Nem Bom Vento... Mas Assim Também Não!

Creio ter sido, há uns bons vinte e tal anitos, Miguel Esteves
Cardoso quem salientou que a usual expressão «até na vizinha
Espanha» visava remeter para uma coisa "rasca" que, todavia,
nalguns domínios concretos, conseguia superar-nos. Os franceses
refinaram a prática. Para eles, por um fenómeno cuja explicação
deixo aos psicanalistas, o respeito por uma nação é inseparável
do carácter feminino desta. É «la France et sa grandeur». São os
rivais L`Allemagne, l`Italie, la Russie. No caso do inimigo histórico,
l`Angleterre, o caso agudiza-se e até a alcunha vem no feminino:
a pérfida Albion. E nas raras vezes em que os Estados Unidos lhes
merecem referências positivas, vêm nomeados como «L`Amerique».
O masculino fica reservado para os pequenotes como le Luxemburg,
ou, ai de nós, le Portugal. A Tête de turc gaulesa até vê deformado
o género e, de «la Belgique», passa, inapelavelmente a «País dos
Belgas». E quanto à Espanha, pergunta o Leitor? Pois, calcule o
meu espanto quando, seguindo os debates pós-referendo, a vi quase
sempre crismada como «Notre voisin espagnol». E, a seguir, cascavam!