Leitura Matinal -55

«Os livros são amigos que não enganam»
Por muito que cultive a leitura, nunca tive
legitimidade para empregar esta citação, não
sei já de que obscuro Autor. Muito inferiores,
em número, aos seus colegas de papel, tenho,
contudo, a sorte inigualável de contar com
amizades de carne e osso de qualidade extra.
Ainda hoje conto almoçar com dois expoentes
dessa categoria. Mas, em tese geral, sobre as
delícias, os perigos e perversões da amizade,
que já na Grécia Antiga tinha dias em que era
denegrida e considerada «a sombra de uma sombra»,
escreveu Henrique O´Neill em 1887:

OS AMIGOS

Ha bem poucos amigos dos taes certos,
Dando copia de si em caso urgente;
Não nos fiemos pois em toda a gente
Risonha e de braços sempre abertos.

Assim, ha indifferentes encobertos,
Dedicados até, quando na frente;
Que, se voltamos costas ferram dente
E que ninguém encontra nos apertos.

De tu os ha que nada ou pouco prestam,
De negócios á parte, e os taes do figo,
E muitos que em segredo nos detestam.

E quantos de Peniche! Eis por que eu digo:
- «Estimemos os certos que nos restam;
Que os outros vale mais probo inimigo.»