O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, January 31, 2006

As Correntes na Blogosfera

En Defensa de Occidente teve a bondade de me convidar para um jogo blogosférico do género corrente. Cada bloguista participante tem de elencar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.
Ora bem, quanto às minhas manias:

- Às Sextas-Feiras 13 nunca saio de casa, com medo do que possa acontecer.

- Quando elaboro a postagem da noite, aqui no misantropo, não dispenso ter sobre os joelhos duas gatas.

- Odeio autocarros. Prefiro demorar o triplo do tempo num percurso, a entrar num.

- Tenho que, ao deitar-me, colocar os sapatos rigorosamente alinhados, um ao lado do outro. Se, de manhã, os encontro tortos, começo o dia mal disposto.

- Cada vez que começo um livro abro-o ao acaso numa página. Tento sempre meditar sobre a primeira frase completa que leio. Muitas vezes é difícil...

Bom. Agora os Bloguistas que escolhi para a jogatana:

FG Santos
Nelson Buíça
João Villalobos
Kamikaze
Zazie

Projectos Desfolhados

A propósito da notícia veiculada pelo «PÚBLICO» de que os universitários norte-americanos exibem níveis de iliteracia muito superiores à média, directamente relacionados com a concentração na aprendizagem que desenvolvem, reflicto em tudo o que de mal disse Junger sobre o especialista e a sua era. E penso, melancolicamente, nesses pobres seres que de nenhuma especialização se podem ainda ufanar, condenados ao autismo dos dias de hoje, também ele de rejeitar, na medida em que é aferido por critérios tão comezinhos como o preenchimento de cheques. Alturas em que dou razão a todos aqueles que lembraram a nacessidade de cultivar, ao lado das habilidades cerebrais, a integridade da coluna vertebral. Em que Autor estarei a pensar?

Difamação

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Sou o último indivíduo a que possam assacar alguma preferência por beldades esqueléticas ao jeito de Kate Moss. Mas parece-me epidérmica ausência de espessura, diria mesmo uma carne viva da vigilância, a celeuma que causou a apreciação de Heidi Klum, quando classificou a candidata a modelo de um concurso de cujo júri fazia parte, ao dizer que ela era «demasiado gorda» para o efeito. Tem vindo a ser acusada de incitar as Mulheres à magreza excessiva. Não vejo base para tal acusação, se tivermos em conta que a sua morfologia é um cabal desmentido dessas alegações. Agora, procurar penalizar alguém por ter feito, com rigor, o seu trabalho... é como vir dizer que um júri que eliminou um candidato a uma promoção na administração pública, por insuficiências curriculares, o está... a incitar à competência. É mesmo de quem não tem mais que fazer!

Os Traços da Convicção

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A Festejada de hoje é um caso curiosíssimo. A sua incontestável beleza sorri muito mais quando está séria do que quando abre a expressão. Participou em filmes importantes, como «SPARTACUS», ou «GUYS AND DOLLS», de realizadores prestigiadíssimos. Mas o papel pelo qual a amo é «ELMER GANTRY», onde entrega a sua intransigência de pregadora religiosa aos encantos rasteiros de um evidente vigarista, a que dá vida Burt Lancaster, no seu melhor. É filme a que volto sempre e bastava ele para felicitar Jean Simmons.

A Força das Imagens

Não é o ingénuo pessimismo de acreditar que o que os outros possam dizer de nós será, forçosamente, mal. As reacções que a publicação de cartoons sobre Maomé na imprensa dinamarquesa e norueguesa está a levantar, mesmo a nível oficial, entre os Países Árabes menos anti-ocidentais, como a Arábia Saudita e o Egipto, repousa na própria reprovação da representação do Profeta por imagens. Com efeito, a cabeça do Fundador do Islão com uma bomba em lugar da cabeça ou a sua representação como guerrilheiro, ou suicida, por si só, não daria ensejo a tanta má vontade, já que o explosivo engenho e a vocação mencionada até desfrutam de razoável prestígio nos dias que correm. O problema reside na representação plástica do Arauto do Maometismo, proibida antes para impedir a idolatria, proscrita hoje para afastar a profanação. Que é encontrável numa qualquer brincadeira inocente, que vê a inocência negada por ser brincadeira. Enquanto não perceber isto o Ocidente herdeiro do Cristianismo não perceberá coisa alguma. O Judaísmo, que com ele compartilha a cultura e o culto do humor, já se apercebeu da diferença. Mas claro, por muito americanizada que esteja, trata-se de uma Cultura que também encontra a sua fonte na interdição das imagens. Facto que, paradoxalmente, faz com que não coincidam entendimento e compreensão.

Prefácio da Baixeza

Deve-se ao notável Duas Cidades publicação da intervenção parlamentar do Grande H. Barrilaro Ruas, que ainda tive a Honra de conhecer pessoalmente, onde é aflorado o ideário dos revoltosos republicanos de 31 de janeiro de 1891. Na véspera de uma Tragédia maior, cumpre fazer uma breve referência ao que foi a fonte de juventude de um credo que se arrastava colado à borda das calças do Henriques Nogueira, sem que alguém lhe ligasse a mínima. Cavalgou alegremente o equídeo odiado que foi a imagem do "ultimato inglês" do ano anterior para estender o seu prestígio a uma multidão de mestres-escola, médicos paroquiais e farmacêuticos de província que tinham sobre os seus influídos a vantagem de tomo de uma vaga noção de onde ficava África. O movimento, propriamente dito, foi o costume português. Umas quantas unidades que foram ocupar a Câmara Municipal do Porto, à espera de serem cercadas. Foram-no. Mas o movimento falhou por acaso, como 19 anos mais tarde triunfaria na Rotunda pela mesma razão: o grau de teimosia de quem estava circunscrito. Em 1891 era inferior ao dos empreendedores do cerco. Em 5 de Outubro de 1910, pela tenacidade do Comissário Naval Machado Santos, que toda a vida quis coisa diferente da que originou e por isso foi repugnantemente assassinado na Noite Sangrenta, teve melhor sorte. Que foi o azar de todos nós. Mas o Portugal contemporâneo sempre foi assim. Na infausta tentativa de complementar a Monarquia do Norte, implantada por Pava Couceiro, as forças monárquicas comandadas por Azevedo Coutinho e Aires de Ornelas foram, no pós-sidonismo, tranquilamente, acampar para Monsanto aguardando que as cercassem. No 25 de Abril de 1974 Marcello Caetano deu idêntico brinde, refugiando-se no Carmo. A história das revoltas políticas em Portugal está assombrada pelo vulto dos militares e pela ausência de correspondência entre a fé doutrinária e a competência golpista, que, sem a primeira, qualquer coronel centro-americano poderia leccionar. Nos acasos do Acaso reside a nossa tragédia maior. Mas isso é pecha de quem não soube manter, após o miguelismo, o enraizamento do Portugal tradicionalista capaz de resistir às sereias do tempo. Que culmina em encarar como curiosidade histórica a fé dos maiores que urge ressuscitar. Essa é a nossa tarefa. Mas só saberemos se delas somos capazes no fim. O que se pode aconselhar é: resistir, qualquer que pareça ser a força do cerco. Quem tiver mais vontade, que não abunda no nosso País, vence.

Fogo Contra Fogo

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«Um Nu Reclinado Frente ao Fogo», de Delphin Enjolras.

Leitura Matinal -254

Sendo o elemento do qual se necessita, mas cujo carácter nocivo, quando não domado, é mais perceptível, o fogo é a entidade ideal
para constituir-se como emblema da ambivalência do exterior, afinal nada mais do que a da receptividade humana levada ao extremo. A mesma que depende da protecção e do mimo, enfim saciando-se, chorando pelo leite, ou repelindo o seio materno, quando satisfeita. Assim, quando na companhia ambicionada, o fogo pode
tanto ser a metáfora do sentimento que a ela une, como a condição que a afasta tornando visível a intromissão dos outros, porque a eles fomos tornados visíveis pela luz das chamas. É que gostando de heroicizar os nossos sentimentos com ardentes imagens de perigo, a nossa grande urgência é o conforto. O nosso, que não
prescinde do calor; e o dos que nos rodeiam, se tivermos o egoísmo limado pela urbanidade, ou, ao invés, por via dele quisermos reservar o momento único a quem único é, não proporcionando como espectáculo o que está reservado à mais íntima das partilhas. No fim de contas, a falha em articular os nossos desejos com os dados do momento, expressa na queixa do poema, é feliz resumo da natureza e condição humanas.
De Ibn Sâra, editado em português por Adalberto Alves:

cai a noite.
sob o manto da sombra
o braseiro é um bálsamo
que sara o aguilhoar
dos escorpiões do frio.
ardente, talhou as mantas,
o nosso cálido abrigo
onde frio se não consente.

o incêndio na lareira
(nós olhando fascinados
e a grande taça de vinho
que vai passando em redor)
mal nos permite a intimidade
e logo nos afasta.

é como mãe,
que umas vezes amamenta
e outras nos retira o peito.


congraçado numa união tremenda com
«Fogo», de Sidney Goodman, «Fascinação»,
de Christine Malaurie e «Aporia da Intimidade»,
de Jan Esman.

Em Brasa

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«Uma Conversa à Lareira», de Adrien Van Ostade.

Hibridismo Ameaçador

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A «Quimera». Para alimentar a inquietação jansenística, tanto como a curiosidade de Quem viaja. Quer pelo ameaçador desta mutante criatura do homem, quer pela simbologia da perseguição fantasista, quer por tudo o mais que com a bioética e o espírito possa relacionar-se.

Monday, January 30, 2006

Tigre de Papel?

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Período conturbado este, em que somos informados de que a burocracia é a responsável pela lentidão com que o paque automóvel se renova, ao mesmo tempo em que, convenientemente, o Eng.º Sócrates cavalga a montada de um pacote contra a papelada. Algumas das medidas são dignas de apreço, embora tenha as maiores dúvidas sobre a bondade de pôr profissões que prosseguem interesses de parte, como os advogados, a autenticar documentos. Como desconfio de que a nossa economia não tem a elasticidade que a faça expandir-se significativamente, pelo facto de se minorar a papelada em volta da constituição de empresas e da sua contabilidade. O que há, em primeiro lugar, a lembrar é que se deve começar pela própria casa, o que significa que a prioridade deveria ter sido aligeirar os monstros de excedentes de procedimentos e de funcionários administrativos mal colocados que são os Ministérios da Educação e da Saúde.

Imagem da Contestação


Não contando os filmes datados de antes dos códigos cinematográficos conhecidos como Hayes, creio que terá sido Vanessa Redgrave das primeiras vedetas a aparecer em filmes importantes, com os seios desnudados. Sei que o Jansenista gosta dela no grande «BLOWUP». Eu, a primeira fita que me lembro de ver protagonizada por ela foi «YANKS». Mas outras actuações em obras que ficaram, tais «JULIA» e «MORTE EM VENEZA», para não falar na entrada na pele de um dos seus ídolos, a filobolchevista bailarina Isadora Duncan. Tantas foram as posições políticas esquerdistas radicais que tomou, que correria o risco de uma nova reprimenda do Engenheiro, não fora um facto que, para ele, como para o não menos Caro FG Santos, ser desculpante: ter integrado a luta da O.L.P.. Mas é uma Actriz incontornável. E faz hoje anos.

O Pagador de Promessas

O Presidente do Conselho transalpino, Silvio Berlusconi, numa reunião promovida na Sardenha por um religioso que é presença televisiva habitual entre os seus compatriotas, dizendo que« não queria deixar ficar mal o Padre Massimiliano», comprometeu-se a uma completa abstinência sexual, até ao dia 9 de Abril, data em que se disputam as eleições. Muitos querem que a versão posta oficialmente a correr, a de uma ascese em honra do anfitrião, não passa de operação de propaganda eleitoral antecipada. Mas o misantropo adianta duas alternativas: pode bem ser que a atitude seja antes de incluir no fervor cultual de prometer um sacrifício, em troca de um milagre. Sem excluir que se trate de uma consequência do esgotamento em que o dono do A. C. Milan tenha ficado, ao, quebrando as promessas eleitorais, haver exercido a actividade a que agora, temporariamente, renuncia, sobre muitos milhões de italianos...

Branqueamento Histórico

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Como alguns Caros Comentadores deste blogue acreditam serem as piores das crueldades, verduras de meninos de coro:
«Os Boxers e as Sua Vítimas», postal de Chabannes de La Palice.

O Nó Górd(on)io



Foi o título que Ernst Junger deu a um livro seu, sobre a problemática de Ocidente e Oriente. Altura para homeagear um Homem notável que ao serviço simultâneo do seu País e do Governo Imperial Chinês ajudou, primeiro na restrição do tráfico do ópio, depois na eficaz repressão dos rebeldes Taiping, evitando horrores como os cometidos mais tarde, durante a Revolta dos Boxers. Mais lembrado pelo seu martírio sudanês, deveria sê-lo sempre por esta memorável acção no Oriente, salvando Xangai e recebendo o título de Titu, uma espécie de macharelato chinês: o General «Chinese» Gordon. Dedicado ao Je Maintiendrai e ao Pedro Botelho, que despoletaram o tema.

Umbigos Ligados

Sabe-se como o uso de imagens pelos políticos portugueses costuma redundar em catástrofe. A constatação voltou a ocorrer-me, ao ler o depoimento de uma figura de relevo do PSD e seu cabo açoreano, o ex-Ministro Costa Neves, ao sustentar, no «DN», que «o PSD deve deixar de olhar para o seu umbigo». Eu ignorava que fosse aí que o mencionado partido tivesse postos os olhos. Se assim foi, está explicada a razão de as últimas legislativas terem para ele resultado num grande buraco. Mas a expressão, longe de se remeter a uma qualquer perversão fetichista, ou, melhor, parcialista, poderia indicar o caminho que tornasse os partidos menos partidários, ou mais conscientes das necessidades da generalidade da População. Seria assim, caso esse olhar inamovível tivesse como objectivo detectar o cordão umbilical que liga a parte à Nação. É, desgraçadamente, preocupação que se encontra arredada da natureza dos partidos; e este não é excepção. Na Grécia Antiga, o Oráculo de Delfos era apelidado «O Umbigo do Mundo» e todos para ele volviam os olhares. Por cá, quando se encontra uma orientação para essa parte anatómica, preconiza-se a sua supressão. É natural, cada um tem o umbigo que merece.

O Perseguido do Tempo

Por uma vez não no sentido de "Época", mas no meteorológico. Fiz-me eu à queda da neve, louvando o frio e dando como alter ego o Abominável Homem da dita e neste cascaense e imprestável concelho onde habito ela resolveu não aparecer. Venham cá dizer, como fez o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que tal se deve à proximidade do mar! A ser assim, por que terão sido contemplados com os maravilhosos flocos brancos povoações de interioridade sobejamente reconhecida, como a Figueira da Foz e as de certas zonas do Algarve? Não adianta. Uns têm o dom, outros não. É que a Neve, contrariamente ao Sol, quando nasce não é para todos. Penso que à misantropia devo acrescentar agora uma aversão às injustiças do manto branco...

O Salto dos Obstáculos

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«Quimera», de Moreau.

Leitura Matinal -253

Seria impossível prolongarmos um pouco mais a nossa jornada pelo carreiro da Vida, se não aplacássemos o emboscado temor do fim
com a ajuda de paragens revigorantes, escalas necessárias à beira do rio que continua a fluir, para, descansando, nos entregarmos à face obscura da consciência, prenhe de enredados percursos sem a desculpa da procura, mas recheados com a angústia de não se achar a saída. Ora, sabe-se bem que estas deaambulações à
beira do abismo são igualmente expeditas em nos transportar aos vales luminosos e floridos, compensadores do pesadelo anterior, alternâncias condensadas e paroxísticas das fases sucessivas que vivemos, despertos. Sem espaço ou tempo estanques é na ausência da intencionalidade das elaborações do querer que se manifestam as profundidades menos adivinhadas do desejo, seja dirigidas
ao Passado, seja a puras candidaturas que, sem darmos por isso, propomos. É na compensação destravada do onirismo que irrompemos pelo território maleável - mas imoldável - da expansão de limites que transforma o impossível, o que, acordados somos obrigados a dar por irrealizável, na abertura da porta do alargamento de extensões susceptíveis de serem abarcadas pelos nossos olhos. Por isso o homem, metafórica ou literalmente, não suporta deixar de sonhar. E quando isso acontece, morre.
De António Machado, como se calcula, por José Bento colocado na língua portuguesa:

DO CAMINHO

XXI

Dava o relógio as doze... e eram doze
enxadadas na terra...
...Minha hora! - gritei -...E o silêncio
respondeu-me: - Não temas;
não verás cair a última gota
que na clepsidra treme.
Dormirás ainda muitas horas
sobre esta margem velha,
e numa pura manhã encontrarás
tua barca atada a outra ribeira.

XXII

Na terra desolada
o sonho tem veredas
labirínticas tortuosas,
parques em flor e em sombra e em silêncio;
criptas fundas, escadas sobre estrelas;
retábulos de recordações e de esperanças.
Frágeis figuras que passam e sorriem
- brinquedos melancólicos de velho -;
são imagens amigas
na curva florida do carreiro,
e rosadas quimeras
que abrem caminho... longe...


aperaltados com a ajuda de «Uma Margem de um Rio»,
de Albert Fitch Bellows, «O Sono e o Seu Meio-Irmão,
Morte», de John William Waterhouse e «A Barca», de
Pedro Garcia Espinosa.

Ocultada, Por Temida

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«Clepsidra», da Romena Ada Cartianu.

A Última da Série

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Aqui está a última fotografia do conjunto em que Marilyn Monroe deu, para a objectiva de Richard Avedon, as suas interpretações de grandes actrizes do passado. Esta, a que eu desconhecia, até o interesse do Pedro Botelho me ter decidido a publicar a colecção, é da Artista do palco e dos espectáculos musicais Lilian Russell, cujo retrato real se acrescenta, para que as comparações sejam devidamente feitas.

Sunday, January 29, 2006

Procura-se Retractação

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Fiquei tão magoado com o facto impensável de o João Villalobos ter afirmado que a Joan Bennett era feia, que não descansei enquanto não descobri uma fotografia que fosse capaz de o seduzir em força. Penso que este trajo estará suficientemente perto dos seus ideais, pelo que urge uma declaração formal de desagravo. Ficamos em ânsias.

O Figurão

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Problema maior de que a nossa literatura se ressente é o de não ter criado muitas personagens suficientemente fortes para servirem de paradigma de um comportamento. Em inglaterra há a galeria Dickensiana, com Pickwick à cabeça e o Doyleano Sherlock Holmes. França tem um Rastignac. por exemplo. Da Alemanha e da Rússia Werther e Oblomov, ou Raskolnikov, tornaram-se universais. E acima de todos, D. Quixote e Sancho deram tipos por todos reconhecíveis. Cá, as grandes realizações de Camilo - Calisto Elói ou Eusébio Macário - e aspersonagens de Eça, negativas como o Conselheiro Pacheco, Dâmaso Salcede e o Conde de Abranhos, ou positivas(?) como Fradique Mendes preenchem apenas as cumplicidades de especialistas ou de cultores apaixonados. Mas um há de que todos falam, os que leram as narrações dos seus sucessos, como os que só o conhecem de ouvir dizer. Por isso Luís de Oliveira Guimarães fez editar um interessante livro sobre o cavalheiro: «O CONSELHEIRO ACÁCIO (À Sombra de Eça de Queirós)», Portugália, Lisboa, 1945, prefaciado por Aquilino Ribeiro, em que são compilados os passos ecianos em que ele surge, lhe são atribuídos alguns títulos de obras e "citações inéditas", bem como é incluído um número impressionante de testemunhos prestados por vários escritores de relevo sobre a pompa vazia que caracterizava o "homenageado". Complementam ainda alguns desenhos evocativos, de várias origens, como este, de Santana. Tenho a felicidade de possuir o exemplar dedicado pelo Autor a outra personalidade importante das letras portuguesas, Luís de Montalvor. E considero realização bem actual e contributo psicológico importante para deslindar alguns dos vícios da nossa vida pública. Que não dispensa a leitura da grande fonte, a obra do Imortal Criador, já se vê.

Ficção Dominical

Aquela Casa há muito que já não é o que, outrora, foi. A machadada final ocorreu quando a Senhora Dona Eleições revelou à filha, a Pátria Pós-Abrilina que o seu pai não era o putativo palrador que se dizia. Desnorteada, a moça perspectiva o suicídio como única libertação da vida que leva, no prostíbulo da conhecida intermediária Dê-Dê, onde ia aguentando, na esperança de que aquele que acreditava seu progenitor fizesse, um dia, algo por ela.
Mas muito tempo decorrera sem que, naquela morada, se desse coisa alguma a quem precisa. O mais insistente dos mendigos, um paralítico chamado Ti Povo, lembrava com saudade o tempo em que ali morava o Senhor Real, quando, todos os dias, lhe era dada a malga com a sopa do Respeito. Ainda tentou continuar a receber algum das novas ocupantes, porém a dona da casa, em vez de lhe dar o caldo que conforta, meteu-lhe na mão um papel dobrado, dizendo-lhe que aquilo melhoraria a vida dele.
O pobre velho desconfiava. Mas não sabia ler. Foi pedir à Patroa da Menina - a qual tinha letras - que lhe dissesse o que era o papelucho e o que fazer com ele. Os olhos da Dê-Dê brilharam. Disse-lhe que era um boletim de voto. O mendigo pensou que era para assinar e disse que não o sabia fazer. A proxeneta sugeriu-lhe que, sendo analfabeto, bastava fazer uma cruz. O indigente não tinha caneta. Ela respondeu-lhe que a fizesse com o seu sangue.
O velhote foi na conversa. lá desenhou, o melhor que podia, a Figura que lhe tinham ensinado ser o Sinal do Supremo Bem. A instigadora, ao ver o signo no papel, recuou bruscamente. Mas lembrando-se da natureza do documento, rapidamente se apossou dele dizendo:
Agora és meu. Acabas de assinar um cheque em branco.
O pobretão tentou contestar:
- Mas... eu não tenho conta no banco!...
Ela, impiedosa, respondeu:
- Tens, tens, ou antes, tinhas. Era a tua alma. Acabas de transferir os fundos para mim.
O espoliado gritou, num transe de angústia:
- Quê?! Quem és tu?
A resposta veio, implacável:
- Nunca te perguntaste o que queriam dizer as minhas iniciais? "D-D"? O meu nome é Democracia. Ainda não és capaz de adivinhar o meu apelido?
- Diabo!
- Sim, sou eu.

A Face Oculta e a Visível

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«O Vidente», de Britt Martin.

Leitura Matinal -252

Não há maneira de evitar a terrível ambição de conhecer o que virá. À consciència da inferioridade da condição que conhecemos soma-se o
tremendo acicate da curiosidade. Temos sempre a expectativa de podermos determinar o porvir, o que de todo é impossível sem o conhecer. Mas se o conhecemos e modificamos, deixa, evidentemente de ser futuro. A História e as mitologias estão repletas de relatos de possuidores de informações sobre o amanhã que tentaram remar contra a maré
e falharam, ou por interpretações erradas dos discursos divinatórios, ou por acidentes que, aparentemente, confirmam a supremacia de um destino sem falhas sobre os esforços dos minúsculos seres humanos que se pretendem fazedores das suas vidas, à imagem da única entidade que no mundo greco-latino estava acima da quase totalidade dos deuses e, quando muito, em igualdade com o maior deles, que, sábio, não se atrevia a contrariá-lo muitas vezes.
A grande revelação estabelecer-se-á, em consequência, no mistério do interesse, não já concretizado na abstracção que é o Vindouro (Des)conhecido), antes no meio que privilegiamos ao tentar percepcioná-lo. Diz mais acerca de cada um tal escolha do que a biografia consumada ou prevista. Consciência que nos leva a entender que o nosso futuro vive afinal se não no, pelo menos do nosso Pasado.
Chegamos então à frustrante conclusão de que o nosso labor sobre visões do que virá se cinge a trabalho interpretativo igualzinho ao que elaboramos sobre obras e factos do Pretérito. Essa leitura,à luz da nossa estrita contemporaneidade individual ou geracional, abrir-nos-á os olhos para que o material merecedor da opção do nosso olhar é o conjunto de dados, sim, mas no sentido de elementos postos perante nós no e pelo Passado, não no de acessórios dum jogo de azar, embora de jogo, outro jogo, igualmente se trate.
De Susanne Vega:

PREDIÇÕES

Vamos prever o futuro.
Vamos descobrir como tem sido feito.
Por números. Por espelhos. Pela água.
Por pontos feitos ao acaso num papel.

Pelo sal. Por dados.
Por comida. Por ratos.
Por massa de bolos.
Por fogo sacrificial.

Por fontes. Por peixes.
Coisas escritas em cinzas.
Pássaros. Ervas.
Fumo do altar.

Um anel suspenso
Ou a maneira de rir
Seixos retirados de uma pilha
Uma destas coisas
Dir-te-á qualquer coisa.

Vamos prever o futuro.
Vamos descobrir como tem sido feito.
Por sonhos. Por rostos. Por letras.
Pelo gotejar de cera quente em água.

Por pregos reflectindo os raios do sol.
Pelo caminhar em círculo.
Por ferro em brasa.
Por trechos de livros.
Um machado em equilíbrio.

Um anel suspenso
Ou a maneira de rir
Seixos retirados de uma pilha
Uma destas coisas
Dir-te-á qualquer coisa.

Vamos prever o futuro
Vamos descobrir como tem sido feito.
Descobrir como tem sido feito.


Temos ainda «Um Posto Avançado num Longínquo Muito
Distante», de Michael Bohme, «Futuro Ousado I e II, de
Packard e «Esfera Profética Reflectindo», de M. C. Escher.

Querer e Saber

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«Sibila», de Domenichino.

A Procura do Indefinível

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Prosseguindo as imitações que Marilyn nos deu de sex-symbols do passado, temos, hoje, a versão regada de Clara Bow, no período despenteado, bem como a própria, como ponto de comparação menos colorido. Era esta a Mulher a que chamaram a «Girl with it», a partir de um filme, passando o pronome a significar o que de impossível de definir havia no seu heterodoxo mas intenso apelo sexual. A expressão ficou e ainda ouvi muitas Senhoras aplicarem-no a raparigas desejadas, embora num contexto menos... massificado e... ousado. Que acha, Caro Pedro?

Saturday, January 28, 2006

A Statesman´s Statement

O Ex-Presidente do Governo Espanhol, José Maria Aznar, vem, em entrevista ao «EXPRESSO», salientar o desnorte total das opções do seu sucessor. O ponto fundamental da crítica reside nas célebres agendas fracturantes, abertas pela primeira vez, desde a transição do regime, quebrando a sintonia que entre PP e PSOE havia, para não reavivar as feridas do passado. O que se impõe comentar, tendo presentes as palavras do Ilustre Político, é que faz parte da própria essência da Esquerda o conflito, é a sua própria razão de viver. Consoante o grau, pode revestir-se das capas de reformismo, controvérsia ou revolução. Mas não se sente bem com o consenso. Ao contrário do que tenta fazer passar, a sua preocupação não é sempre com os mais fracos, mas só com os que, de entre eles, veja como capazes de protestar, ou de lutar. E só casos de excepção, como Gonzalez a fazem pensar num interesse supra-cor partidária.
O resto da entrevista é igualmente interessante, quando refere o entendimento pessoal com governantes portugueses que impediu clivagens abruptas na economia, o que poderia funcionar como primeira pedra da Aliança Peninsular, nos moldes que já aqui defendi. Mas Zapatero parece preferir aos que geogrqaficamente lhe são mais próximos os presidentes da América Latina com pior fama.
Por fim, a Unidade Nacional. Ao sublinhar que já se tinha ido tão longe quanto se podia na questão autonómica e condenando o novo estatuto catalão, ou as negociações com a ETA, o Entrevistado revela grande submissão a uma ideia do Bem Geral, contra os interesses do seu próprio partido. Com efeito, se, por desgraça, o País Basco e a Catalunha se viessem a separar da Espanha, trata-se de zonas que dão muito mais votos aos Socialistas do que aos Populares, que nelas pouco pescam. A Esquerda veria muito mais dificultada a tarefa de ganhar eleições, ficando com vantagem pronunciada praticamente só na Andaluzia. Mas pôr em segundo plano o interesse próprio face ao do Todo é o que define um Estadista.

Derrota Sem Espinhas

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Não custa reconhecer. Neste derby negro, a partir do golo do Benfica, o Sporting foi francamente melhor. Desta nem culpo o treinador. A entrada do Manuel Fernandes parecia essencial para controlar do meio-campo, o qual estava, praticamente, entregue. Provou-se, além do mais, que o Luisão sente grandes dificuldades quando enfrenta um avançado rápido e com mobilidade, o que não é a mesma coisa, ao contrário do que possa parecer. Por isso é que defendo que a dupla no eixo da defesa deve ser Anderson-Ricardo Rocha, à revelia daqueles que acreditam ser o "meu excluído" a voz de comando. Refugiem-se os eternos escondidinhos atrás de desculpas com o tempo e o estado do campo. Aqueles que, interpelados por quem lhes faça ver que as condições eram iguais para os dois adversários, se saiam com a gracinha de dizer que o mais prejudicado é sempre quem pratica melhor futebol. Isso só significaria que hoje poderiam ter sido cinco ou seis de diferença. Porque quem jogou mais foi o Sporting. Parabéns aos adeptos do Rei da Selva.

Uma Pessoalíssima Opção

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Nunca será demais salientar a gratidão que o cinema deveria mostrar para com as lesionadas do bailado clássico. A grande Leni tornou-se actriz e, mais tarde, realizadora, por causa desse flagelo. Que foi também o caso de uma Nativa da Suíça que faz hoje anos. Marthe Keller entrou numa revisitação célebre que Billy Wilder fez a «SUNSET BOULEVARD», o filme que ponho sobre todos, ao dar corpo à jovem que rejuvenescia «FEDORA», numa obra cheia de alusões cinéfilas. São muito consideradas outras actuações suas, a aparição em «LA DEMOISELLE D´AVIGNON» e muitas em tempos mais recentes. Eu gostaria, contudo, de lembrar um filme do meu culto, «BOBBY DEERFIELD», em que Al Pacino é um automobilista que com ela enceta conduções de teor semelhante às que terão tido na vida real. Beleza que talvez não recolha unanimidades, era dona de uma sensualidade que não imagino como pudesse falhá-las. Esta Senhora deu, ultimamente, em intérprete operática, reunindo o aplauso da maioria dos críticos. Por tudo isso é credora de felicitações, neste dia do seu aniversário, como o somos nós, já que lhe conhecemos o trabalho.

Saturações

Sábado. Exausto de politicagens, passo os olhos, à vol d´oiseau, pelos escritos reunidos de Erik Satie. Uma pérola:
«L´expérience est une des formes de la paralysie».
Tento uma breve reflexão sobre o mote. Num sentido triplo, diria: como dor que tudo abafa e impede o movimento livre. Também, por pura acumulação de conhecimento, acervo de cautelas capaz de eliminar muitas tentações da acção. Finalmente, eterna possibilidade de invocação, como intervenção para esterilizar o agir alheio ou eximir-se ao que a si é requerido. E no entanto... sempre disse que invoca a experiência quem nada mais tem. Contudo, reconheço-lhe as virtudes, que, por vezes, impedem de fazer mal e de se fazer mal. É como o álcool, deve ser apreciada, mas com moderação.

Noutra Pele

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Ao Pedro Botelho, que foi o Catalisador desta busca, bem como a todos a quem ela possa interessar, devo dizer já ter desencantado as imagens de recriações por Marilyn Monroe de vedetas do Passado que ainda faltavam. Em vez de duas apareceram-me três. Tanto melhor, antes mais do que menos. Hoje dou-Vos em "Jean Harlow", a cores, mais o original, a breto e branco, que torne fácil a comparação. Dizei de Vossa justiça.

Conformismo Árido

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«Esquecido», de Morteza Katanzian.

Leitura Matinal -251

Não é pequeno drama o do Poeta não poder esquecer-se dos esquecimentos de que deu conta. Constata que a sua obra é feita deles, no sentido
incontestável de a cada escolha corresponder um leque enorme de preterições que resultarão em esquecimentos a prazo. E também, nesta linha, porque tratar um tema significa deixar esquecidos pela não-consagração poética todos as possíveis alternativas. Mas na Arte, como na vida, há espaços que não podem ser
preenchidos por todos, logo, o terror de os deixar dominados pelo vazio obriga a essa necessidade indeclinável de amar, digo de esquecer. Passo a passo, preparamos o esquecimento maior - que é o de viver. Na consciência de que o In Memoriam de cada um está condenado a dissipar-se em fases sucessivas: a perda na memória dos sobrevivos, a hora final dos que, entre estes, nos conheceram, a deterioração do sentido e apelo do nosso rasto, o fim da própria Espécie Humana. Por isso no Oriente é visto como alívio. Já que onde não há memória o esquecimento despoja-se de qualquer significação.
No Ocidente, porém, sempre foram apercebidas as voltas que a busca do esquecimento traz. Leto proibida pela ciumenta Hera de dar à Luz o solar Apolo e A lunar Artemisa em qualquer canto do Globo, encontrou enfim duas ilhas esquecidas para o parto dos que, em alguma medida, simbolizam a especificidade dos dois géneros a unir. Mas por ironia foi num desses confins, em Delos, que se ergueu o santuário que perpetuou no mundo Helénico a memória do grande nascimento dos dois filhos de Zeus. Como, no mundo Cristão, sabemos que à morte sucederá a Ressurreição, a qual do esquecido é recuperação e superação; e que substitui o tempo cronometrável pela Eternidade. Para os Escolhidos, igualmente, uma forma de alívio.
Do mexicano Homero Aridjis, traduzido por
Fernando Pinto do Amaral:

ESQUECIMENTOS

Vi esquecimentos de todos os tamanhos
junto das coisas,
maiores do que sombras.
Esquecimentos junto à árvore que corre
e junto ao rio que cresce,
esquecimentos nas mãos que estreitam
os seios que fogem presentes;
esquecimentos que vêm ter connosco
sob forma de corpos
e pequenos silêncios.
Vi esquecimentos sobre esquecimentos
no movimento amoroso.
Eu fiz uma vida de esquecimentos,
um caminho de esquecimentos
uma obra de esquecimentos.
O dia em que morrer
não será o dia da minha morte,
será o dia do meu esquecimento.
O esquecimento do meu princípio
irá juntar-se ao esquecimento do meu fim.
E tudo, dentro e fora de mim,
será esquecimento.


Com recurso ao Terragem, temos a imagem computorizada do
«Esquecimento», segundo Joshshund. De artes mais clássicas
podemos apreciar «Canções do Rio do Esquecimento», de Frank
Boyden e «Leto», de Peter Kocak, concebida para... evitar o
esquecimento, pois de um ex-libris se trata. Mas essa é,
sabe-se bem, a ambição de toda a arte, apesar de concretizar,
nas mais das vezes, modalidades menos funcionais.

Desmascarada!

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Como com o computador se consegue criar imagens impressivas: «Ausência de Memória», de John Tonkin.

Friday, January 27, 2006

O Inverso das Nulidades

A magna questão do voto nulo nas presidenciais, que ocupou espíritos tão ilustres como o Sandokan e o Miguel Castelo-Branco, vem hoje razoavelmente tratada na informação a «METRO» que revolucionou os hábitos de leitura dos portugueses. Constam as anulações do costume, as injúrias aos candidatos, como os elogios de alguns deles e as ingénuas explicações de certas opções, uma gama vasta de verdadeiros nulos. As alternativas também contam. A menos apelativa traduziu-se no elevado número de escolhas que contemplaram o estrangeirado maior que é Mourinho. Mas também constavam duas preferências que permitem, por uma vez, alguma esperança na Humandade: o «Viva o Rei» inscrito no buletim e tão caro aos Amigos supra-citados e, ao lado dessa, a única individualidade que, mesmo em República, gostaria de ver mandar em Belém, sem inocências de qualquer espécie: o S.L.B.!

Auto-Retrato

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Quando a notícia é o frio, dou-Vos um brinde perverso, a minha posição face a ele Gosto muito. Odeio o calor, em que me sinto derreter a todo o instante, sempre alagado, fazendo esforços sobre-humanos para pensar. Ao contrário, com a frialdade que conhecemos, sinto-me sempre disposto à leitura e à acção. Não aprecio a chuva, ou o vento, mas sim aquele frio seco nas faces que faz mexer e apetecer. Claro que a ucraniana ex-empregada cá de casa se ria do que nós chamamos "frio", como outro tanto fazem os meus Amigos do Portugal Interior. Mas nas minhas estadias invernosas em Évora e Londres, duas cidades que não são para brincadeiras, neste campo, senti-me perfeitamente à vontade. Pelo que aqui deixa o voto de que ganheis o Euromilhões este alter ego do Yeti, o Abominável Homem das Neves...

A Verdade Duns Eleitos

Muito diferente da dos Eleitos. Os Liberais-Democratas britânicos andam com a malapata. Depois do anterior leader, o escocês Kennedy, ter, repetidamente, negado qualquer problema com o álcool e, depois, haver confessado a absoluta viciação nele, dois dos maiores candidatos a suceder-lhe viram-se enredados em escândalos de outra natureza. Oaten, que sempre dissera ser heterossexual, admitiu recorrer há bastante tempo aos serviços de um prostituto, sem dar cavaco à Mulher. Simon Hughes, que repetidamente afirmara a sua não-homossexualidade e ter o casamento como uma meta, vem agora reconhecê-la, dando azo a piadinhas sobre o visionarismo do tipo de matrimónio que almejava. No Reino Unido sempre houve escândalos com os políticos. Os trabalhistas eram mais propensos a protagonizá-los em questões de dinheiros, os conservadores com raparigas. Queriam os piadistas profissionais que era conforme o que faltava, tendencialmente, mais a cada um dos lados do espectro político...
O partido centrista, pelos vistos, não embarca num, ou noutro desses rumos. Prefere um terceiro género e a má vizinhança com a verdade. Não está em causa a orientação sexual dos visados, o público indigna-se é por ver tanta mentira, à Esposa, num dos casos, ao eleitorado, em ambos. Mas os eleitores devem queixar-se de si. E dum sistema que estimula a aldrabice como condição do sucesso.

O Peso Familiar

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Os aniversários são bons para expressarmos a nossa perplexidade perante carreiras menos pagadoras do que o inicialmente esperado. Bridget Fonda é um caso desses. Tem atributos físicos q.b., gostei de segui-la em competentes interpretações da "má da fita" embalando o berço, como de vítima, na jovem que procurava uma room mate, ou na pele de secundária actriz de autor prestigioso em filme merecedor, como é «JACKIE BROWN», de Tarentino. A sua carreira tem, não obstante, perdido algum gás. Será que o que normalmente favorece - descender de vedetas de Hollywood - se torna contraproducente quando em presença de uma terceira geração de artistas? Depois do grande Henry e da bem acolhida Jane, tendo o Pai, Peter, sido o principal culpado de uma certa marginalização, o público e as produtoras são capazes de ter pensado que já bastava de Fondas! Mas, neste 27 de Janeiro, muitos parabéns.

Crimes e Escapadela

O Presidente Sampaio, a passear o ar de aívio que vem adoptando neste fim de mandato, por baixo da correcção formal com que sempre se dirigiu às pessoas que não fossem polícias que o acompanhassem, veio dizer coisas positivas e uma desnecessária. As coisas positivas referem-se ao afastamento da responsabilidade civil dos juízes negligentes, substituidos pelo Estado no dever de ressarcir os lesados, o que vem pôr alguma água na fervura das cabeças governativas, que não são capazes de imaginar as consequências que o medo de ter de prestar pecuniariamente poderia trazer, maxime o alastramento da abstenção de decidir.
A asneirita veio quanto à proposta do "catálogo de crimes" susceptíveis de gerar escutas telefónicas na actividade investigatória. Claro que devem os meios de investigação e processuais penais estar bem definidos na lei que os consigna. Mas sabendo-se qual o processo em que a audição de chamadas levantou mais celeuma e tendo presente a desajeitada reacção de Ferro Rodrigues e seus pares, a mensagem que passa para o homem comum é de estar o PR a proteger os seus filhotes. O que sendo injusto para o Orador, podia ter sido evitado, com o corte de umas quantas linhas no discurso.

O Factor Humano

No «DN» de hoje vem Pacheco Pereira pôr preto no branco o que toda a gente sabe, ao reconhecer que a candidatura apoiada pelo Eng.º Sócrates teve, nas motivações do protagonista, traços de vanglória. Claro que sim. O homem está, ou estava, convencido de ser a personificação do regime. Podemos achar que, na verdade, estão bons um para o outro, mas a desaprovação desse raciocínio seria coisa que lhe escaparia, pois, das raras crenças que detém, estar fortemente convencido da bondade do monstro é caracterísica que não se lhe consegue atenuar, com o melhor detergente, sequer. Já não tinha gostado que o Prof. Cavaco tivesse chefiado governos mais tempo do que ele. Mas enfim, ainda tinha dez anos de presidência a brandir. Daqui em diante é mais do que provável que fiquem a par, por esse critério. Também cada um perdeu uma eleição presidencial. Mas, no terceiro meio de desempate, o das que posições que ocuparam, o Político Algarvio tem um segundo lugar no palmarés e ele não pode exibir mais do que uma terceira colocação.
Por outro lado, o Dr. Jorge Coelho e o Eng.º Carmona Rodrigues desistiram das lideranças da Associação do Turismo de Lisboa e da Junta Metropolitana, respectivamente, um por não achar criadas «as condições necessárias», o outro por entender não estarem reunidos «os presupostos essenciais». Não estando diante de atitude não repulsiva como a do parágrafo anterior, forçados somos a meditar em quão lamentável é deixar à autonomia de decisão e de equação de um indivíduo a candidatura a cargos públicos, em vez de basear essas funções em nomeações a partir do cimo; e Este, a Chefia de Estado, na ausência de ambição que é o nascimento. Enfim, um sistema político em que as considerações de promoção individual não fossem o tractor humano!

A Condição Para os Voos

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O Contraste entre a certeza da ave, desde que esteja viva, e a hipótese que é sempre o resultado de um projecto humano: «O Mistério do Voo», de Alvey Jones.

Leitura Matinal -250

Serão as certezas como as cartas de amor do Outro? Poder-se-á perguntar «quem as não tem?» E estarão condenadas a ser, como o papel em que aquelas
foram escritas, meros objectos de recordações, felizes ou dolorosas? Como o supremo mistério do amor, também não se lhes conhece a origem, para lá da alma que as concebe. São, certamente, muito mais do que um bordão a que nos encostemos para agir. Mas são também a provisória bengala que impede o nosso desequilíbrio de fazer-nos desabar. Pode-se pôr a magna pergunta de, sem razão a certeza ser digna do título que ostenta. Porque eminentemente pessoal,
podemos bem conceder-lho, embora a título de mera cortesia. Porque sem outro substracto que o palpite ou a Fé o apelido que carrega é "Convicção". E se casa com o disparate junta ao seu o sobrenome do marido, que é o "Erro". Wittgenstein dedicou-lhe momentos que só vieram acentuar a fama de que ela gozava entre os mais intuitivos: de ser sempre acompanhada da sua sombra - que é a Dúvida. Como nós, no nosso dia a dia, raras vezes atentamos nesse vulto que nos persegue. Excepto quando as agressões externas e as dissolvências íntimas nos tornam hipersensíveis, momento em que nos deixamos dominar pela agigantada projecção sombria. Em que deixamos de ser nós. Como a Certeza, quando dá lugar à Dúvida.
De Isabel Pereira:

(IN)CERTEZAS

Quem as tem?
.Terei eu?
..Terás tu
....Ou não tem ninguém?
.....A certeza é uma incógnita
......É a certeza incerta
.......Um nome que nome não tem
........A par e passo caminha
.........De mão dada ao seu suporte
..........Origem desconhecida
...........Um mistério fraco e forte
............Será que a certeza pode
.............Estar certa sem razão?
..............Há incertezas também
...............Em responder à questão
................O que procuras certeza?
.................Não abandones o teu nó
..................Porque a tua firmeza
...................Pode não te deixar só
....................A certeza... certamente
.....................Tem rosto de exclamação
......................Quando nem ela descobre
.......................Se possui certeza ou não.


Imagens de «Incógnita», de Rommy Lima e «Certeza»,
de Heather Cole.

Por Mares Já Antes Navegados

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Embora o desembarque nesta Terra se tenha revelado perigoso, quando não impossível: «Na Costa da Certeza», de James Gleeson.

Thursday, January 26, 2006

Reunião dos Eus Bloguísticos

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Ela pegou no desafio que lancei. Ela respondeu cá e Lá. Ela elidiu a resposta às transformações sobre as quais me havia atrevido a interrogá-La. Mas Ela mergulhou a fundo na magna problemática das cisões do "eu" que libertam. E Ela concedeu a esmola do enriquecimento pelos contributos de outrem. Ela disse tudo isto em brilhantes comentários ao meu post sobre «O Direito ao Nome» e em Sua Casa. Com tanta luz d´Ela temi cegar. E para fingir desmentir este meu delicioso receio entendi publicar, como resposta, uma imagem, ilustrativa da claridade que Dela nos banha; «Iluminação», de Morgan Weistling.

Perceval

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Lembrar-se-ão os meus Leitores Mais Antigos de uma pessoal deambulação cavaleiresca e solitária que narrei há seis meses aqui, ali e acolá. Tanto esforço, tanta indagação, tanto desengano! Na net, inclusivé. Até que hoje, acidentalmente, dei com ela. Vou beber o Cálice até ao fim. Quem tem esperança sempre alcança!

Procura-se Candidatos a Professor Unrat

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Conforme prometido, fica a sequela de Lola-Lola com Monroe em vez de Dietrich, dedicada ao Pedro Botelho.

Reservado o Direito de Admissão

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Dedico ao Je Maintiendrai esta imagem do nº18 de Hanover Square, sede do restritíssimo club londrino "Oriental", inicialmente pensado para os funcionários da Companhia das Índias e para os oficiais do Exército das mesmas.

Posted by Picasa

Emprego de Longa Duração

O notável co-proprietário do arco constitucional em que somos obrigados a abrigar-nos, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, vem, em almoço num empresarial clube, defender a limitação a um mandato do exercício presidencial português, embora estendendo este por dois anos. Eu também concordo que dois mandatos são demais. Vou mais longe: considero que um já é excessivo! Extingamos pois o cargo, substituindo um job por uma condição que seja REAL. Mas gostaria de poder garantir que a intervenção do brilhante analista e constitucionalista não enferma de uma viciação. A saber, a de a noção de que sete anos são menos do que dez, aliada à constatação de um presidente ser, normalmente, reeleito, incutir em tão atento espírito a necessidade de abrir mais clarabóias de oportunidades pessoais numa direcção de onde não consegue retirar os olhos...

Recursos Humanos

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Como apareceu, na caixa de comentários ao post com o baresco esqueleto, uma Secretária denominada Melusina, aquela que se não deixava ver, por, ao entrar na água, se transformar de uma Bela Mulher em meia serpente, publico a imagem da dita antes do contacto aquático, da autoria de Ludwig Michael von Shwanthaler. É um mito com pontos de contacto com o de «Eros e Psique», mas, pelas especificidades que encerra, tomo a liberdade de relembrar que estamos no habitat de um sujeito com ascendente Peixes... Já me arrepio, a imaginar as cenas da transformação!
 
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