Leitura Matinal -155
Ao esvair-se a pujança vital, com o apagamento da acção
a que o nosso personagem habituou o Mundo, da libertação
forçada das companhias para cuja atenção cumpríamos os
preceitos da ética e em função das quais poderíamos
incorrer na culpa, fica a simplicidade terrível de uma nova
forma de pulsar, em que, sendo o cálculo substituído por
uma angústia que se tenta negar, é bem possível incorrer
num erro tremendo. A mais irreversível falta de pensar o
Poder como insensível ao amor, ou dele podendo prescindir,
desvio nefasto e supersticioso do conceito de Perfeição, que
deixa um amargo de boca onde seria perspectivável pura
alegria de nova vida, em alturas até então inacessíveis. Como
podem bem ilustrar os versos de Luis Cernuda, por José Bento
dados em português:
FIM DA APARÊNCIA
Sem querer desfizeste
Quanto minha vida era,
Menos o centro imóvel
Do existir: fundura
Fatal e insubornável.
Muitas vezes temia
Em mim e desejava
O fim dessa aparência
Que dá valor ao homem
Para o homem do mundo.
Mas se tu desfizeste
Tudo o que me emprestaste,
Dás-me assim outra vida;
E como ser primeiro,
Inocente, estou só
Com mim mesmo e contigo.
Aquele que dá a vida
A morte dá com ela.
Desprendido do mundo
Por teu amor, deixaste-me
Com vida e morte minhas.
Morrer parece fácil,
A vida é o mais difícil:
Já não sei mais que usá-la
Em ti, com este inútil
Trabalho de querer-te,
Que tu não necessitas.
a que o nosso personagem habituou o Mundo, da libertação
forçada das companhias para cuja atenção cumpríamos os
preceitos da ética e em função das quais poderíamos
incorrer na culpa, fica a simplicidade terrível de uma nova
forma de pulsar, em que, sendo o cálculo substituído por
uma angústia que se tenta negar, é bem possível incorrer
num erro tremendo. A mais irreversível falta de pensar o
Poder como insensível ao amor, ou dele podendo prescindir,
desvio nefasto e supersticioso do conceito de Perfeição, que
deixa um amargo de boca onde seria perspectivável pura
alegria de nova vida, em alturas até então inacessíveis. Como
podem bem ilustrar os versos de Luis Cernuda, por José Bento
dados em português:
FIM DA APARÊNCIA
Sem querer desfizeste
Quanto minha vida era,
Menos o centro imóvel
Do existir: fundura
Fatal e insubornável.
Muitas vezes temia
Em mim e desejava
O fim dessa aparência
Que dá valor ao homem
Para o homem do mundo.
Mas se tu desfizeste
Tudo o que me emprestaste,
Dás-me assim outra vida;
E como ser primeiro,
Inocente, estou só
Com mim mesmo e contigo.
Aquele que dá a vida
A morte dá com ela.
Desprendido do mundo
Por teu amor, deixaste-me
Com vida e morte minhas.
Morrer parece fácil,
A vida é o mais difícil:
Já não sei mais que usá-la
Em ti, com este inútil
Trabalho de querer-te,
Que tu não necessitas.
1 Comments:
At 9:04 PM, Anonymous said…
Logo posso ir almoçar.
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