deve medir-se
Homem nenhum!
Ergue-se ele ao alto
Até tocar
Co´a cabeça os astros,
Nenhures se prendem
Os pés incertos,
E com ele brincam
Nuvens e ventos.
E se está com ossos
De rijo tutano
Sobre a Terra Firme,
Inabalável,
Nem sequer chega
A poder comparar-se
Com o carvalho
Ou com a vide.
O que é que distingue
Os Deuses dos homens?
Que muitas vagas
Ante aqueles vagueiam,
Eterna torrente:
A nós ergue-nos a vaga,
Traga-nos a vaga,
E vamos para o fundo.
Um estreito anel
Nos limita a vida,
E muitas gerações
Se alinham constantes
À cadeia infinda
Do seu existir.
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