A Bela e o Monstro

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Bela é adjectivo, mas também diminutivo de Isabel. E a primeira do nome que em Inglaterra reinou foi muito menos Mulher do que expressão da Política. Pergunta a MFBA, num «grão» sobre o Herdeiro do trono do Japão, se o Belo Sexo não é capaz de governar. Este ramo Dele foi-o, mas a que custo! Com Mãe executada e Irmãos que supostamente lhe pensariam fazer o mesmo, cresceu numa necessidade de dissimulação que se viria a reflectir na duplicidade da governação, muito mais atribuível à função do que ao género: devendo a Coroa a Filipe II de Espanha, contra ele dirigiu toda a política externa do seu Reinado, chegando ao ponto pré-richelieuiano de apoiar os protestantes holandeses; abocanhou alegremente a parte do saque que os seus grandes corsários rapinavam de navios espanhóis e portugueses, enquanto dizia condenar os seus autores à forca; estabeleceu o anglicanismo numa feição de meio-termo entre os protestantes e os católicos em luta, não sem que, no fim, tenha insistido em levar a caça aos últimos a extremos de macabro registo. Coleccinou favoritos cuja proximidade, favor e queda dão emprego aos historiadores que pretendem desafiar o seu oficioso cognome de Rainha Virgem; no caso de Essex, terá praticado alegremente a pedofilia hoje na moda, ressuscitando os hábitos atávicos de decepar a cabeça que compartilhava o travesseiro; desenhou dois modelos de vestidos obrigatórios na Corte, um para as solteiras que deixava os seios quase inteiramente descobertos, outro para as casadas, que adoptou, cuja gola subia até ao queixo. E toda esta desumanização que a transformava em monstruosa face do Poder teria obtido inteira satisfação interior? É questão de interpretar as derradeiras palavras que proferiu: «Todo o meu reino por mais um minuto» tanto poderia significar que ainda sentia ter obrigações de Estado para cumprir, como o desejo de, ao menos por um breve instante, procurar viver, verdadeiramente. Mas, seja como for, uma alma que não passou com tranquilidade.

Nascida a 7 de Setembro.