Leitura Matinal -135
Seria bom que qualquer um, quanto mais sendo Poeta,
não confundisse "estímulo" com "estimulante". Não
que se queira policiar os assuntos, mas creio que
todos já vivemos a sensação de que as atmosferas
irreais vêm à pena, muitas vezes, para colmatar, com
o seu estranho apelo, as horas de sono da inspiração.
É o caminho mais fácil. A mais intangível manifestação
do talento, já nem digo da autenticidade, que, talentoso,
o artifício também compensa, patenteia-se no golpe de
asa que do que está perto faz uma sedução supra-individual.
Será pura habilidade de ver ou subtil fantasia que molda,
ao ponto de o ente cantado deixar de ser reconhecido por
olhos terra-a terra? Que importa? Ambas as fontes de criação
servem perfeitamente. Com a bem rara vantagem de do certo
e conhecido ser mais natural ter alguma coisa a dizer do
que do sonhado ou predito, em que boa parte da obra vive de
o descrever. Sem que seja impossível , longe disso, que de
realidades conhecidas também se caia na descrição cansativa,
que foi a norma de escolas literárias de triste memória. Em última
análise será a forma final que ditará a sua lei.
Como escreveu Sebastião da Gama:
Mundos fantásticos não.
Eu sou um pobre da Terra
e em reinos que não são seus
pode perder-se quem erra.
Só trago matos reais
só trago animais comuns,
nos versos, que não precisam
de imaginários debruns.
Fontes mansinhas, que pulsam
em ritmos iguais aos meus,
e luzes que são bem nossas
lá por nos virem de Deus.
Sou feliz assim, passando
entre estas coisas singelas
sem elas darem por mim,
e eu, que vivo de as olhar,
sem parecer dar por elas.
Ah!, não me falem de mundos
adivinhados, ausentes,
que lhes não posso mostrar:
sinto-me bem entre as coisas
que são da minha família
e me ensinaram a andar...
não confundisse "estímulo" com "estimulante". Não
que se queira policiar os assuntos, mas creio que
todos já vivemos a sensação de que as atmosferas
irreais vêm à pena, muitas vezes, para colmatar, com
o seu estranho apelo, as horas de sono da inspiração.
É o caminho mais fácil. A mais intangível manifestação
do talento, já nem digo da autenticidade, que, talentoso,
o artifício também compensa, patenteia-se no golpe de
asa que do que está perto faz uma sedução supra-individual.
Será pura habilidade de ver ou subtil fantasia que molda,
ao ponto de o ente cantado deixar de ser reconhecido por
olhos terra-a terra? Que importa? Ambas as fontes de criação
servem perfeitamente. Com a bem rara vantagem de do certo
e conhecido ser mais natural ter alguma coisa a dizer do
que do sonhado ou predito, em que boa parte da obra vive de
o descrever. Sem que seja impossível , longe disso, que de
realidades conhecidas também se caia na descrição cansativa,
que foi a norma de escolas literárias de triste memória. Em última
análise será a forma final que ditará a sua lei.
Como escreveu Sebastião da Gama:
Mundos fantásticos não.
Eu sou um pobre da Terra
e em reinos que não são seus
pode perder-se quem erra.
Só trago matos reais
só trago animais comuns,
nos versos, que não precisam
de imaginários debruns.
Fontes mansinhas, que pulsam
em ritmos iguais aos meus,
e luzes que são bem nossas
lá por nos virem de Deus.
Sou feliz assim, passando
entre estas coisas singelas
sem elas darem por mim,
e eu, que vivo de as olhar,
sem parecer dar por elas.
Ah!, não me falem de mundos
adivinhados, ausentes,
que lhes não posso mostrar:
sinto-me bem entre as coisas
que são da minha família
e me ensinaram a andar...
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