Leitura Matinal -75

Que função reservamos para a fantasia? Alívio
do cansaço de nós? Decerto, como ampliação
momentânea do possível, com a eficácia da
medicina e o prestígio fascinante da magia, que
combate a saturação e o banal.
Compatível com a tecnologia? Porque não? Seja como
subversão ou aliada dela, oferece combinações de
presenças importantes no espírito contemporâneo.
E a iniciativa ou a passividade, o sentir ou o acto, sendo
factores arbitrários, bem como a mais que salutar harmonização
com as inspirações que nesta guerra bafejam os que nos
rodeiam, podem bem formar o cocktail que nos traga a
suportabilidade geral.
de Vasco Graça Moura,

a rosa púrpura do cairo

a locutora da televisão fascinava-o.
os vestidos que usava realçavam
o seu ar provocante. um dia ele
preparou uma cassette artesanal

com as melhores posições enlaçantes
que foi capaz de simular e quando
ela voltou a aparecer de vermelho
pôs o vídeo a trabalhar

e as duas figuras compuseram
a cena que se esperava. então
a mulher dele pousou o livro e disse
«escusavas de ficar tão concentrado,

isso é do género da rosa
púrpura do cairo». mas seria?
ainda não tinham visto o filme
de que os jornais falavam,

e achou que não devia
responder. exasperadamente
muita coisa também se faz assim,
na sobreposição das fantasias.