O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, August 05, 2005

Leitura Matinal -78

Sob o signo do jogo e da sorte, cumpre revisitar
Jorge Luís Borges, que confessava algures a sua
aversão ao jogo, como pacato burguês que se gabava
de ser, alheio ao entretém que unificava os gostos
da plebe e da aristocracia.
Embora haja razões perceptíveis para fundar esta
covicção, hoje em dia a tentação de experimentar
o risco de uma pequena dose de acaso alargou-se.
Com o crescimento desenfreado das classes médias
as jogatinas não se safariam, confinadas aos seus
cultores tradicionais.
Sempre me interessou averiguar a razão que impele
alguém a apostar(-se). A aspiração a sentir-se
bafejado pelo capricho desse ente superior que é
a sorte, sem ter investido a essência monótona
de si que é o esforço, jogando, inversamente um
instante de excepção que é o palpite.
Da sorte e, para os mais terra-a-terra, do elemento
material, suas evidências ou evaporações, nasce a
mais frequente e obsidiante deformação mental que
conheço: o comparativismo que gera na esfera privada
a ostentação e a avareza, a inveja e a raiva surda e,
na coisa pública, o liberalismo dos que querem ter
mais do que e certos socialismos que pretendem ter tanto
como. Ignoram todos eles que não é esse o melhor pedaço
e que nada há de mais parecido com quem tem do que quem
não tem. A minha heroína será sempre a Deborah Kerr de
«A Noite do Iguana», de John Huston» e as suas
circunstâncias. Lembram-se Eurico e Mendo?
Sobre a confusão citada, de um ponto de vista não
necessariamente concordante, escreveu Jorge de Sena:

«O POUCO OU MUITO»

O pouco ou muito a diferença é pouca
todos temos pouco e só há quem tenha
além do pouco muito.

São poucos esses e a pouco e pouco
inexoravelmente são mais poucos
ante os muitos muitos.

E a diferença sendo pouca é muita.
Todos temos pouco muito então,
além do muito pouco.

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