A Grande Mentira
O vendaval que se abateu sobre a Hungria, a propósito da colocação no ar de uma cassette em que o Primeiro-Ministro reconhecia ter mentido descaradamente sobre a situação económica do País para ganhar as últimas eleições, só é interessante pelo estudo do cálculo psicológico que proporciona. Com efeito, a mentira é parte essencial de um sistema de eleições. Quem quer muito obter o voto dos outros, tenderá a mentir sobre o Futuro, prometendo o que não pode e sobre o Passado e "Presente", dourando as realizações. Salvo numa confiança de longa data com a comunidade - que não deverá ser grande - e em que inexista uma Imprensa forte sob controlo alheio, o político que em Democracia não minta está condenado a ser reformado, como uma liderança fraca, de tal forma a simples honstidade é secundarizada.
O que dá algum interesse ao caso é que tenha sido o próprio aldrabão confesso a originar a fuga sobre a sua falta à verdade. Deve ter pensado que o reconhecimento arrependido do acto lhe poderia trazer ganhos, por comparação entre o político que mentiu uma vez e os que mentem continuadamente, negando que alguma vez o tenham feito. A violência da reacção parece, porém, provar um erro de cálculo: as pessoas terão pensado que quem mente uma vez mente sempre. E que ele o estará a fazer quanto ao arrependimento. É que ninguém gosta de se ver na praça pública como tendo sido enganado e a fúria resultante até dá para recair sobre os meros meios em vez de atingir os protegidos culpados. Donde, invade-se uma televisão.
O que dá algum interesse ao caso é que tenha sido o próprio aldrabão confesso a originar a fuga sobre a sua falta à verdade. Deve ter pensado que o reconhecimento arrependido do acto lhe poderia trazer ganhos, por comparação entre o político que mentiu uma vez e os que mentem continuadamente, negando que alguma vez o tenham feito. A violência da reacção parece, porém, provar um erro de cálculo: as pessoas terão pensado que quem mente uma vez mente sempre. E que ele o estará a fazer quanto ao arrependimento. É que ninguém gosta de se ver na praça pública como tendo sido enganado e a fúria resultante até dá para recair sobre os meros meios em vez de atingir os protegidos culpados. Donde, invade-se uma televisão.
4 Comments:
At 9:55 AM, Anonymous said…
Pois é, Caríssimo, de há uns bons anos a esta parte, parece-me que a maior parte dos governos (?) da nossa Terrinha (refiro-me ao planeta) têm vindo a aplicar exclusivamente a consagrada política de «gestão da mentira».
Por isso mesmo é que, em vez de tomar as versões oficiais com «granus salis», passei a considerá-las como as versões menos fiáveis de todas, apenas com o interesse de poderem revelar as verdadeiras intenções do embuste.
E o mesmo creio poder aplicar-se à História dita oficial. Não foi o rei escocês Robert the Bruce que disse que «a História é escrita pelos que enforcam os heróis?»
Um grande abraço.
At 11:06 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Carlos Portugal:
De tal forma que começo a pensar se as pessoas não precisarã dos políticos mentirosos como dos árbitros incompetentes ou corruptos, para se aliviarem, invectivando-os.
Mas é triste quando é esta a normalidade.
Abraço apertado.
At 11:29 AM, Anonymous said…
Olá Paulo
E nós que conhecemos tão bem o que sente um enganado. O pior, é que não temos tido grandes alternativas: todos têm mentido.
Beijinho.
At 11:47 AM, Paulo Cunha Porto said…
Por isso digo Queridissima Amiga, que é uma fatalidade eleiçoeira. Por uma vez a culpa é (também) do sistema.
Beijinho.
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