A Pompa da Circunstância
Publicou o Jansenista um excelente post em que punha em relevo a diferença que encontra entre as benesses do poder como insígnias do mesmo em França - e nos pobres fidelíssimos seguidores dos seus vícios -, por um lado, e na simplicidade e austeridade escandinavas, por outro. Em abstracto, a minha posição quanto à pompa e aos privilégios que dela derivam é ambígua. Sei que é a ingénua maneira de impressionar muitos espíritos e de os fazer ligar uma certa fidelidade a quem ocupa os cargos elevados. Pelo que a bondade ou malignidade da coisa residirá no ideal e nas pessoas que ocupem os lugares de decisão. E não esqueço que a Religião Católica perdeu a Rússia e se perdeu para ela porque um Príncipe de Moscovo considerou os Ritos muito pobres quando comparados com os dos ortodoxos. Tudo estará pois na qualidade dos titulares, ou na falta dela. Seja na aceitação do costume e da forma, sem imposição da outra vaidade que é o desprezo da renúncia a eles, ou no seu contrário, a avidez com que se reivindica ou aspira a mais e melhor, que julgo ser o que repugna ao Nosso Amigo e deverá repugnar a qualquer pessoa decente. E para quem julgue estar na Monarquia a vaidade do luxo e da solenidade, desngane-se, ao menos no que eles comportem de indigno. Com característico arrivismo, ninguém mais do que a República Francesa ou a Federação Americana se rodeia de rituais que pretendem legitimadores, simplesmente inquinados, à partida, pela ruptura com a tradição.
Quanto à diferença entre os políticos dessas origens e um Grande Rei, D. Pedro V, veja-se a carta dirigida ao Seu Ajudante de Campo, José Jorge Loureiro e por Mendes dos Remédios publicada:
«Sei que o dia d´annos do Mano Fernando foi festejado com illuminação no quartel de Caçadores Nº 5. Peço-lhe que em meu nome, faça conhecer aos commandantes de Corpos que dispenso quaesquer festejos que tenham por objecto obsequio á familia Real, porque não posso acceitar obsequio que redunde em prejuizo para os soldados, ou em vexame para os officiais. Desculpe esta massada extemporanea. Veio-me porém isto agora á cabeça, e antes que me esqueça, julguei dever escrever-lhe. Creia-me sempre seu muito affeiçoado e sincero amogo -D. Pedro -Cintra, I de Agosto de 1856».
Um Rei, pondo à frente dos Seus Interesses os dos Seus súbditos. Tal qual como os políticos que conhecemos...
3 Comments:
At 6:25 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
É muito possível que seja o mesmo. Lembro-me de ter lido um passo com essa informação. O volume de onde a transcrevi é: «CARTAS INÉDITAS DE D. PEDRO V», F. França Amado, Coimbra, 1903.
E quanto ao outro assunto? Não há meio?
At 10:45 PM, Jansenista said…
Obrigado pela referência! E o seu alvará de admissão já está emitido e afixado lá no Ashram!
At 9:10 AM, Paulo Cunha Porto said…
Isto é que é uma bela maneira de começar o dia. Vou já ter com esse magnífico certificado.
Grande abraço.
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