Leitura Matinal -207
Tenho, desde há muito, o Gato por sinal e climax da Perfeição. Tem a capacidade de fruir que nos falta,
sem a inquietação proveniente das mediocridades, como das superioridades pensadas. É na assunção da Espera, sem sobressaltos, na concentração no que está fora de seu ser e que deseja, que vai compondo a sua própria felicidade, esse bem tão raro nos humanos e tão consumidor deles. Pois tão inibidos ficam, graças às perturbações que se inventam, para tornar um pouco mais interessantes as aparências respectivas, na tentativa de enganarem os outros e de se enganarem a si, que, eternamente suspensos desse resultado,
vêem embotada a sua capacidade de agarrar as presas que verdadeiramente importam, sem as deixar escapar, ou, no caso de o conseguirem. sem com elas se contentarem. De igual forma, alternativamente, se privam, sem consciência, do encanto dos quadros exteriores, prenúncio fúnebre da insensibilidade ao encantamento do sentir. De todo o sentir.
Olhemos, na companhia de Paulo Ferreira Borges:
AS PAISAGENS INCONTEMPLÁVEIS
A paciência é um gato a engolir a tarde
num trago de ócio, esse casulo suspenso
sob a esteira das acácias onde o amarelo amadurece
aguardando, sabe-se lá que carta de destinos,
no sono circular das esperas e dos deslumbramentos.
Havia de me pertencer esse saber felino
de só pisar a erva no rasto seguro
e levitante dos instintos e dos pressentimentos.
Havia de cobiçar com tamanha agilidade,
o espólio da serenidade que só nos confins
dos seus olhares de vidro solar
se pode tomar quinhão.
Só com a paciência voltejante dos gatos
se podem beber as paisagens incontempláveis,
as que se movem do êxtase da água
para os domínios assombrosos do coração.
As imagens: «Um Gato», de Henriette Ronner-Knip
e «Serenidade», de Bi Wei.
sem a inquietação proveniente das mediocridades, como das superioridades pensadas. É na assunção da Espera, sem sobressaltos, na concentração no que está fora de seu ser e que deseja, que vai compondo a sua própria felicidade, esse bem tão raro nos humanos e tão consumidor deles. Pois tão inibidos ficam, graças às perturbações que se inventam, para tornar um pouco mais interessantes as aparências respectivas, na tentativa de enganarem os outros e de se enganarem a si, que, eternamente suspensos desse resultado,
vêem embotada a sua capacidade de agarrar as presas que verdadeiramente importam, sem as deixar escapar, ou, no caso de o conseguirem. sem com elas se contentarem. De igual forma, alternativamente, se privam, sem consciência, do encanto dos quadros exteriores, prenúncio fúnebre da insensibilidade ao encantamento do sentir. De todo o sentir.
Olhemos, na companhia de Paulo Ferreira Borges:
AS PAISAGENS INCONTEMPLÁVEIS
A paciência é um gato a engolir a tarde
num trago de ócio, esse casulo suspenso
sob a esteira das acácias onde o amarelo amadurece
aguardando, sabe-se lá que carta de destinos,
no sono circular das esperas e dos deslumbramentos.
Havia de me pertencer esse saber felino
de só pisar a erva no rasto seguro
e levitante dos instintos e dos pressentimentos.
Havia de cobiçar com tamanha agilidade,
o espólio da serenidade que só nos confins
dos seus olhares de vidro solar
se pode tomar quinhão.
Só com a paciência voltejante dos gatos
se podem beber as paisagens incontempláveis,
as que se movem do êxtase da água
para os domínios assombrosos do coração.
As imagens: «Um Gato», de Henriette Ronner-Knip
e «Serenidade», de Bi Wei.
1 Comments:
At 2:53 PM, João Villalobos said…
Cá está a tão esperada elegia dos felinos! O autor não refere o livrinho de rimas a eles dedicadas por T.S.Eliot, mas tanto esta obra como o bem sucedido musical Cats demonstram à saciedade como os gatos têm um dimensão plural (que raio quer isto dizer)na nossa vida de humanos.
Já quanto à foto, este tem pelo a mais para o meu gosto e ar de sonso arranhador de sofás!
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