O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, October 21, 2005

Cenas & Fitas

O Senhor Mahmoud Ahmadimjead, que com um tão
para nós impronunciável nome conseguiu ascender à
Presidência do Irão, quer proibir os filmes que promovam
ideias laicas, feministas, liberais, niilistas e que, publicitando
a imagem norte-americana, denigram a cultura oriental.
Nunca pensei sentir-me próximo do sentimento de um
leader revolucionário iraniano. Mas com importantes
diferenças e consequências. Se me desgosta a voga de que
goza a carga dos quatro anti-valores citados, não a vejo
como uma investida contra um espaço, mas sim, igualmente,
contra um tempo, na medida em que contrária aos grandes
fundamentos em que assentou a sociedade tradicional, no
Ocidente, também.
Ora se o ex-cúmplice do sequestro dos diplomatas americanos
em Teerão for para a frente com a sua sanha censória, equivalerá
a interditar o cinema, por terras da Pérsia, dado o predomínio que
a mentalidade por ele condenada tem em Hollywood e, por ruim
ricochete, na frágil indústria cinematográfica europeia.
O que nos traz de volta ao velho problema da autonomia artística.
Os revolucionários iranianos não lhe reconhecem alguma, frente
à sua interpretação religiosa. Por isso pensam o que nós nunca
pensaríamos: poder prescindir do cinema. Mas cuidado, é difícil
manter, como se viu com os dois antecessores no cargo, o
nível de represssão-propaganda. O que poderá provocar na
geração seguinte, uma vez afrouxadas a vigilância e a convicção,
por fúria contestatária ou sede de experimentar o fruto proibido,
a reversão temida.

4 Comments:

  • At 11:04 AM, Blogger Flávio Santos said…

    Não concordando de antemão com a intenção de Ahmadinejad, não deixo de ficar espantado com o teu euro-americano-centrismo: sem as películas ocidentais deixa de haver cinema??????? E logo o Irão, que tem uma produção de qualidade, aliás devidamente reconhecida no estrangeiro. E certamente muitas películas do Médio Oriente e Ásia lá serão exibidas.

     
  • At 11:14 AM, Blogger vs said…

    Então o 'Liberalismo' é um 'anti-valor'?!

    God help us!!!

    É um valor Ocidental, esteve sempre presente, pois é imanente aos povos da Europa.
    Como Ideia, o Liberalismo (as suas raízes) são bem antigas.
    Nem poderia tal ideia ter surgido em mais nenhum sítio a não ser no Ocidente.

    O Estado laico (diferente de laicista) é uma grande conquista do Ocidente.
    Até a Igreja Católica não condena o Liberalismo, apenas os seus excessos (Ratzinger dixit).

    Curiosamente, não existe no Ocidente um único Estado liberal.
    Portanto o Liberalismo apenas 'paira'.

    O Estado Laico (diferente de laicista) é uma grande conquista do Ocidente.
    Ainda não há muito tempo, em Roma, Bento XVI desatou aos encómios ao 'Estado Laico', consoderando-o qualquer coisa como 'uma conquista civilizacional'.

    As feministas são um grupo de matronas desprovidas de actividade sexual e vaginalmente ressabiadas.

    O niilismo?!
    O Nietzsche, coitado, acabou como acabou e, para cúmulo, lêem-no mal.

    Quanto ao Mahmoud Ahmadimjead e seu séquito de destrambelhados teocratas...bom...one way or the other...não durarão muito no 'poleiro'.
    Há muitas maneiras de os 'cozinhar' e, 'cozinheiros' não faltam.

     
  • At 11:36 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caríssimo FG Santos:
    Sabes bem que a grande produtora fílmica asiática é a Índia, o inimigo jurado do Islão e, hoje por hoje, o País em que o teu amigo W é mais popular, mesmo contabilizando o Texas. Agora, também sabes que, apesar das suas contínuas declarações de fidelidade, o Kiorastami é muito mal visto pela linha dura do regime. E não é para aí que a próxima fornada de juventude se voltará...

     
  • At 11:44 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Oh Nelson, então e os Tigres da Ásia? Serão sistemas socialistas? Claro que o Liberalismo é um anti-valor, já que foi propagandeado e defendido contra os alicerces milenares de uma civilização. Quanto a não haver, em estado puro em nenhum país, equivale a dizer que "o liberalismo bom é o que não existe". Com esta frase até concordo, mas suspeito que não coincidamos no que cada um põe por trás dela...
    Concedo de bom grado que sou, literalmente, mais papista que o Papa. No resto, de acordo.
    Um abraço.

     

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