Leitura Matinal -133
Sabe o mais informado, pressente-o o mais ignaro:
um dos melhores meios de conseguir a cumplicidade
de um comum mortal é dizer mal de um terceiro. O seu
interlocutor, mesmo quando lhe repugne a detracção de
outrem sente, muitas vezes, a lisonja da partilha de
um juízo negativo que o exclui, pensa, de apanhar pela
mesma medida. Estas medíocres cumplicidades são, em
estado embrionário, o mesmíssimo truque a que qualquer
cabecilha clubista ou partidário recorre para pôr as
massas cegas pelo ódio atrás de si - citar o nome do
rival, apresentando-se como o único que, eficazmente,
será capaz de combatê-lo. O homem vulgar precisa de
um alvo e de um camarada para não se sentir só, pois
o que nos grandes é naturalidade e alívio, nos pigmeus
morais é o desespero de apenas lobrigarem o ínfimo, quer
dizer, a imagem que vêem reflectida no espelho.
Indignando-se com a prosperidade do maldizente, já um dos
nossos clássicos, António Ferreira, escrevia:
CONTRA O MALDIZENTE
Tu que com a língua feres, monstro és,
não animal. C´os dentes fere o cão,
co´a ponta o cervo: tu cervo não és.
O lião co´as unhas: tu não és lião.
E se lião, ou cão, ou cervo és:
se lião, vai-te onde os liões estão,
se cão, o mesmo lião te despedace,
se cervo, o mesmo cão te corra e cace.
um dos melhores meios de conseguir a cumplicidade
de um comum mortal é dizer mal de um terceiro. O seu
interlocutor, mesmo quando lhe repugne a detracção de
outrem sente, muitas vezes, a lisonja da partilha de
um juízo negativo que o exclui, pensa, de apanhar pela
mesma medida. Estas medíocres cumplicidades são, em
estado embrionário, o mesmíssimo truque a que qualquer
cabecilha clubista ou partidário recorre para pôr as
massas cegas pelo ódio atrás de si - citar o nome do
rival, apresentando-se como o único que, eficazmente,
será capaz de combatê-lo. O homem vulgar precisa de
um alvo e de um camarada para não se sentir só, pois
o que nos grandes é naturalidade e alívio, nos pigmeus
morais é o desespero de apenas lobrigarem o ínfimo, quer
dizer, a imagem que vêem reflectida no espelho.
Indignando-se com a prosperidade do maldizente, já um dos
nossos clássicos, António Ferreira, escrevia:
CONTRA O MALDIZENTE
Tu que com a língua feres, monstro és,
não animal. C´os dentes fere o cão,
co´a ponta o cervo: tu cervo não és.
O lião co´as unhas: tu não és lião.
E se lião, ou cão, ou cervo és:
se lião, vai-te onde os liões estão,
se cão, o mesmo lião te despedace,
se cervo, o mesmo cão te corra e cace.
4 Comments:
At 10:59 AM, Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes said…
Mas que post belo adorei, parabéns.
At 12:14 PM, Paulo Cunha Porto said…
Muito obrigado, Adryka. Ainda bem que agradou. Já no tempo do António Ferreira...
At 12:31 PM, Macro said…
Caro paulo,
tenho para mim que aquele que sistemática nunca critica o faz por dois motivos:
1) medo
2) falta de ideias
Ou ambas as coisas at the same time. JUlgo que a pior coisa num homem é ter críticas a fazer e não saber como fazê-lo. O meu lema é criticar, mas sempre de "mão dada", como diria o velho Agostinho da Silva. Mas sujeitos há, que de tão sabujos, não podemos dar a mão. O arberto da Madeira é um desses. Não sei se comunga desse esprit... Não raro as pessoas não afirmam o que pensam, a sua autenticidade com medo de desagradar a amigos ou coisa que o valha. Imagine que vcê tem muitos amigos que acham o tipo o máximo...O que diria?
Por isso,o melhor mmo é ser cão e leão, elefante às vezes, e até formiguinha outras. Mas nunca deixar de ser um animal racional, como diria o nosso amigo Aristóteles.
RM
At 8:53 PM, Paulo Cunha Porto said…
Claro. Mas crítica, como o Rui decerto concordará, é conceito bem afastado do de maledicência, ou não?
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