O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Thursday, January 26, 2006

Leitura Matinal -249

Sendo a escuridão uma das Dez Pragas lançadas sobre o Egipto, ainda hoje a Espécie Humana vive no infantil terror do escuro, pela infantilidade
de imaginar as ameaças que perto de si não estão, abstraindo das reais que a rodeiam. Fogachos aqui e ali aumentam a confusão interior e, o que é pior, dificultam a limpidez nas opções e na subordinação à Ética, porque esquecida a Mensagem indicadora do Caminho. Só pela persistente conformação com os ditames do Bem,
acompanhada pela invocação, se encontrará alimento espiritual que garanta a subsistência e venha a permitir o gozo da Claridade com que consigamos a vencer a claustrofobia fictícia que criámos, recuperando a consciência da vastidão do Espaço onde nos movemos, tal como da sequência dos actos necessários à
nossa evolução nele. Com os olhos capazes de contemplar a paisagem em extensão prolongada, estamos, finalmente aptos a distinguir o Horizonte para onde, chegado o momento, nos sentimos impelidos a caminhar. A partir do acidente vital que dê o tiro de partida iniciamos a fase final da caminhada, que, sem o sabermos já vínhamos preparando. Para o Alto, desde que tenhamos sido capazes de resistir ao engano das sombras e de descortinar o sentido certo.
De Eduardo Guerra Carneiro:

Não temas por isto vir apenas
aos soluços. Claridade se fará mais tarde
para saberes então distinguir
o carreiro certo, o penedo, o fio
de água, o campo aberto,
o lugar para a árvore.

Luminoso descerá então o disco,
do negrume celeste, vindo de súbito
trazer-nos a necessária voz
que perdida julgávamos. Harmonia
de um espaço recuperado. Viagem
há milénios preparada para ti.

Abrem-se as portas: vai!
O Céu não pode esperar.


Anexos: «A Praga da Escuridão», de Doré,
e duas versões de «Iluminado», uma de Christine
Gwen e fotografia de Autor desconhecido.

6 Comments:

  • At 1:57 PM, Blogger Viajante said…

    Ah, e a ambiguidade dos faróis dispersos, que nem o são (curioso, podem ser «fogachos» tidos como guias?) e aumentam a confusão, como noa dágio de quem nem tudo o que luz, é oiro...
    "aptos a distinguir o Horizonte para onde, chegado o momento, nos sentimos impelidos a caminhar."
    Ainda que sabendo que a Linha de horizonte vai deixando de o ser, e quando chegamos perto do horizonte de ontem, um outro horizonte nos espera adiante, que aquele já não o é, pois que "alcançado".
    Por isso, a recomendação «Para o Alto», apelativa de elevação, pode ser invocatória de caminho e de Viagem, na certeza de que o Horizonte é uma esperança de finalidade. Já é bom que se descortine, depois de tantas passadas preparatórias, e por isso apaixonam as metáforas da Luz.

    Beijo, sem temor das sombras, antes certa que mais nos acompanham quanto mais distantes da luz :)
    (sim, parafraseio Goethe).

     
  • At 2:09 PM, Blogger João Villalobos said…

    Depois destas palavras da viajante, resta-me o elogio sem adjectivos deste poste e do anterior, o do Caminho Interrompido. Belíssimos ambos, porque ambos o mesmo caminho. Um exterior, outro interior, que se sobrepõem e por isso se encontram...Abraço

     
  • At 2:18 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado Amigo Meu. Com esta nota de apreço do «Prosador que a "Blogosfera" consagrou» respiro, tomo fôlego e sigo em frente.
    Bem hajas.

     
  • At 2:50 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    À Viajante:
    Pergunto-me se o Demo não me queria pregar a partida de privar-me das Vossas palavras. O João via-As e, por qualquer razão que me escapa, não apareciam na minha consulta.
    Subscrevo tudo o que dizeis, até porque já assentámos ambbos que o mais importante é a procura. E transpostas as Portas, quem poderá garantir que para Lá não nos será revelada como perfeição a própria Busca, transmutada em qualidade não sucessiva, num ambiente em que a temporalidade está abolida?
    Sempre para Mais Alto, embora seja difícil conceber Altura maior que o Vosso Comentário e o Vosso Beijo.

     
  • At 6:21 PM, Anonymous Anonymous said…

    Esta poesía es preciosa. No conocía al autor.
    Rafael Castela Santos

     
  • At 7:21 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Amigo Rafael. Tinha pensado em Si, ao publicá-la.
    Abraço.

     

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