O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, May 31, 2006

A Digestão Funesta

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Tempo de pôr na net uma versão actualizada de um mito maior: «Europa», do canadiano de origem catalã Jesus Carlos Vilallonga. Tem a grande vantagem de colocar a figura que denomina o nosso pobre continente no ventre do animal que simboliza a força. Para os que achavam que a versão clássica era igualmente aplicável, devo recordar que ela incluía uma adesão emotiva da própria, o que nesta é, de todo, irrelevante. Mas devo lembrar que se trata de um estádio intermédio. Já passámos pela dolorosa fase da mastigação. Sabeis o que se segue?

Uma Certa Ideia da Mulher

Vejo na primeira página da folha «METRO» que toda a gente lê, no comboio:
«HOMENS ESTÃO CADA VEZ "MAIS FEMININOS
Corro ao texto para ver se descubro alguma coisa de cuja existência não desconfiasse: eis a explicação - «Mais "maternais", exigentes, consumistas, vaidosos e sensíveis, os homens adoptam hoje - garante o estudo - actividades tradicionalmente consideradas exclusivas das mulheres, tirando prazer das suas novas "funções".».
A primeira coisa que me atormenta é a imagem que esta gente tem da feminilidade. A única característica das que citam que pode ser dada, sem reticências, como uma absoluta qualidade vem entre aspas e é a que é completamente inalcançável pelo universo masculino. Louvar o consumismo e a vaidade só pode ser brincar com as pessoas. E fazer o panegírico da exigência e da sensibilidade deve ser sempre acompanhado da reserva de que devem ser contidas em limites aceitáveis.
Seja como for, desconfio de que a maior parte das Mulheres, se forem como as que conheço, não se entusiasmarão muito com este novo homem.
Mas que querem? Vinda a construção de onde vem, só pode ser o verdadeiro conceito de "metrossexual".

Uma Emmanuelle Arrependida

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Depois de Krista Allen ter confessado o seu desgosto por haver aceite o papel que fora de Kristel, espera-se que as lágrimas vejam o seu lugar tomado por alternativas mais doces...

A Coerência

Finalmente um sistema partidário ocidental resolveu revelar ao público eleitor a essência do seu espírito. Um partido holandês está em vias de constituição para pressionar as autoridades a aceitar a legalização da pedofilia. Claro que por cá seria desnecessário, uma vez que, como fazem suspeitar as cabalas e as declarações da ex-coordenadora de combate ao crime, é perfeitamente possível aproveitar as cúpulas partidárias e investigatórias para uma tolerância de facto. Entre outras pérolas, há a reivindicação de os menores se poderem prostituir e de legalizar a zoofilia. Quanto à primeira, só posso entendê-la como uma oposição extrema ao sistema sueco, para que se faça a média e no meio se encontre a virtude, tanto quanto a palavra tenha cabimento em tal tema. Já a outra, parece-me medida de relevo, até para que as caras-metades dos leaders desse e de outros partidos não sejam vitimadas pelo estigma de fazerem sexo ilegalmente...
O nóvel movimento intitula-se Partido da Caridade, Liberdade e Diversidade. As duas últimas também são reivindicadas por muitos de cá. Mas tenho pena que se haja usurpado o nome de uma das Virtudes Teologais, apesar de reconhecer que o ponto a que a vida partidária chegou só é suportável a ela recorrendo.

Dez, Um Jogador de Sonho

Sempre tive boa impressão do grego Karagounis, apesar de o Sr. Koeman ter, reiteradamente, achado que era mais importante dizer bem dele, do que pô-lo a jogar. Até como pessoa, em que lhe via uma certa honestidade aplicada, sem passar das marcas, quer quando discutia com os árbitros, quer quando era substituído. Confirmo agora que também como Homem parece estimável, ao prontificar-se a ceder a camisola com o número dez a Rui Costa. Como ele diz, o número não é importante. Salvo para a mística desperta por um jogador que tão bem o envergou e para um público que guardou uma imagem a que tanto bem deseja.

A Precisão do Insulto

Quer a redundante humanidade a que nos escravizamos que, por vezes, não consigamos deixar de delirar com as invectivas dirigidas por alguém a outro, garantido que esteja que nos não toquem pela porta. Desde as mentes mais rudimentares, que com pouco se contentam, às mais elaboradas, como Jorge Luís Borges que escreveu um ensaio sobre a «Arte do Insulto». Cito de memória um dos que lá vêm transcritos, já que passa o essencial como acessório e, para os mais sagazes, potencia a carga negativa, por via da articulação: «Cavalheiro, A sua mãe, sob pretexto de trabalhar num bordel, trafica géneros de contrabando.
Ou a resposta, absolutamente esmagadora, sem discordância expressa ou acrescento de palavras, que Alfred de Vigny deu a uma vítima da prosperidade recente que massacrava toda a gente com a repetida reivindicação de se ter feito a si próprio: «Cher Monsieur, não é preciso culpar-se por isso».
Todavia, a minha preferida é a razão invocada por Ninon de Lenclos, para pôr a andar um amante insatisfatório: «ele tinha uma alma de carne cozida, um corpo de papel molhado e um coração como uma abóbora ensopada em neve». Devo dizer que não consigo - e julgo que ninguém conseguirá - fazer corresponder imageticamente, no sentido literal, estas rebuscadas figuras de estilo. Mas, por configurarem objectos que ninguém pensaria ver em tais funções, alimentam suficientemente a nossa sede de desconformidade ao ideal, correspondendo portanto ao que se espera do acto de insultar, alimento para a impiedade moderada em que todos, mais ou menos, caímos.

Política à Americana

Nem quero pensar o que seria por cá. Logo protestos de feministas e
de outras pessoas preocupadas com machismos e demais inventonas. Mas nos EUA, é costume fazer a votação anual respeitante à parlamentar mais sensual (hottest). A notícia é que a vencedora dos últimos dois anos, a Congressista Stephanie Herseth, Democrata do Dakota do Sul, em cima, à esquerda, perdeu
para a sua colega Marsha Blackburn, Republicana do Tennessee, do lado direito, que tem quase mais vinte anos do que ela, o que demonstra que idade não é documento, também nesta vertente da vida, huuuuum, pública.
Sem qualquer desprimor para as duas Contendoras e para as respectivas belezas, tenho de deixar espressa a minha discordância. Se o meu voto fosse ouvido teria ido ou para a Senadora Mary Landrieu, Democrata da Luisiana, ou para a igualmente Senadora Blanche Lincoln, Democrata do Arkansas, em baixo, da esquerda para a direita.
Volto a referir que estas votações gozam da benção semi-oficial das lideranças das câmaras e são fomentadas até por blogues progressistíssimos, sempre com os Direitos das Mulheres na boca. A América é o País do showbusiness, não haja dúvida. Ah! E claro que, noutra fase da vida, a Senadora Hutchison, Republicana do Texas, seria imbatível.

Tuesday, May 30, 2006

O Triunfo da Desigualdade

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rumo à harmonia: «Conjunto», de Thor Lindeneg.

Milagre de Permanência

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Há quem tenha o Millennium por um milagre da banca. Mas outras circunstâncias miraculosas há com a mesma designação. Foi esse o nome da operação que, durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados desencadearam sobre Colónia, sob a forma de duríssimo bombardeamento, precisamente num 30 de Maio. Sem explicação muito aceitável que se cinja a critérios normais, a Catedral permaneceu quase intocada. Sabendo-se que a lenda quer que lá estejam sepultados os restos mortais dos Magos, também maravilhosamente poupados à ira de Herodes, temos de reconhecer que a excepcionalidade acompanha a palavra, com circunstancialismos mais felizes do que os associados aos temores de cada milhar de anos vencido.
Que esta subversão do transitório nos sirva de referencial de Esperança, do alto dos seus pináculos!
Disse.

Pesos e Medidas

O Tribunal de Apelo da Haia condenou um jogador do Sparta, Rachid Bouaouzun, a um ano de prisão, qualificando como agressão uma entrada dele sobre o adversário Niels Kokmeijer, donde resultou uma fractura com complicações. Consideraram os julgadores que o condenado tinha presente as consequências que o seu acto poderia acarretar.
Tenho como extremamente difícil encontrar a posição mais justa neste caso. Por princípio sou hostil a que actos do jogo sejam decididos fora da justiça desportiva. Mas devo prevenir que faço parte desta última, pelo que sou suspeito.
Claro que pode chocar que uma atitude brutal seja punida apenas simbolicamente, porque praticada dentro de um recinto de jogo, no decurso do mesmo, quando seria objecto de sanção muito mais pesada noutra qualquer circunstância da vida. Mas também o sentenciado poderá dizer «porquê eu?», já que por esse mundo fora não faltarão os exemplos de casos tão ou mais graves, comparativamente impunes, por não terem sido levados à Justiça comum.
É difícil decidir. Mas se a moda pega, campeonatos como o nosso ou o italiano esgotariam a capacidade de resposta dos sistemas judiciais respectivos, não falando já da absoluta invasão dos estabelecimentos prisionais que representaria.
Mas Vossas Excelências, Superiormente, melhor decidirão.

A Causa dos Fogos

Espero que o Ministro António Costa melhore, em relação ao ano transacto, a sua capacidade de combate às chamas, mas abro uma excepção para estas, em que o ganho para o País vem da manutenção de inoperância e de inoperacionalidade na extinção do incêndio.
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Chamemos as coisas pelo nome: Izabella Scorupco.

Da Prática à Teoria

Jazendo numa mesa de saldos sem que alguém desse por ele, deparei ontem com o livro de doutrinação política de um Combatente de excepção o Coronel Pierre Chateau-Jobert, evadido heróico da 2ª Guerra Mundial, Militar da França Livre, revoltado contra os que, tendo chegado ao poder com a promessa de manter a Gália de além-Mediterrâneo, se propunham agora entregar a Argélia, responsável da OAS, condenado à morte, posteriormente amnistiado, que faleceu em Janeiro do corrente, com 93 anos bem contados. Autor de livros técnicos sobre a contra-insurreição, desiludido pelas tropelias dos políticos partidocratas, acabou por se virar para a Verdade da mais lídima Reacção.
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Leiamos:
«As ideias revolucionárias encontraram a sua voga no dia em que os pensadores atacaram os próprios fundamentos da nossa civilização. Elas ganharam força na Renascença pagã, depois no Protestantismo de Lutero e Calvino, em seguida nas filosofias de Voltaire e Rousseau. 1789 não foi senão um episódio.
(...) No domínio das ideias o espírito revolucionário caracteriza-se pela tendência subversiva que o anima, seja o marxismo(donde o comunismo, o titismo, o progressismo) ou o liberalismo (donde o Capitalismo liberalista, imperialismo «americano», etc.). «São estas as duas formas predominantes nas quais a subversão terá causado estragos antes de reaparecer - inalterada - em fórmulas mais novas.
Os Fascismos, Nazismos e os Totalitarismos em geral são igualmente fórmulas subversivas.
».
E o remédio:
«Nós não nos livraremos disto, sem uma verdadeira contra-revolução»
(...)
«Para lá chegarmos, apoiar-nos-emos num partido?
(...)A única barreira possível, a única vitória possível reside na acção combatente de um movimento de uma independência total face aos partidos(...).
»
Para Meditar.

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O Perigo Verdadeiro

As evasivas declarações do Ministério da Agricultura, instado a pronunciar-se sobre a sujeição a uma anunciada iniciativa da Comissão Europeia, que destruiria 400.000 hectares de vinha no nosso País, não deixa antever futuro muito auspicioso. A recusa em comentar, com a alegação de "se estar a preparar a própria reforma" costuma redundar em consagrar a substância da imposição exterior, com uma ou outra alteração superficial, para fingir ser senhor das medidas que são tomadas. E há duas grandes vagas a tentar mitigar o «comer de um milhão de portugueses», na lapidar definição de um Estadista de visão: não só os interesses de produtores concorrentes, como o horroroso pensamento opressivo e vigilante que quer, por todos os meios, diminuir o consumo de álcool. Brotando a padronização de um ramal da correcção política tão ao sabor do tempo, não vejo este Governo com capacidade reactiva, ou sequer desejo, de lhe fazer frente.

À Coca!

O périplo inserido no Roteiro para a Inclusão iniciado pelo Presidente Cavaco é, evidentemente, algo com que ninguém minimamente bem formado pode estar em desacordo, pois a preocupação em minorar o sofrimento do Próximo, desde que não seja através de medidas desastradas, merece todo o louvor. Engraçada foi a expressão de que o Chefe de Estado se apropriou, ontem, em São Domingos, após um encontro com autarcas: «sou um ouvidor, com certeza, tomo notas, mas não sou um executivo». Impõe-se, por um lado, ver como eram infundados os receios daqueles que opinavam não ter o PR perfil para a função, por ser um decisor nato e não um gerador de empatias. Foi clara substimação dos dons camaleónicos dos políticos de um sistema de eleições, que sabem mudar de pele quando tal é conveniente. Outra reflexão versa o termo «ouvidor»; no Portugal antigo designava um juiz, que ouvia e sentenciava os pleitos. Adequa-se magistralmente à totalidade da declaração, pois contrapõe uma certa colagem ao espírito do Poder Judicial, embora desprovida de capacidade coerciva, ao Poder Executivo, concretizado na governação. Resta saber quem quererá sentenciar, lá mais prafrentemente. Eu faço uma pequena ideia...

Monday, May 29, 2006

O Homem

A 29 de Maio nasceu uma das influências maiores desta casa. G. K. Chesterton interveio em todas as polémicas do tempo, sem amargor, como filocatólico, primeiro e convertido, depois. Da sua obra, quase tão dilatada como as suas proporções físicas, para as quais só um Orson Welles teria arcaboiço, ainda se contam clássicos citados em qualquer tese, versando as obras de Dickens e de Shaw, com quem muito polemicou, mas nunca deixou de jantar, pelo que dele dizia ser o seu «inimigo íntimo». Escreveu talvez a autobiografia de que mais gosto.
O humor tinha para ele muito maior relevo do que o de uma mera qualidade do espírito, na medida em que encontrava na alegria religiosamente enquadrada a essencialidade vital que sempre defendeu. Por isso atacou, coerente, o calvinismo, que via como arrasador dela em nome do puritanismo a que se opunha. Também residia no sentido humorístico o que o unia a São Tomás, ainda antes da magnitude da construção sistemática, de que não era, assumidamente, o intérprete ideal. Combateu todas as tentativas de diminuir a naturalidade risonha do Homem, fosse o imperialismo na modalidade jingoísta, como a imposição das Leis Secas. Em certo ponto fala, a um tempo, da cerveja e de Deus como de «Duas Coisas Excelentes». Nos paradoxos da aparência buscou a afirmação da Realidade que ultrapassasse a atrofia dos pobres cultores dela, que a mutilavam, chamando-se «realistas», como defendi num ensaio de juventude sobre as histórias do Padre Brown. E na sua obra mais conhecida, ao conceber uma polícia especializada em poesia, ao serviço da Própria Divindade, pintada no meio caminho entre uma Personagem e um elemento onírico, faz depender dela a ultrapassagem das tendências dissolventes do Homem, pelo apelo ao melhor dele, a palavra dada, primeira pedra na ponte que conduz à descoberta do Amor. Falo de «O HOMEM QUE ERA QUINTA-FEIRA».
É a este pintor fracassado e Escritor Superlativo que devo muito do que sou.

Comemoração Condigna

Faz hoje um ano que em França as pessoas mostraram que nem sempre os políticos podem fazer gato-sapato das respectivas vontades e disseram non ao Tratado Constitucional Europeu.
Para lembrar a data, os dirigentes possíveis prolongaram por um ano a reflexão acerca de como resolver o que consideram um imbróglio, quando qualquer observador inocente pensaria que nenhum havia. E encaram como uma das principais opções de solução... deixar de chamar Constituição ao monstro rejeitado. Pois é bem caso de se lhes continuar a chamar os nomes que merecem.

Laranja Mecânica

Vai ser tarefa árdua, para Alguns Caríssimos Desdenhadores, crismar de Barbie e Anglo-saxónica esta Rapariga. Chama-se Elsa Benitez e é mexicana.
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Um grande argumento para os opositores dos muros!

Faca de Dois Gumes

O Dr. Jardim, do meio da habitual oratória inovadora quanto a tipificações políticas, afirmou que ele e os seus estão muito interessados em saber se a Madeira é auto-sustentável. Imediatamente passou pela cabeça de todos - e ninguém imagina que não tenha passado pela do próprio - a iminência, em caso de afirmativa resposta, de um processo de chantagem, hasteando a ameaça de secessão, caso as subvenções prestadas pelo governo central o não satisfaçam. Mas claro que isto tem um inconveniente - se a auto-suficiência for verificada, perde-se a razão de ser de muitas das ajudas... o que pode, desde já, com sacrifício da vaidade, ter estabelecido o resultado do inquérito.

Último Recurso

Comecei por ficar de boca aberta. Chamava o «CORREIO DA MANHû a atenção, com os decibéis alteados de que se costuma servir, para o facto de que as dificuldades em aceder a um primeiro emprego estão a empurrar muitos jovens para a carreira diplomática. Ora, sabe-se como, tradicionalmente, era profissão muito apetecida, sendo a diminuta remuneração inicial, se em Lisboa, compensada pela da progressão na carreira e pelos suplementos auferidos em postos no estrangeiro. Mas, longe de ser miséria dourada, costumava atrair mais, quer por autênticas vocações, quer pelo estilo de vida associado ao ofício, no imaginário das gentes. Deixei-me, pois dominar pelo espanto de ver tão prestigiada função relegada para o nível de um minorado subsídio de desemprego, até que atentei na solução oferecida pela legenda da fotografia junta: «Freitas do Amaral, Ministro dos Negócios Estrangeiros, é o responsável pela diplomacia portuguesa».
De facto, a Juventude tem inteira razão, é um facto que torna repulsiva esta via profissional. Mas calma, também é passageiro!

Pai, Por Que Me Abandonaste?

Podem os Leitores ter estranhado que Sua Santidade o Papa Bento XVI tenha, ao visitar Auschwitz, pronunciado a frase «Senhor, por que permaneceste Silencioso?», a qual parece ir ao arrepio de toda a bimilemar pedagogia da Santa Madre Igreja, que ensina não se dever imputar a Deus o que apenas decorre de censuráveis acções do Homem, em outras tantas capitulações perante o assédio do Mal. Como parece também, momentaneamente, esquecer que o Reino de Deus não é deste Mundo e quem é o príncipe das zonas baixas que habitamos. Seria porém uma visão demasiado inflexível e irreal da possibilidade da constância humana em suportar a Não-Ingerência Divina. O próprio Jesus, num momento extremo, soltou o grito que titula este post. Como se quereria que o Seu Vigário na Terra se arrogasse de maior perfeição? Está escrito na pele da Humanidade que nos instantes de mais agudo desespero sempre prevalecerá o brado que transfere para uma inconsciente "obrigatoriedade de Protecção pré-estabelecida" a responsabilidade pela derrota do Pecado, antes da que o Juízo Final proporcionará.
É que o desespero e a benevolência da visão de si são pouco compatíveis com a fria manutenção em mente da Verdade fundamental do Livre Arbítrio.
O resto é a voracidade das primeiras páginas jornalísticas, que, mesmo sem se darem conta, exploram com avidez o que lhes parece ser uma concessão do Sumo Pontífice à dúvida, como vazam até à última gota a vendabilidade da desculpa pedida pelo Santo Padre, em função das suas origens nacionais. Eu não creio em culpas colectivas que transcendam as da participação em actos reprováveis. Mas ainda sei que é função eclesial pedir perdão pelos pecados - os seus e os alheios. Faz-me alguma impressão ver sondagens em que grande percentagem da população germânica acha que o Sucessor de Pedro deve desculpar-se, em razão do país em que nasceu, já que passou como alemão incomparavelmente menos tempo do que como Homem da Igreja, o que, para o que aqui importa, encontraria a relevância não em Adolf Eichmann, mas num Santo do Século XX, o Padre Kolbe.
E, contudo, julgo não ignorar que nesse pequeno excesso de auto-infligida humilhação reside Esperança maior, por completo banida do exagero inverso, o do orgulho que por tudo se auto-justifica. Em todo o caso, não gostaria de ver, baseado na Visita precursora de João Paulo II agora continuada, criado um roteiro turístico do horror, com futura passagem forçosa e forçada pelos pontos macabros, de câmaras a reboque. Ninguém, a começar pelas Vítimas, mereceria isso. Qualquer decisão de se dirigir aos locais referidos deve ser formada livremente, sem concessão ao espectáculo.

Sunday, May 28, 2006

As Moscas Que Mudam

No dia em que tanto compatriota nosso esteve com a mosca, no sentido da solidariedade devida a todos os que foram corridos pelo mosquedo de praias da Grande Lisboa e de Setúbal, temos de trazer à colação o elogio que Luciano de Samosata lhes fez, partindo da graciosidade que encontrava o seu voo, ensaio tão fora dos cânones que Dali o apensou ao seu «DIÁRIO DE UM GÉNIO», como precursor do surrealismo de pleno direito. É fraco consolo, mas é o que se pode arranjar.
Porém, para evitar ser dado como apoiante de Israel contra os Palestinianos, desde já asseguro que o facto de o Demónio tido por Senhor das Moscas, Belzebu, ter, aparentemente, ido buscar o nome a um ser sobre-humano dos antigos Filisteus não está na base de qualquer cepticismo da minha parte contra a bondade destas revoadas de insectos. Talvez a origem do meu sentimento radique mais na desconfiança do julgamento que eles terão feito do estado do nosso País, para andarem em tão grande número à volta dele...

O Anjo da Frescura

Além de não se exporem demasiado e de ingerirem muitos líquidos, convida-se os Leitores do misantropo a tentar contornar a fornalha, virando os olhos para a refrescantes terras baltas, através da estoniana e estonteante presença paradisíaca de Carmen Kass.
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Todo o cuidado é pouco!

O Complexo da Solidão

Pouca gente foi enganada sobre a génese do Partido Ecologista Os Verdes e sua instrumentalização pelo PCP. Sabe-se como, desde sempre, a estratégia da Direcção Comunista sonhava com o frentismo e se contentava com a tarefa impossível de declarar o seu amor, quero dizer, a sua disponibilidade, no tocante a aliar-se ao PS. Com esse fim era viciosa e viciada retórica a «luta contra a Reacção», para que se tentava aliciar o PS, ameaçando-o com o espectro da traição à sua pretensa base eleitoral, caso não alinhasse com «os Comunistas e outros democratas». Esta última categoria significava "satélites que adoçassem a pastilha" e foi, primeiramente, ensaiada com uns restos do Passado, o MDP/CDE. Para tentar a gente nova, porém, era preciso outra receita. E a ecologia, passe a imagem demasiado coincidente, estava mesmo à mão de semear. Por isso se aguarda com expectativa o conjunto de revelações das memórias políticas de Zita Seabra, que, a crer no que o «CORREIO DA MANHû revela, pormenorizarão o papel que a Autora e José Casanova desempenharam na criação da artificial força política. Pelo que se anuncia, parece mais do que justificada a velha piada das melancias - "verdes por fora, vermelhos por dentro".
O grande azar foi o PS conseguir ser governo sem a achega parlamentar à sua Esquerda....

E Depois?

Para completar o dossier, gostaria de fazer mais uma referência. Há um livro muito interessante e não dos mais assíduos nas livrarias, que toca a todo o Campo Nacional, a propósito do 28 de Maio. É «A CONTRA-REVOLUÇÃO», de João Ameal. Além de incluir trabalhos jornalísticos anteriores ao Evento, que são preciosos para avaliar o ambiente da época, agrupa os artigos que o Autor publicou no primeiro e segundo aniversários da Intervenção Militar, sublinhando a necessidade de edificar sobre princípios sãos uma armação para o Futuro, agora que os adversários obstrucionistas estavam de rastos.
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Mas, para mim, o mais significativo encontra-se numa crónica/manifesto a quente, datada de 5 de Junho de 1926, de que não resisto a dar-Vos um trecho:
«Como nacionalista e tradicionalista, é claro que me agradaram as directrizes que o sr. general Gomes da Costa anunciou, como programa a guiar os actos imediatos do novo govêrno. E agradaram-me, porque satisfazem em mim, não evidentemente todas aquelas bases que suponho essenciais para a reconstrução portuguesa - mas, pelo menos, algumas. Dessas bases, umas são negativas-outras, construtivas. Às primeiras, contentou-as até certo ponto o movimento militar. Porque elas consistem, principalmente, numa inadiável e justiceira destruição das instituições democráticas-anti-nacionais. Cerrou-se, por felicidade, o parlamento, foco de misérias, de conflitos e de vergonhas. Proclama-se a intenção nítida de dirigir fora e contra os partidos políticos-vampiros da Nação. E, portanto, abandonam-se resolutamente as estupidas engrenagens da democracia-mentiras funestas de que só derivam catástrofes, pilhagens, delírios e ruínas.
Muito bem. Mas agora? Faltam as bases construtivas. Falta, sôbre a magnífica obra de reabilitação política iniciada com a morte do regime de opinião e com a promessa dum regime de energia-falta criar, desenhar a estrutura nacional, organizar, na verdade, aquela representação dos interesses vivos, reais e permanentes da Nação, de que fala a proclamação do Chefe revolucionário.
».
Porém, quem queira não perder o seu tempo, em ordem à Doutrina que edifica, deve visitar o Euro-Ultramarino, que a ela se refere com esmero e arte.

A Marca do Dia

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Ao meu Querido Amigo Mendo Ramires e a todos os Patriotas, um ex-libris que gostaria de ver nas respectivas bibliotecas, neste Ano LXXX da Revolução Nacional.

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De Agora a Contracosta

Em 28 de Maio de 1926 nem todos sabiam o que queriam, mas todos sabiam o que não queriam. E o que rejeitavam era a continuação de um regime universalmente odiado, salvo pelos Democráticos, outrora dirigidos por Afonso Costa. Este tinha-se afastado para o estrangeiro, desde que percebera, na altura da implantação do Sidonismo, que o exército poderia servir para mudanças mais drásticas do que a de proporcionar a faculdade de formar interlúdios ministeriais à oposição, a qual, dentro do regime, não dispunha das milícias armadas e das viciações eleitorais na mão do seu partido. Mas ao deixar a liderança visível, o País não melhorara em nada, pois à luta dos seus contra os outros havia sucedido a própria digladiação das facções "direitista", com António Maria da Silva, a "centrista" de Domingos Pereira e a radical de José Domingues dos Santos, sempre oscilantes entre a ameaça e a concretização de dissidências a acrescer a outras, prévias. Se a perseguição religiosa tinha abrandado, porque já pouco havia para perseguir, o assassinato político conheceu tempos áureos após a morte de Sidónio. Os grupos armados multiplicavam-se, as gestões catastróficas idem, com correlatas perdas no emprego; e até a soberania via as suas manifestações alienadas, com a estagnação da máquina da justiça e a criação de moeda entregue a Alves dos Reis.
O País só fingia não ter entrado em auto-gestão, pelo domínio das sociedades secretas. A 28/05/26 o Presidente da República e o Presidente do Ministério tinham nos preenchidos curricula as vergonhosas lideranças da Maçonaria e da Carbonária, respectivamente.
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Perante o triste quadro não rebentou uma revolução, mas três. A do Norte que ia descendo e proclamando, cheia de gente doutrinada, mas não unificada entre si. A de Lisboa, que, com Cabeçadas, um dos marinheiros da Rotunda de 1910, recebia de Bernardino Machado a transmissão dos poderes e era a única que queria salvar o regime, enquanto que as outras duas já tinham percebido não ser esse o meio de salvar o País. A do Sul era encabeçada por Carmona. Avançava com silenciosa eficácia e o seu Chefe, não tendo filiação partidária, prestigiara-se como Acusador em processos de rebeliões anteriores, isentando os réus no último caso, ao diagnosticar a doença da Nação. Saltava à vista quem acabaria por prevalecer. Faltava, pensava-se, encontrar quem governasse. Mas não era assim. O efémero Gomes da Costa, ao passar pela Lusa Atenas, metera na bagagem o nome de um certo Professor de Coimbra...
E hoje? Os tempos são diferentes, já se sabe. Não se mata, ainda, muita gente na rua. Mas há sinais de desagregação. A Justiça - que é por onde costuma cair o poder - já é alvo de risota. As funções financeiras da Soberania emigraram para uma Bruxelas em cuja protecção os políticos do regime confiam, mas que com alargamentos de mãos largas ficou com pés de barro e já não é gigante. As sociedades francesa e alemã evidenciam problemas gravíssimos, a Itália tem mais com que se entreter e o Reino Unido não se mete nesses assados. Se num só estado importante a coisa der para o torto a gloriosa União cairá como um castelo de cartas. E com ela o seguro de vida do regime que temos. Mas haverá Homens para o substituir? - perguntais. Descansai. aparecem sempre, mais tarde, ou mais cedo. Resta saber se ainda será a tempo.

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Saturday, May 27, 2006

Ilustração

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Não consigo evitá-la, ao tomar conhecimento de desgraças como o terramoto da Indonésia, já com 2700 mortos, ao pensar na impotência do homem, na sua incapacidade de conviver com o sofrimento, ou no seu falhanço em encontrar respostas para o porquê dele, mesmo que desencante as dos meios imediatos que o causam:
«Melancolia», de Manrico Orlandi.

A Franga Reprovada

Foi anunciada com estrondo a notícia de que um trio composto por um cientista, um filósofo e um avicultor tinham solucionado o persistente enigma da prioridade do surgimento na Terra do ovo ou da galinha, pronunciando-se a favor do primeiro. Parece, desde logo, relato de descoberta que se quer adornar com os ouropéis da cooperação interdisciplinar, pois só apareceu o Homem da Ciência, não se percebendo a medida em que os outros Descobridores foram chamados ao caso.
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E depois, o argumento não esgota o assunto. Tanto quanto pude penetrar na explicação do Prof. John Brookfield, a certeza científica da impossibilidade da alteração genética em vida do animal implicaria que o respectivo património estivesse presente desde a sua gestação intra-muros, quer dizer, intra-cascas. Mas claro que isto não explica nada sobre a identidade da poedeira do raio do ovo, nem sequer sendo contemplada a hipótese do Acto de Criação! Um progresso pouco... locomotor. Que me leva a concluir ser o galináceo da perplexidade, afinal, até agora, a mais célebre vítima da gripe das aves

Auto da Visitação

E noutro 27 de Maio, o de 1966, Igor Stravinski veio pela segunda vez a Portugal, com o intuito de dirigir o seu Oedipus Rex, sendo que, aproveitando a embalagem, se executou «A Sagração da Primavera», com Robert Craft no púlpito.
Da sua permanência por cá e das opiniões que emitiu foi dada interessantíssima notícia em «ARTE MUSICAL» 25-26, de Março de 1967, por João de Freitas Branco. Inesquecíveis as suas apreciações sobre Rimsky-Korsakov, que tinha por mestre pessoal na instrumentação, apesar de não o prezar igualmente na composição. Acerca de Mussorgsky, de quem dizia ser falto da «matemática da música». Além de lembrar o nosso Francisco de Lacerda, dizer que Mahler, sendo um grande compositor, «não era um grande criador», ao contrário de Schubert, devendo a sua posição a Schoenberg, Berg e Webern; e reconhecendo, em contrapartida, a proficiência criativa a Bruckner, o que deverá agradar ao FSantos. Mas todo o artigo vale bem uma leiturazinha. O retrato que acompanha é o tal desenhado por Picasso, que foi barrado numa alfândega italiana, sob suspeita de conter um mapa militar camuflado...

Vaga de Calor

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Quando aperta a suadeira há que recorrer a uma visão que sabe refrescar-se. Não digo que seja propriamente uma sugestão enregelante, porém pode resultar, na medida em que faz facilmente de contra-fogo. Em homenagem ao Caríssimo Amigo de Espanha, e a todos os Nuestros Hermanos, Esther Cañadas.

Tradição Versus Comissão

Tempos de supersticiosa predominância eram aqueles em que a Ciência se engajava contra a Tradição. Depressa desmascarada como pseudo-ciência, de resto. Hoje chega-nos da Dinamarca um estudo notável que, por um lado, reafirma os benefícios da ingestão de bebidas alcoólicas, em dose moderada, na prevenção de doenças cardíacas, o que não é novidade; e que, por outro, vem consagrar a diferença de efeitos nos dois géneros, entronizando o saber ancestral que aconselhava aos Homens a bebida diária e às Senhoras um espaçamento ligeiramente mais dilatado, embora, em nenhum dos casos, a pura abstinência. Espera-se que alguém ponha diante dos olhos dos Comissários do Inferno, perdão da UE, esta imperativa necessidade de saúde pública que contende com a insistência com que querem mudar os hábitos alimentares no Sul da Europa, dificultando o consumo de vinho.

Ontem e Hoje

A 27 de Maio de 1913, na sequência de uma revolta de republicanos contra os Democráticos de Afonso Costa instalados no poder, o Ligório, ou Racha-Sindicalistas, conforme era conhecido de um e outro lado do espectro político, decidiu que todos os seus adversários deveriam pagar o pato. Vai daí, é enviada pelos seus cúmplices, os Irmãos Rodrigues - Daniel, Governador Civil & Rodrigo, Ministro do Interior -, a tristemente célebre Formiga Branca contra os jornais adeptos da "República Musculada", «O INTRANSIGENTE» de Machado Santos, do socialismo, «O SOCIALISTA» e «O SINDICALISTA» e da Monarquia, «A NAÇÃO» e «O DIA».
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Foram aliás os Monárquicos os escolhidos para bodes expiatórios da rebelião. Contra eles «O MUNDO» costista desencadeou campanha infame. E quando o bando de cadastrados comuns, muitos deles portadores de salvo-condutos do Governo Civil, assaltaram as redacções referidas, terão nos machadistas encontrado a resistência de milícia rival, o embrião da que viria a ser a Formiga Negra. E os meios sindicalistas, sem organização, assemelhavam-se bem a formigas vermelhas.
Só os Paladinos do Rei escapavam ao formigueiro. Daí que Joshua Benoliel tenha podido fixar em película o estado em que foi deixada «A Nação».
Transpondo para hoje, é descrição de grande actualidade. Mas não me refiro a um orgão da Imprensa!

Os Encantos do Interesse

Leio as «RÉFLEXIONS SUR LA CURIOSITÉ», desse Cardeal de Bernis que foi agente importante na eleição papal de Ganganelli, tão favorável à política de Choiseul, com a suspensão dos Jesuítas em vários países. Foi homem de ordens tomadas tardiamente e que consta nunca se ter privado dos prazeres da carne, antes e, dizem as más línguas, depois de se ter comprometido a ser homem de Deus. Surpreendido pela Revolução como embaixador em Roma, honra lhe seja feita, recusou a simpatia oferecida pelo novo regime e a adesão a outro que não fosse o do seu Rei, sem imposições de insurrectos.
Sobre a curiosidade diz-nos coisas... curiosas. Claro que estabelece a distinção entre a curiosidade do bisbilhoteiro e a do investigador, essa não poderia faltar. Mas escapa já à norma quando nos dá conta de um exemplar casal da antiguidade cuja relação perdurou na extrema felicidade de se descobrirem sem cessar e de o verem como melhor ainda do que a brevidade em que apenas se tinham amado. E quando distingue «o Povo» dos «Homens de Espírito» não pela intensidade com que um e os outros são curiosos, mas pela extensão em que se aplicam nesse labor.
Não menos atraente é a sua desconfiada advertência contra a busca do aprofundamento do conhecimento, em matéria de afectos: «é terrível encontrar a falsidade e a baixeza onde críamos ver, onde adoraríamos ver a verdade e a grandeza de alma».
Ou da insaciabilidade ligada ao curioso, que o faz de uma aquisição saltar para outra: «A curiosidade é uma espécie de aguilhão que jamais cessa de picar. Uma descoberta feliz, uma ideia útil e nova, longe de embotar a sua ponta, parece aguçá-la mais ainda. O curioso assemelha-se ao avaro: a sua cupidez aumenta com as suas riquezas. Mas o avaro aferrolha os seus tesouros e priva-se a si próprio da recompensa que merecessem os seus cuidados e as suas fadigas voluntárias: o curioso não amealha senão para difundir e para gozar; as suas descobertas passam de província em província, de estado em estado, e suscitam na posteridade mais afastada os partidários nas ciências e os admiradores nas belas-artes.».
E não posso deixar de pensar em quanto este entendimento descreve o bloguista. Cada consulta ao profile de um comentador para nós novo, cada activação de um link para página desconhecida numa que já antes descobrimos, ou a simples expectativa com que, cada dia, abrimos o computador, ávidos de saber o que x e y terão escrito desta feita, transportam-nos bem ao "desinteressado interesse" que é a faceta mais recomendável da descoberta. No fim de contas, ser curioso, nesta modalidade, é ser humano, querendo ser menos limitado. Daí que Vos ofereça «Os Princípios da Curiosidade», de Lee-Anne Raymond.

Friday, May 26, 2006

A Névoa das Cinzas

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Tendo visto tantas fotografias do Ground Zero, onde antes se erguia o World Trade Center, esta toca-me especialmente. Foi tirada pelo pintor e escultor Antoine de Villiers. É mais do que uma captação dos destroços, pois os vapores que podem ser vistos evocam com muito mais peso e felicidade as almas das vítimas, dissolvendo-se nas neblinas que testemunham os despojos de um martírio. E a passagem impedida não é parco sinal da dificuldade de todos nós acedermos à comunhão com os Desaparecidos na catástrofe. Não somos assim tão diferentes de um nevoeiro, mas ele consegue chegar mais perto.

Interpretação

No «Jornal Nacional» da TVI, cobrindo a recepção da Juventude eborense à Selecção Nacional de Futebol, perguntam a uma menina se gosta mais do Cristiano Ronaldo «em tronco nu, ou com a camisola da selecção».
Resposta:
«Em tronco nu!»
Pergunta:
«Porquê?»
Resposta:
«Sei lá!»
O misantropo, vulto da Hermenêutica que se preza de ser, percebeu logo que o que a moça pretendia dizer que não podia sequer olhar para as cores republicanas do equipamento. Mas logo uma voz diabólica lhe soprou, mesmo ao lado, que era por causa dos músculos.
A lavagem ao cérebro invade Portugal!

A Apresentação das Notícias

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Não se cansando de reflectir sobre a importância da maneira como as novas são dadas, publica o misantropo a imagem de alguém que se celebrizou fazendo-o na televisão italiana. A vestimenta condiz com a última coloração do cabelo e o fundo com o template da jaula, embora em tons mais carregados, concede-se: Paola Saluzzi.

E Não Desistem?

O Comissário Rehn anunciou uma dilação para 2009 do novo Tratado Constitucional Europeu, quando deveria ter anunciado a renúncia a tão perigoso documento. A insistência em introduzi-lo pouco menos é do que demencial. Todas as recentes investidas no sentido de regulação unitária que vão desde o consumo de vinho ao grau de reprovação das condutas, visam uma uniformização que em nada melhora o respeito pelas opções de vida dos diversos europeus, libertando-os para afirmá-las, antes lhes dissolve as particularidades. Ou seja, o contrário do que pretenderam os Pais da Europa Comunitária. Se for dado o passo de constitucionalizar elementos de padronização, deixa de ser possível inverter a malignidade deles através da simples inflexão de políticas. Não se deveria perder de vista o que Patrick Henry disse, acerca do papel que às constituições deve caber:
«A Constituição não é um instrumento para o governo refrear o povo, é um instrumento para o povo refrear o governo - a fim de que não domine as nossas vidas e interesses».
Isto era bem verdade nas constituições materiais, não-escritas, de antanho, ou do Reino Unido. As passadas ao papel subverteram, em maior ou menor dose o entendimento. Mas tudo se agrava com a contraditória ideia de uma constituição-supra-nacional.

A Praça Pública

Não falarei das declarações da ex-coordenadora do combate ao crime Rosa Mota, no que respeitam às acusações a um ex-subdirector da PJ, que diz ter tentado proteger um dos arguidos. São matérias que, se provadas, devem ser resolvidas penal e disciplinarmente em sede própria. Mas devo aqui discutir duas outras revelações. A primeira, sobre «muitas diligências terem ficado por realizar devido à mediatização e repercussão pública do processo», vem acabar com o velho mito, sempre agitado por qualquer suspeito, de que, quando publicitado, um caso criminal equivale a um linchamento em praça pública. Verifica-se que pode muitas vezes é dar origem a uma dupla protecção do visado: quando leva à desistências de procedimentos investigatórios, como aparenta ter acontecido; e quando o próprio chora diante das câmaras, dizendo-se perseguido, numa pressão mais eficiente do que se julga para que o caso seja deixado cair. Continua a ser necessário garantir a confidencialidade da acção das polícias e a preliminar do Ministério Público, mas pelos motivos inversos desses que são habitualmente brandidos.
A segunda declaração diz-nos que havia mais suspeitos, mas que, por os crimes imputados já estarem abrangidos pela prescrição, não foram interrogados. Sabe-se como a figura é essencial à segurança jurídica, porém valeria a pena pensar um alargamento de prazos que não fizesse uma preocupação em abstracto sobrepor-se e neutralizar, pela promessa de impunidade, a segurança das potenciais vítimas.

Thursday, May 25, 2006

Desculpa de Mau Pagador

Para branquear a sujeira dos Sub-21: Tinham anunciado um jogo contra a selecção de um País e, por obra e graça do referendo do meio da semana, fomos forçados a defrontar a de dois!

Actualidade Para um Mito

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Eram os Centauros, como bons filhos das nuvens que o eram maioritariamente, tidos pelos Gregos como simbolizando a zona obscura que envolve o Homem, fosse nociva, como em Nesso, ou favorável, ao jeito de Quiron . Dou-Vos esta gravura do famosíssimo Victor Adam, retirada de um volume raro, representando a luta enfre a amazona Mirina e o centauriano Atrópio. Que fazer do mito nos nossos dias? Proponho uma solução com a evidência de alguma literalidade, assim poupando o embaraço de recorrer às psicologias: "É na Mulher que reside a tábua de salvação que permite escapar da tirania do que não dominamos".

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O Bom Filho À Casa Torna

Que alegria ver o Platini Português de novo com águia ao peito! A idade não quer dizer o que quer que seja, que ele é bastante seco de carnes, o que, como se sabe, costuma prolongar a longevidade atlética. E o seu estilo sempre foi mais de colocar as bolas, fazendo os outros correr. Precisamente o que falta no onze do SLB. Resta saber é se haverá algém para acorrer aos seus famosos passes em profundidade. Último ponto: nos tempos que correm é bom ver um Homem dispor-se a ganhar menos, por razões afectivas. Viva Rui Costa!

Os Dois Pólos

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A exigência defraudada: «O Sublime e o Ridículo», de Susan Norrie.

Leitura ao Entardecer -5

Concorrem no espírito de quem escreve, prescindindo do reconhecimento imediato, incitações por vezes contraditórias que funcionam como a espora da
Arte. Nem se dá, amiúde, pela fonte derradeira das palavras que perseguem um interesse, seja o da mais desprezível recompensa, seja de outra, mais desculpável, a simples aspiração a cativar o Leitor. É o grande combate do indistinto contra a Essência, sendo certo que o fulgor das labaredas desta pode facilmente ser extinto pela corrosão insistente
que o tenta substituir pela quietude que não perturba, encaminhando para a vulgaridade o rumo que se queria orientado para o Norte do climax que é a descoberta e o contacto com o Único. Moldado pela forma invisível mas impiedosa do engano acabará o Autor por ser assaltado pelas mil e uma tentações
que lhe gastarão o labor em erróneos atalhos com sinalizações falsas da rota do Sublime, o qual parece ser o destino inalcançável de cada vez que se cede à penumbra desgastante dos enganos, em prejuízo do universo colorido e escaldante da identidade miraculosa entre o desejado e o prosseguido. Nesses desvios se escoam os dias, divididos entre o Ideal mais puro e a soez mediocridade que, em comparação está ao alcance da e na obra.
De António Ferreira (o contemporâneo):

THE MOVING FINGER WRITES

O trilho dos ganhos vigia a escrita,
sustem o feroz alumbramento do que
pode ser a verdade, a nave desarvorada da razão.
por tão pouco cedemos à vertigem do idêntico,
à neve carbónica do banal.
A razão é um bem futuro, nas águas do passado
acercam-se lances entrevistos, a treva dos enganos.
Como uma dádiva acesa ao pregão da morte,
até ao fim de nós há-de vibrar este apelo
à consumação dos dias no fervor do sórdido,
à passagem dos deuses na senda do prodígio.

Desviado com a ajuda de «O Escritor Fascinado», de Joel E.
Taylor III, «O Sonho da Razão», de Dino Valls e «Equívoco»,
de David Avery.

Cosmética Que Suspende

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«A Toilette da Verdade», de Louise Abbéma.

O Derby Lisboeta

Conforme foi visto pela italiana Valeria Marini, conhecedora de futebol, na qualidade de cara metade do jogador Alessandro. Não foi só Fernando Santos que passou pelo Sporting e pelo Benfica. Eis como Ela encarna a simbologia do primeiro, através da leonina juba; e como enverga elegantemente o equipamento do SLB!
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Que me perdoem os Amigos do Fêcêpê, mas não há vestígio de as cores deles serem queridas à Moça...

O Poder Simbólico

A anunciada inovação do Ministro Costa, versão Alberto, de atirar com o Ministério Público, dentro dos tribunais, para um nível equivalente ao do dos advogados, em vez de se situar logo abaixo dos juízes, pode parecer questão de lana-caprina, mas é susceptível, ainda assim, de fazer algum mal. Se inculcar no espírito das pessoas que a representação do Estado e a dedução da acusação criminal pública são interesses tão particulares como outros, não se admirem de que no subconsciente de muita gente que ainda não deu o passo fatal, se venha a instalar a ideia de que infringir a Lei Penal é um jogo de conveniências como qualquer outro, sem a carga reprovadora que hoje ainda o rodeia. E daí a jogá-lo não vai grande distância.
Ah! E quem for suspicaz ainda poderá pensar ser uma vingança, sequela da pretensa cabala casapiana...

O Ónus da Eleição

Não sou nada hostil às limitações à substituição de deputados que o Executivo pretende implementar. Não me dando adepto do domínio da vida política por partidos, seja por um, ou por vários, aflige-me a consagração de uma fungibilidade humana que substitua mais a torto do que a direito os eleitos, por membros da lista que se lhe seguiam. Parece-me mais do que adquirido que uma verdadeira responsabilização do mandatado só existiria num sistema de circunscrições uninominais, em que o ocupante fosse o dono do lugar durante a legislatura, procedendo-se a uma eleição parcelar sempre que uma morte ou uma renúncia ditassem uma vacância. Mas a limitação da substituição a decorrências do interesse público é uma etapa que evitará a imagem de um parlamento transformado em equipa de hóquei, sempre que os seus membros encontrem um período curto excepcionalmente compensador fora dele. Um deputado deve estar disposto a sacrificar os seus ganhos, progressão na carreira e até vida familiar, se o serviço público assim o exigir. Só na medida em que se encare a intervenção política como um sacerdócio é que os representantes conseguirão aceder ao respeito público.
E valeria a pena equacionar se não seria de estabelecer um sistema à inglesa, em que os próprios membros do governo pudessem continuar a ser deputados. E mais, em que tivessem de ser parlamentares. Teria a virtude maior de colocar o primeiro-ministro e o leader da oposição em confronto, sem a subalternização que se verifica em São Bento quando este último lá tem assento.

Os Factos da Vida

Qualquer iniciativa que vise o combate ao tráfico de Mulheres revela uma intenção louvável. O pior é quando os meios empregues para tanto são mais do que desajeitados. Mas a alteração ao Código Penal proposta pelo Governo, segundo a qual todo o que tiver sexo com vítimas traficadas será punido com pena de um a cinco anos de prisão é pura inconsideração abstracta, sem qualquer ligação à realidade. É que essa repressiva punição só operará quando se prove o conhecimento da traficância por parte do utente. O que é que os reformadores pensam que se passa? Que de cada vez que numa esquina um passante chega a acordo com um exemplar da oferta exposta, em vez de combinar o preço e algum detalhe da prestação, lhe faz uma entrevista e ouve contar a biografia?
Não sendo actividade que os próprios anunciem nos Media, claro está que o conhecimento do crime existirá praticamente apenas entre uns poucos que tenham contactos coma organização criminal, pelo que poderiam ser punidos ao abrigo da cumplicidade ou encobrimento do labor dela. O que isto significa é um encapotado ensaio de aproximar a legislação da sueca, em que o cliente é sempre punido, haja ou não tráfico. Mas é evidente que isto possibilitará um novo fluxo de trabalho para muitos advogados em dificuldades, na medida em que originará um corropio de defesas no sentido de provar a absoluta ignorância dos factos incriminatórios. Ou seja, a principal consequência virá a ser alargar o fosso entre a justiça ministrada aos que possam pagar a causídicos habilidosos e os que tenham de se contentar com o que lhes calhar na rifa.
Como sempre!

Wednesday, May 24, 2006

Da Retórica ao Desmentido

Penso nas inúmeras formulações de humanitarissimos propósitos que a História desmascarou como fundamento das piores aberrações contra a mais elementar dignidade humana. É, mais ou menos o destino de todas as revoluções que não optem, desde o início, por estabelecer a dureza programática, já que a auto-confiança dos grandes alteradores não consegue conviver com quem lhe é extrínseco. Mas, extrapolando para a governação em geral, podemos atentar naquele absolutíssimo governante que, posto diante da necessidade de assinar a sentença de morte de um criminoso, teria coberto a cabeça e gritado:
«Eu desejaria não saber escrever!».
Se os Meus Queridos Amigos quiserem conhecer o nome deste grande vulto da Piedade, leiam o primeiro comentário.

A Cidade das Chocas

Sem qualquer intenção de brincar com um problema sério, como é o das dificuldades da fertilização humana, mas somente visando a confusão habitual dos decisores políticos cá do burgo, tenho de deixar aqui uma interrogação. Procurar saber se a recente descoberta de uma proteína segregada pelo fígado da vaca ser influente no aumento da probabilidade de gerar gémeos, nas Mulheres que lhe consumam o leite e a carne, estará conectada com os bovídeos semeados por Lisboa, fazendo parte do pacote legislativo recentemente apresentado, o qual visa regular a actividade biomédica nesse campo. Responda quem souber.

O Caminho da Descoberta

«Não é preciso erguer um labirinto quando o universo já o é»
Jorge Luís Borges
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Quem queira encontrar a passagem perfeita para o percurso fascinante da procura deve ir Ali e deixar-se tentar pela resolução de um enigma interior que promete o descerramento da continuidade da demanda. Mas não deve permitir-se o engano pela ambivalência da magnífica imagem que um desgraçado comentador salientou. Ao sugerir um dilema para a identificação labiríntica por onde prosseguir, à Borges, o pobre admirador estava a tentar enganar a Autora, a enganar-se a si e a Todos Vós: criar uma bifurcação para elidir e iludir a resposta que «Le Labyrinthe», de André Masson já tinha dado. Que ele está no universo, sem dúvida, mas no da interioridade humana.

Agora por Mísseis...

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Tenho a sensação de que já há, entre os Leitores do misantropo, muitos candidatos prontos a interceptar esta Ogiva Nuclear Italiana: Alessia Merz.

A Quem Interessa o Escudo?

Sobre a proposta norte-americna de instalar na Europa um escudo de mísseis anti-míssil que a protegesse de ataques iranianos, presumivelmente com ogivas nucleares, devemos lembrar ser reedição de plano antigo, debatido no final da rivalidade com os soviéticos, perante o pavor europeu de ver o grande aliado protegido e os seus céus escancarados. Dado o custo da instalação, diriam os mais cépticos que é mais uma etapa na garantia de vitalidade da economia e indústria norte-americanas, de que o armamento costuma ser socorro recorrente. Penso, realmente, que o principal risco da bomba iraniana para a Europa não adviria de um ataque por míssil ou bombardeiro, mas pela tranquila entrada terrestre e posterior deflagração efectuada por algum grupo terrorista, ao melhor estilo da dirty bomb. Por isso, já se vê, o ataque preventivo que a impossibilitasse sairia muito mais barato, em todos os sentidos. Desde que eficaz. Não creio que haja muito mais do que uma oportunidade.

Germinação

Vasco Graça Moura fala, hoje, das diferenças constatadas, em debate no Parlamento Europeu, entre a inoculação do ódio pelos manuais escolares islâmicos e pelos que são feitos sob a égide do Estado de Israel. Nada disto é novo. Todos os regimes tentam falsificar a História, de modo a servi-la às criancinhas na bandeja das suas conveniências. Quando há problemática de relações internacionais envolvida, o vencido provisório tudo faz para acirrar os ânimos das suas crias, no sentido de que elas, quando crescerem, venham a tirar desforço. Foi o que se passou com a França, da III República pré-1914, em que os livros de aprendizagem davam, todos, a Alsácia-Lorena como integrando ainda, por direito, o País; e onde os Alemães eram dados como pouco menos do que calígulas actualizados.
Simplesmente, para a Revanche os pedagogos franceses investiam as suas esperanças, principalmente, no mitificado Exército da República e a formação dos bons combatentes do futuro visava a integração nele, com vontade de pelejar. No universo muçulmano que existe apela-se a uma individualização da luta, seja na vesão menos radical, pela disponibilidade para o combate irregular enquadrado, seja pela extrema, do atentado suicida.
E lançadas estas sementes, à medida que a planta cresce, outros níveis de ensino se encarregam de estender o ódio do inimigo já amplamente identificado, aos presumidos aliados dele. Assim, no fim do Liceu e na Universidade gaulesas era a Áustria-Hungria promovida a alvo a abater, porque mais fraco. E, no Mundo Islâmico, é nas escolas superiores que se alarga o conceito de «opressor dos Crentes» ao Ocidente. Eis-nos entrados na história. É bom que nos saibamos defender. E que não sejamos a Áustria de Israel.

Tuesday, May 23, 2006

Contra a Gravidade

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Era este «Beijo», de Brassai, de que falava anteontem. Prefiro-o de longe a uma fotografia muito mais célebre, em recinto coberto, apesar da excepcionalidade estética conferida por um reflexo. Aqui há tanta aplicação dos fotografados, como percepção de risco dos observadores; elevação às alturas dada pelo sentimento; e sentido de dificuldade de repetir, exactamente, a cena. Enfim, o contrário da pose, apesar de desconhecer a medida de alguma combinação prévia. Regalemo-nos.

A Soberba e a Gula

A Escola Socrática identificou como problema crucial do País dois ou três croquetes distribuídos aos Bispos e a notoriedade de umas cadeiras ocupadas por estes e por alguns autarcas. Enquanto que os Dignitários da Santa Madre Igreja reagiram com a cristã resignação e a racional distância que o caso impunha, pela contida voz de uma Excelência Reverendíssima que auxilia em Lisboa, os eleitos locais, apoiantes do Governo incluídos, fizeram uma chinfrineira, por se verem protocolarmente preferidos pelos chefes de gabinete das ministeriais personalidades. Fico contente por ver a Humildade Evangélica sobressair Donde deve e, mauzão que sou, confirmada a opinião que tenho da generalidade dos expoentes, ainda que intermédios da partidocracia.
Mas claro que um cínico poderá defender, tendo em mente a companhia destinada na última inauguração presidencial, que tudo ficou facilitado pelo alívio de Sua Eminência o Cardeal Patriarca se ver finalmente livre de tal convivência...

Branco da Paz

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Profundamente preocupado com a situação da Península Balcânica, o misantropo recusa-se a publicar uma sérvia ou uma montenegrina, optando pela croata Nina Moric. Não podendo, no entanto, fechar os olhos aos acontecimentos, chama a atenção para os tons da luz que incide na alvura da Retratada: o vermelho e o dourado do Montenegro. Espera-se que a Paz não seja tão esticada quanto o gesto indica.

O Gosto do Tempo

Primeiro foi o avião que espetaram contra o pentágono, transformado em míssil, camião, ou, quiçá, disco voador. Depois foi a salganhada davinciana. Seguiu-se a genérica invectiva carrilhista contra a SIC e as agências de comunicação, que me fez perder duas horas do meu precioso tempo, ontem. Agora, dá-nos o «CORREIO DA MANHû conta de que o «DAILY EXPRESS» revela ter o motorista de Diana de Gales estado a soldo de vários serviços secretos internacionais, tendo sido deles instrumento para eliminar a Infeliz Princesa. Isto é filão inesgotável. Claro que é difícil ver o Sr. Blair assinar uma sentença de morte para abrir caminho à inefável Camila, mas enfim, os mais crédulos ainda poderiam achar que o embaraço de coexistirem uma ex e uma actual consortes do Herdeiro do Trono justificariam essa patifaria. Agora meter os agentes dos serviços de informação da republicaníssima França ao barulho é que passa as marcas do imaginável. Em que é que a Pobre falecida constituiria ameaça tão grande para o Ocidente que operasse o milagre de articular tão rápida e eficientemente a habitualmente tempestuosa cooperação franco-britânica? A grande "prova" seria uma reunião que o condutor teria tido com agentes, antes do trajecto fatal. Não se refere de que organização. E nem parece ter sido tida em conta a explicação mais simples - a combinação do percurso, de forma a manter a segurança costumeira.
Já era tempo de obedecerem às derradeiras palavras de Lady Di: «Deixem-me em paz!».

Crime e Castigo

Tão entretidos andamos com o Livro do Prof. Carrilho, que nem damos conta de perigos muito mais sérios. Como a proposta do ex-governante português, naturalizado euro-bruxelense, José Barroso, que quer passar para o controlo de Bruxelas a maior parte das responsabilidades no processo de decisão concernentes ao Crime e à Justiça. Concomitantemente passariam estas matérias a ser objecto de votação por maioria dos Estados-membros, quando, até agora, requeririam acordo unânime. Sou mais do que insuspeito nesta matéria, pois defendo o endurecimento das sanções penais portuguesas. Mas oponho-me a tal mudança, porque é péssimo princípio deixar que o mais entranhado do que nos forma, as considerações sobre a delimitação e reacção ao ilícito criminal, possam ser ditadas a partir do Exterior. Quando isso acontecer, não será só a soberania estatal que terá diminuído, mas a própria essencialidade definidora de uma Nação que terá perdido, de vez, o sentido.

O Altruísmo e a Moral

Ao contrário de muitos pormenores folclóricos de lutas decorrentes de perseguições institucionais fantasiadas, penso que a concessão aos homossexuais da possibilidade de dar sangue levanta problemas que importa discutir. À partida não vejo inconveniente em que seja aberta tal faculdade, desde que seja controlado devidamente o líquido extraído. O que duvido é de que, neste momento, possa ser feito eficazmente, em todos os casos, por pressões falta de tempo e de recursos. Mas é uma situação que se espera venha a melhorar, pelo que há que pensar o tema, para o Futuro.
A primeira reflexão que assalta é a interrogação sobre se a doação vital é um direito. Pode-se argumentar, com bons fundamentos, que se trata antes de um imperativo de consciência, logo, da esfera interna do dever, pelo que a isenção dele não seria estigmatizante. Mas o reverso também é possível: dizer que limitar a uma pessoa o direito de, ajudando o próximo, se tornar melhor e de se ver como tal, pode constituir injustiça.
Talvez a melhor solução fosse aceitar a seiva doada a partir dessa proveniência, sendo guardada em separado e ministrada apenas nos casos em que o doente que a receberia pudesse exprimir a vontade e, fazendo-o, dissesse não se opor a contributo com essa origem. Porque a posição de quem se lhe oponha, seja por temor, ou por princípio de irredutibilidade, também tem de merecer respeito. Resta é saber se este apartheid sanguíneo contentaria os doadores.

Monday, May 22, 2006

Tão Longe, Tão Perto

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Por que será que uma das mais famosas fotografias de sempre, «A Casa de Mr. Henry», de David B. Woodbury, evoca, para mim, a misantropia? A nudez das árvores próximas até indicia afecto, mas claro, não sendo pessoas,escapam ao conceito. A diminuta superfície do abrigo, com uma estrutura vazia ao lado, seria susceptível de indicar um projecto para mais gente do que ele, mas de planos estão muitas aversões cheias. Talvez o elemento decisivo seja a distância da povoação, que acentua o isolamento. Mas, para avaliá-lo, seria preciso certificarmo-nos de que para lá se não dirige o olhar. Ou, ainda mais difícil, na hipótese de se dirigir, que tipo de sentimento trairia. Este é o aparato de que necessita a fotografia, porque, na acção, é perfeitamente possível ser misantropo no meio dos Homens.

Estou Justificado!

Nesse cânone da conformação dominante que é o «DESTAK» leio que «os filhos de fumadores têm duas vezes mais possibilidades de roubar, meter-se em brigas e iniciar a vida sexual muito cedo. Estes jovens mais que duplicam a hipótese de consumirem drogas e álcool e quadriplicam o risco de praticarem sexo sem protecção.». A minha primeira reacção foi rejeitar liminarmente o fundamento da notícia, porque atentatória do livre arbítrio, que tenho por intocável. Mas, depois, fiquei a matutar. O meu Pai era um Fumador inveteradíssimo. 50%, portanto. E, realmente três em seis das características nocivas citadas estão presentes na minha biografia. Outros 50%. Adivinhem quais! Uma pista: nunca roubei um tostão furado, não tomo iniciativas violentas e a droga mais perigosa que consumi foi Coca Cola.
A investigação sabe da poda.

I Love KGB

Tendo crescido durante a Guerra Fria, nunca pensei vir a poder gostar do KGB. Mas a vida prega-nos partidas. Comecei por ser entusiasta de um bar com esse nome, em que um Querido Amigo era figura proeminente, pelo que nele tinha tratamento de favor. Continuei
encantando-me com as KGB Girls, cujas fotografias estão na net e aconselho a Todos, só não as publicando por já haver esgotado a minha "quota de Miúdas" de hoje. Mas à terceira é que é de vez: o fim da ressaca, prometido pelo Suplemento Natural KGB, que se diz ter sido desenvolvido pela secreta soviética, para, evitando que o organismo faça do álcool acetaldeído, logo erradicando a produção de ácido acético, permitir aos seus agentes embebedar as vítimas sem virem a sentir os efeitos da pinga. A minha dúvida é uma só. Com tanta depuração feita por motivos de imperativo profissional, sobrará algum espaço para o prazer?

O Elogio da Leitura

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Não serão calhamaços, mas tantos objectos de interesse ledor não podem deixar de configurar reforço de substância a um título inspirado noutro, que se revestia das cores do Humanismo e da recusa de abandonar o Catolicismo. Obedeçamos, pois, ao apelo de Karen Mulder.

Festa Sem Glamour

Tanto quanto posso lamentar um qualquer inêxito das celebrações partidárias, sempre me impressionou o desinteresse a que o público em geral vota os congressos partidários que não desfrutem do acicate de uma lutazinha pela liderança. Assim o do PSD, neste fim de semana, a que se não ligou nenhuma e que até o Prof. Marcelo se viu obrigado a referir brevemente. O problema é que se o Dr. Mendes não o tivesse convocado, com as "directas" que o precederam, teria os de dentro a maçá-lo. Tendo-o feito, corre o risco de maçar os de fora. E quando afirma «não se resignar com a situação em que o País se encontra e com a propaganda do governo», quer dizer que também o não faz face à que atravessa; e que gostaria de poder ser ele o beneficiário da publicidade que condena. Tem agora um grande desafio - o de evitar que a condução socrática dos negócios públicos, para além de o levar a não se resignar, o force a resignar.
Mas atenção, os nossos Compatriotas, precavidos, já estão a gozar as delícias do Campeonato do Mundo de Futebol, guardando-se de alguma impossibilidade de o fazerem depois dos resultados. E essa concorrência é fatal para uma Oposição.

Engodos e Anzóis

Sempre me impressionou a campanha da Esquerda contra o Prof. Cavaco por ter dado à Cultura uma mera secretaria de estado, em vez de um ministério. Parece-me portanto muito pobre a promessa do Dr. Castro de, quando o PP voltar ao governo, voltar a contemplar o Turismo com a ministerial dignidade. O que interessaria e seria boa oposição seria divulgar as alternativas programáticas que se propõe, em vez destes ping-pongs de orgânicas governamentais, que consomem rios de dinheiro, algum tempo e pouco adiantam. Mas percebe-se a razão: uma criteriosa explanação de medidas a implementar nunca dariam uma caixa jornalística como a de uma restauração ministerial, que é coisa simples de apreender e ainda mais de anunciar. Acresce que a promessa foi feita nas II Jornadas Abertas Sobre Turismo. Será que o caminho vai ser prometer uma pasta ao mais alto nível governamental a cada ramo da actividade dela desprovido? Pura graxa, mas enfim...

Caixa de Pandora

Isto não costumava acontecer no Reino Unido. Mostra a degradação a que chegou o Home Office da nossa Velha Aliada. Um alto funcionário de um centro de concessão de vistos de residência a emigrantes viu gravada, em vários suportes, sem o saber, uma proposta sua a uma oriunda do Zimbabwe, vítima de violação, no sentido de ajudá-la, em troca de sexo. Claro que o novo Secretário (ministro), Reid, não pode, tendo assumido a pasta há duas semanas, ser culpado, mesmo politicamente, de ter mantido no cargo o D. Juan dos (já) Vistos, mas pode e deve ser seguido o rigor com que reagirá ao caso, tanto mais que um inquérito com dois meses concluía que nenhuma situação de abuso digna de nota se verificava naquele paradisíaco ramal da administraçao. O que me incomoda mais é o que terá passado pela cabeça da rapariga de 18 anos, ao ver-se saltar da frigideira para o fogo, numa espécie de «LILIOM», de Fritz Lang, sem segmentos cómicos, porém.
E o mesmo sector ministerial está a braços com outro pequeno engano, segundo a designação oficial, em que erros de identificação levaram a que 1500 honestíssimos súbditos de Sua Majestade tivessem sido etiquetados como criminosos, enquanto que um número aproximado de infractores à lei perigosos foi deixados seguir sem qualquer vigilância.
Perante isto, não admira que o Sr. Blair tenha voado para Bagdad. Os problemas de lá parecer-lhe-ão muito menores...

Sunday, May 21, 2006

Antes da Net

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Não haveria rede informática, com blogosfera e e-mail, mas a avoenga conversa sempre permitiu encontrar interesse na Existência, sem nos obcecarmos com o nosso ensimesmamento, transferindo para a troca sem preços e o contacto com alguém diferente o Interesse de continuar na Vida. Uma das fotografias de Brassai de que mais gosto: «Conversação», tomada em Madrid, no ano da Graça de 1950.

Entrar no Eixo

Quem hoje tenha visto «O EIXO DO Mal», na «SIC NOTÍCIAS», terá ficado muito esclarecido sobre a concepção que o Bloquismo de Esquerda tem da humanidade dos elementos das forças policiais. Daniel Oliveira procurava distinguir os revoltosos de São Paulo dos terroristas, porque, neste motim, quase só teriam morrido criminosos e polícias, sendo patente a «intenção dos atacantes de não matarem gente». Claro que qualquer um pode ter um lapso verbal e não devemos massacrar o opinador por tão pouco. Como devemos negar qualquer acinte, uma vez que, chamada a sua atenção por José Júdice para o facto de os mantenedores da ordem serem incluídos no conceito, prontamente pediu desculpas. Mas o modo como estruturou a frase já deve ser tido em conta. E percebeu-se que queria diferenciar as situações pelo que considerará o escasso número de inocentes vitimados. Ora aqui é que bate o ponto. Os membros das forças da ordem poderão ainda ser tidos como gente, mas, para aquela parte gauchiste da intelectualidade, proteger a sociedade e reprimir o crime implica uma certa dose de culpa...

Pobre Lisboa!

A estatuária lisbonense é uma das muitas desgraças nacionais. Salvo uma extraordinária excepção, a de D. José, no Terreiro do Paço, poucas mais se aproveitam. Nesses casos não estão os horrores da Rotunda e do Rossio, mas aí quase se é tentado a dizer que são casos de justiça post mortem. Do repressor da Trafaria e matador dos Távoras já falei. Hoje calha a vez ao mais indigno indivíduo que cingiu a Coroa Portuguesa, após ter sido posto a andar do Brasil, que a impaciência para aturar os seus desvarios por lá acabou por sobrepor-se à gratidão pela independência. Optou por vir impor ao País em que nascera a vontade dos estrangeiros inamistosos. Todos os que alguma vez gostaram dele acabaram por arrepender-se, salvo o velho Terceira que aplicava a sua canina fidelidade castrense à imagem que construíra de um "soberano militar". Do quisto que encima o fálico pedestal da antiga Praça das Chapelarias, é bom nem falar. Parece ter sido uma escultura francesa do infeliz Maximiliano do México, agente de Napoleão III naquelas paragens, a qual, acabando por não embarcar, viria, em 1870, substituir o horendo Galheteiro que a precedera. Sobre o monumento escreveu Ribeiro Saraiva, Representante de El-Rei D. Miguel em Londres, numa prosa magnífica que prefaciou um poema satírico menos feliz na forma, de 1876:
«Quando a gente lê as baforadas nojentas do "Liberalismo" Portuguez, o mais criançal, còmico e ridìculo de quantos este sèculo de maravilhas tem produzido, e se reflecte em todos os "nobres" e "patriòticos" elementos que o compõem; vê-se então que faz honra, na verdade, a qualquer pessôa o enfeitar-se, empanturrar-se, com a bella alcunha de "libaral" (isto é, liberanga-a maior parte nem sabe pronunciar bem o falso nome caricato que se querem arrogar; e com razão alteram tambem o da meretriz que tomam pela verdadeira deosa, chamando-lhe "Libardade," abrindo a bôca até ás vastas orelhas-benza-as Deos!).
Custa a crer que pessôa decente, dizendo-se Portugueza e de vergonha, não a tenha de pertencer a um partido tão louco, tão pueril, tão baixo, tão vil, tão anti-nacional, tão degradado, tão ridículo; que possa olhar sem pejo e detestação para o Mono encarapitado no tocheiro do Rocio (a vender cautelas-como dizia ha dias, um velho Miguelista no Campo-de-Santa-Anna, segundo a respeiìtavel autoridade do Trinta Diabos, de 24 de Setembro); do espantalho inaugurado ali pelo heroe a quem o fallecido conde da Taipa tão aptamente caracterizou, nas breves palavras-"Doido por fora e tôlo por dentro!"
Á vista deste elogio, tão fùnebre quanto verdadeiro, pode afoitamente dizer-se, que o heroe é digno do panegyrista, e o panegyrista digno do heroe,-»

O Proveito da Fama

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Numa fraternal homenagem lembrou o Jansenista: algumas das beldades que por aqui têm safo a mediocridade deste blogue seriam dignas de figurar na vergonhosa mas incontornável peça decorativa que é o calendário de garagem. O que me levou direitinho à Rainha italiana dos ditos, Manuela Arcuri. Atenção, antes que surjam reservas, quero garantir que este não é o habitual momento relaxante, trata-se numa incursão... na Economia! Não é que a Natureza haja economizado muito nos dotes com que brindou a nossa convidada, o que se passa é que um estudo científico revelou que os funcionários estatais ou os assalariados das empresas que têm imagens da Moça no seu PC não conseguem, estatísticamente, uma produtividade superior a 58% da média. É o "Efeito Arcuri", que já gerou teses. À atenção dos Leitores desse ramo da Ciência, mas mesmo para um leigo não custa nada a crer...

Um Gesto, Dois Significados

Sem querer agoirar, agora que o Fernando Santos encontrou a Missão da sua vida, apetece-me aproveitar a pachorra da santidade dominical para uma pequena reflexão sobre o hábito de agitar lenços brancos, quando o público sedento de sangue, quer ver um treinador despedido. Curiosamente, este gesto, nos combates de gladiadores da Antiga Roma e suas dependências, tinha o sentido inverso: apesar de menos conhecido do que o polegar ao alto, tinha o mesmo objectivo, de sinalizar a César que o Povo queria ver poupada a vida do combatente vencido. E o que me ocorre é salientar como, tendo diminuído a crueldade do espectáculo, esta foi transferida, inteirinha, para a falta de piedade do espectador para com o interveniente. Substituiu-se a ferocidade das apetências pelo irremediável horror à derrota. O que, se dignifica o gosto, não abona quanto ao desportivismo.

Ver Pela Sua Medida

Como as caixas de comentários do Retorica e Persuasão não se encontram abertas, quero agradecer por esta via ao Américo de Sousa as palavras mais do que indulgentes que teve para com esta masmorra, a propósito do aniversário. Titula essa Referência Bloguística do misantropo um por mim (hélas!) pouco merecido texto como «Cuidar dos Amigos». Isso foi o que Ele fez, nestas generosíssimas palavras. E com desvelo extremo.
Mil Graças e Abraço apertado!

Saturday, May 20, 2006

Uma Baralhada

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Diziam que era estrangeiro porque pensavam como inglês o Queiroz. Afinal saiu, em grego, o Fernando Santos. Lá vai o Caríssimo Autor de Horizonte ter de voltar a pôr o "G" no meio da identificação.
Mas há mais. Doravante, quando nos referirmos ao Engenheiro, todos os Leitores desatarão a dar tratos ao miolo, pensando se será o Treinador, o Primeiro-Ministro, ou o Confrade de masoreivainu.
Tenho o Técnico que o Benfica contratou por homem conhecedor do ofício, desde os tempos em que o via jogar no clube cá do lugarejo. O pior é que poderá ser demasiado honesto para um meio tão mafioso como o balneário de um Grande Clube.
Tem uma coisa a seu favor: É Águia desde bebé e frequentador do respectivo campo com pouco mais de um ano de vida. Assinou contrato com o SLB por duas épocas. Esperemos que aquele que foi o «Engenheiro do Penta» se consiga transformar no "Engenheiro do Bi".

As Mutações da Aventura

20 de Maio foi data da morte de um grande Descobridor, Colombo. E a do êxito de Outro, a chegada de Gama ao seu destino. Mas séculos mais tarde, em 1927, foi também o da pioneira aventura nos céus protagonizada por Lindbergh. De ascendência sueca, para combinar com a foto de baixo, a sua odisseia primou pela procura do que se conhecia, quando as outras viviam do encontro com o desconhecido. Num caso, um continente, no outro uma passagem marítima. Nada disso se passava aqui, sabia-se que existia a Europa do lado de lá e que por ar se poderia atingi-la, toda a dificuldade residindo nos obstáculos que, aliás, terão vitimado os concorrentes directos Nungesser e Coli, procurando o mesmo objectivo, no sentido inverso. Também o signo do conhecimento marcou toda a vida deste Homem. Filho de um congressista, o que em cada circunscrição americana é pertencer a uma espécie de "família real", teve cobertura jornalística incomparável antes e após a aventura com o grande parceiro da sua vida, o avião The Spirit of Saint Louis, até que transformou a relação num ménage à trois, casando com a filha de um embaixador, ensinando-a a voar e fazendo delirar os leitores das fofocas publicadas com "o romance entre o Herói e a Poetisa". A tragédia havia de chegar e constituir um dos mistérios do Século XX, por se supor nunca descobertas todas as ramificações dela: um dos filhos do casal foi raptado e assassinado sem outra razão última do que a da notoriedade dos pais e a malvadez dos homens. A mesma publicidade que os fez fugir para a Europa, com o irmão da vítima e a mãe à beira do internamento definitivo em manicómio.
No nosso continente veio a política a intrometer-se na biografia, com a contestação que gerou a sua aceitação de uma condecoração por Goering. Penso que, em vez de simpatias pelo regime, se deve encontrar a explicação no entendimento privilegiado entre aviadores de mérito, já que o Marechal do Reich também o tinha sido. Mas a sua militância contra a intervenção americana na Segunda Guerra Mundial gerou polémicas estrondosas com organizações judaicas que a advogavam. É a velha questão do ovo e da galinha saber se o anti-semitismo foi causa ou consequência dessa divergência. Contudo, a sua postura durante o conflito foi inatacável, voluntariando-se para o serviço, e, recusado, participando como conselheiro civil, mas levando a cabo dezenas de missões de combate, no Pacífico. Promovido ao generalato por Eisenhower, ainda teve tempo de realizar uma palestra em Portugal, onde expressou a simpatia profunda que o Estado Novo lhe suscitava. E terminou-a ecologista. A sua vida, antes de outras de privacidade evaporada, como a de Lady Di, foi bem sintomática dos males que a consagração pode trazer à felicidade individual, quando conduza a um acompanhamento exaustivo por estranhos. Outrora, os heróis procuravam a fama. Já se viviam os tempos em que era preciso começar a fugir dela.

«...Que Há-de Levar-te à Victoria...»

Nesta luta contra o massacre de espécies, temos de considerar este exemplar de um subgrupo em vias de extinção, embora na Suécia, de onde provém, ainda haja notícia de um núcleo importante. Antes que surjam reacções chocadas, devo assegurar que o bikini é uma mera imitação, não pele autêntica; e tem a virtude de chamar a atenção para o imperativo de preservar.
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Senhoras e Senhores, Victoria Silvstedt!

Agência de Relações

A leitura do «CORREIO DA MANHû é sempre proveitosa. A de hoje surpreendeu-me pela dimensão que dá da violência doméstica que em Portugal atinge muita gente, Mulheres, sobretudo, quer em termos de quantificação pecuniária, quer no que toca a marcas pessoais e profissionais que deixa. Por outro lado, revela uma seita inglesa com sede em Darlington, a dos Kaotianos, que escraviza elementos do Belo Sexo, com trabalhos forçados, prestações sexuais e espancamentos incluídos, apesar de, quer carrascos quer oprimidas, lá estarem em base de voluntariado.
Empenhado como está em resolver os problemas reais do País, o imaginativo misantropo concebeu um plano: exportar para o Reino Unido, para o grupo do Sr. Lee Thompson, todos aqueles que sintam especial atractivo na inflicção de sevícias. Ficarão muito melhor servidas as Senhoras que integram essa peculiar comunidade, pois ganharão verdugos competentes; os ditos, porque não terão de pagar tanto pelos seus actos, desde que se não entusiasmem demais. E a que julgo ser a Maioria Feminina do nosso Portugal, a Qual poderá procurar relacionamentos menos revoltos.

Noves Fora, Nada

Desde o princípio que era previsível este fim para l´affaire Envelope 9. Dos termos da notícia, aquando da sua publicação, já decorria que os magistrados do Ministério Público envolvidos no caso da divulgada lista da facturação detalhada de contactos telefónicos de várias Figuras Públicas não iriam ser inculpados de coisa alguma, já que a própria configuração estabelecida no bruá subsequente os dava como não tendo pedido esses dados. A grande questão é, evidentemente, a de saber por que raio demorou tanto tempo uma investigação urgente. Parece evidentíssimo que apenas para impedir que os responsáveis da PT a quem a imputação da asneirada tocaria não viessem a ser punidos. Ao contrário dos jornalistas envolvidos, o que, para o Futuro, fará pensar duas vezes os que quiserem levantar semelhantes lebres. Da demora é que há que assacar responsabilidades aos poderes.
Tudo isto é, ou poderá ser, demasiado consensual. O que não é, certamente, é o regime que eu defendo para os elementos da Classe Política. Acho que todos os titulares de cargos públicos deveriam ser obrigados a um estatuto em que fosse públicitada a lista dos seus contactos telefónicos. É muito diferente de escutas, note-se. Creio que o Público tem todo o direito de saber com quem os seus políticos falam, tal como tem de conhecer os bens de que dispõem. Seria isto um sacrifício da privacidade? Claro que sim. Mas eu pretendo uma classe política sacrificada, não regalada, que é sinónimo da sua ausência de vocação para o exercício do poder. E pode ser tão ou mais relevante para a formação do juízo sobre um homem público saber com quem se relaciona, como que rendimentos e património detém. Quem não quiser sujeitar-se, enverede por outro modo de vida. Caso contrário, pairará sempre a sombra de ligações perigosas que ampliarão suspeitas, fundadas ou espúrias.

O Aforismo Prescrito

Serviu o dia de ontem, através do que tantos Amigos escreveram sobre o aniversário desta casa, aqui, ou nas respectivas Páginas, para demonstrar como não tem qualquer fundo de verdade uma frase de um Misantropo a sério, de grandes dotes literários e meu Preceptor de Reacção: Antoine de Rivarol. Rezava assim:
«Em vinte pessoas que falam de nós, dezenove falam mal e a vigésima, que fala bem, expressa-se mal».
Não tenho dúvida de que a primeira parte da asserção será perfeitamenta aplicável ao caso vertente, abundando por aí fora a proporcional desaprovação do que aqui se faz. Mas todos os Testemunhos Amigos da véspera serviram para rebater a afirmação complementar. Não só Os que dirigiram palavras agradáveis ao ME se exprimiram admiravelmente no que à forma tange, como a menor correspondência dos Seus ditos com o Real é pura consagração da Bondade, donde qualquer maligna partícula se encontra erradicada.
Dou e darei sempre Graças por essa data.

Friday, May 19, 2006

Como Me Sinto

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Por tudo o que os meus Leitores aqui deixaram: «O Homem com a Cabeça nas Nuvens», de Jean-Pierre Caytaire. Bom fim de semana.
 
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