Apertos

Sempre recusei encarar a hipótese de me lançar em
responsabilidades políticas que excedessem a troca
de opiniões, entre outras razões, por o sempre incerto
encadeamento dos actos ser passível de me obrigar a
apertar a mão de sujeitos que não respeito.
Está, contudo, muito longe de ser essa a caracterização que
calha ao tão comentado caso da mão estendida recusada
pelo Prof. Carrilho, ou o nomeado não deveria ter aceite,
ab initio, o debate. Sobre o indivíduo, o Grande Manuel
Azinhal, com a eterna pontaria mortífera, já disse mais
do que o suficiente. Como, não obstante, o caso ocupou
tão grande número de blogues, vencerei a minha resistência
e enviar-vos-ei umas quantas linhas versando o evento.
Não tenho uma ideia nitidamente formada sobre o Eng.º
Carmona. Vi com benevolência o estoicismo e lealdade com
que aguentou as peripécias do regresso de Santana à Câmara,
mas isso é quase nada para avaliar um político.
Do outro, tenho, infelizmente, uma noção bem mais forte. Travei,
à distância, conhecimento com a personagem, há uns bons 18
ou 19 anos, ao assistir a comunicações que apresentou no
Instituto Alemão, em colóquios sobre Nietzsche e Schopenhauer,
ou num só deles, já não estou certo. Praticamente todos os
restantes conferencistas impressionavam pelo estudo que
pareciam ter feito dos seus temas. Este sugeria a ideia de ter
rabiscado uns apontamentos à pressa, na praia, de onde aparentava
acabar de sair.
Reencontrei-o como invenção do Eng.º Guterres para a pasta da
Cultura, empenhado numa propaganda pessoal descabelada, em que
parecia ser o primeiro a acreditar ser o Lang português. Que
chegaram à megalomania do esboço de uma candidatura autónoma,
sem para o cargo ter talento ou credibilidade. E, na presente
pré-campanha autárquica, só agravou a imagem, com o triste
episódio do aproveitamento da Familia. Também as propostas que
apresentou, de fragmentar Lisboa em múltiplas parcelas administrativas,
me pareceram cópia descarada e reduzida do que em Paris se fez, uns
anos atrás. Cuidado, muito cuidado, não vá esse esquartejamento
conduzir a uma multiplicação do volume da enxurrada burocrática.
Julgo, no entanto, que o PS fez a escolha ideal para a candidatura
à Capital: se ganhar, vibra com o triunfo; perdendo, há sempre a
secreta satisfação de ter aquele responsável.
Sou munícipe em Cascais, mas como passo grande parte do meu tempo
na grande Cidade, os seus destinos estão longe de me ser indiferentes.
Nunca votaria no filósofo para edil.
Pelo que entendo dever o Eng.º Carmona agradecer publicamente ao
adversário que lhe não aceitou a mão. Assim evitou o incómodo
de a desinfectar, de seguida.
Dixi.