O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, August 31, 2005

Benéfico ou Maléfico?

Nada como o regresso do «Metro», para voltar a marcar
a agenda bloguística. Hoje levanta a dúvida sobre se
as imagens televisivas dos fogos florestais terão ou
não levado alguns adolescentes a atear incêndios. É
a velha questão que se põe quanto à violência em geral.
A sua representação, com mobilidade, será catártica
ou funcionará como estímulo? Alguns gregos de outrora,
Aristóteles à cabeça, opinavam pela primeira. Mas temos
de ter presente a deificação dos participantes nas
peças televisivas, como magistralmente se tratou em
«Disposta a Tudo», no cinema. Lembra-se, Caro Eurico?
Fica a incerteza; responda quem souber.

De Trombas!


Seria para amenizar, não fora a estreiteza de perspectivas. Liz Hurley anunciou, criminosamente, o casamento com o seu indiano galã, já em Outubro, expressando o desejo de surgir na cerimónia montada num elefante. O proboscídeo que assina esta página necrológica apresenta-se voluntariosamente, desde já, para o efeito. Mas imaginam a sorte que terá!

O Salto Lógico

Oportuna e justiceiramente sabotada pelo salto
tecnológico, expresso, para o efeito, em duas falhas
de energia, a escolha unipessoal do Eng.º Sócrates na corrida
à pobre Presidência da República, lá se lançou na candidatura.
Correspondeu assim «aos apelos de muitas personalidades
de vários quadrantes da sociedade e de várias áreas
políticas», ou seja, o kilométrico sinónimo de José
Sócrates Pinto de Sousa.
Para trás ficou a traiçãozinha costumeira, que isto de
ser fiel às amizades só tem validade para os que não
fazem sombra. Zenha na primeira eleição, Alegre agora.
Passou tempo demais a falar da idade. Dirão que para
responder às críticas que despertou. Eu penso que para
ter alguma coisa nova para dizer.
O habitual rol de banalidades. Louvor a um vulto da 1ª
República, Norton, no caso, mitificação da passagem pelas
«prisões da Ditadura», onde, como se sabe, o único real
sofrimento era suportado pelos militantes comunistas.
Pelo meio, ênfase no que tem mudado nos últimos anos e
na participação nos protestos contra a intervenção no
Iraque. Mais do que justificar como o homem de Carlucci
se transformou num opositor ao mesmíssimo manobrismo
internacional vindo do lado de lá do Atlântico, a patética
verborreia sobre si pretendia mostrar que, conseguindo
mudar, era, de alguma forma, jovem. Pelo menos em espírito.
Fiquei sem saber se os elogios à sua própria coerência se
referiam ao engavetado socialismo. E ouvi, juro que ouvi,
só pela Família sendo desenganado, a preocupação com a
implosão das comunidades imigrantes que temos, em vez do
que terá dito, «a inclusão...»
O que não conseguiu explicar é como um simples candidato
de conveniência da direcção de um partido, levada avante
até contra os militantes do mesmo, quer ser um candidato
independente e o presidente de todos. Esse é um salto
que torneia uma explicação, fora do seu alcance: o salto
lógico.

Nota: O misantropo é um monárquico convicto, ao ponto de
não votar em presidenciais, nestas, nas pretéritas, nas
futuras. Tenta ser imparcial, mas sabe que o caso em que
menos o consegue é tratando-se deste sujeito. Julgai, pois,
com todos os dados.

Melhor do que o Euromilhões


Houve, há umas semanas, uma ventania, na blogosfera, em que se topava, a cada passo, com uma referência ao monstruoso prémio acumulado do loto europeu. Quase ninguém notou a disponibilidade de uma taluda ainda melhor, emergente do arrufo que deixou Paris Hilton, com o império hoteleiro (e não só) paterno às costas, momentaneamente livre. Falo para aqueles que não têm pejo em ver o himeneu como um belo aumento de tesouraria. Ardeu, queimou! Quem se abotoou com o Jackpot foi o feliz grego com quem ela anunciou o casamento, no fim do ano. Mas perdoarão a um pobre bloguista em Agosto terminal que ache a foto da rapariga muito mais sugestiva do que um boletim premiado...

Prece

Peço, com todo o fervor, aos Deuses da Bola,
que o Karagounis, de quem até tenho favorável
ideia, não saia igual ao último grego que nos
calhou.

Da Facção "À Outrance"

Já no princípio da semana o Presidente Lula, do
Brasil tinha admitido a hipótese de se recandidatar,
«se tal fosse necessário para defender o Partido (dos
Trabalhadores - PT)». Repare-se, o Partido, que o País
é coisa secundária... e não merece esforços de maior.

Amarras


Mesmo nos EUA, em que a escolha é mais alargada, os candidatos são escolhidos em primárias pelos eleitores e não estão condicionados por linhas oficiais, o poder dos partidos, através do dinheiro e do açambarcamento televisivo e da imprensa, faz da liberdade uma mentira. Este post não é uma piadinha ao colega Jumento, nem a uma anterior identidade profissional do João Vasco. O Burro e o Elefante são os símbolos de Democratas e Republicanos.

Liberdades

Ouvi Manuel Alegre. E fez-me pena vê-lo apresentar-se
como ironia viva do Apelido. Frisar a torto e a direito
que não subscrevia a decisão da direcção do PS que lhe
pretendera cortar as asas. É esta a liberdade da linda
República que temos, apregoa os direitos de candidatura
que depois deixa na mão de meia dúzia de dirigentes dum
partido. E se se der o caso de não vir a avançar, esse
sentimento de retracção para não dividir a área política
a que pertence ainda configura fraude maior, na medida em
que o espírito de facção - e não a fidelidade ao Todo nacional
- coarcta a endeusada e mentirosa liberdade.
Claro que para um monárquico tudo isto é natural. Não sendo
a chefia do Estado sujeita a combates, evitar-se-ia o triste
argumentário da Conferência de Imprensa sobre quem estaria
em melhor posição para bater a outra parte do país. A solução
Real evitaria que a unidade nacional se confinasse ao apoio
à Selecção, admitindo que aí exista, mesmo por parte dos que
não gostam do seleccionador.
A liberdade da república é por definição a dos poucos que se
candidatam com hipóteses de vencer. A liberdade de um sistema
de partidos à europeia não é, em caso algum a liberdade dos
Homens Livres. É a liberdade dos libertos. Mas eles nem sabem
qual a diferença...

Frustrações Fatais?...


«Desejo e Satisfação», de Johann Toorop. Não apenas ligável à vertente carnal, mas a qualquer aspiração intensa.

Leitura Matinal -104

Que o Homem conceba a sua própria pessoa como
um capital a aplicar é fraqueza tanto mais risível
quanto a desvalorização dessa abundante e contrafeita
moeda cedo o desenganará. Que queira guindar-se a
alturas que lhe estão vedadas ou, simplesmente, fora do
alcance, é que pode evitar-se Pode? Não será fado universal
querer ser mais do que se é? Talvez, lá para os mais
recônditos cantos de cada interior humano. Mas o que importará
mais será canalizar as aspirações do indivíduo para a acção
que transcende as peias da vaidade e do penacho, ou, como agora
se diz, do protagonismo. Tornar-nos-emos assim menos humanos?
Puro delírio. Ainda há muito de terreno a puxar-nos para baixo.
É a Lei da Gravidade; podemos é ir preferindo às auto-aspirações
egoístas de pretensas ascensões irrisórias, as compensações
generosas da demanda de um - e do - bem comum. E assim melhorar
as pretensões do nosso processo, dentro da Gravidade da Lei.
De como acaba mal o fantasismo que de si quer fazer mais do que
deve, leiamos de D. Francisco Manuel de Melo:

METÁFORA DA AMBIÇÃO

Vivia aquele Freixo no alto monte.
Verde e robusto: apenas o tocava
O brando vento, apenas o deixava
De abraçar pelos pés aquela fonte.

Tão soberbo despois levanta a fronte,
Como o Pavão, do bosque donde estava,
Envejoso de ver que o mar cortava
Um Pinho que nasceu dele defronte.

Ora saiu da terra e foi navio.
Lutou c´o Mar, lutou c´o vento em guerra:
- Quedas viu ser o que esperava abraços.

Ei-lo que chora em vão seu desvario
De longe a vê, chegar deseja a terra:
Não lho consente o Mar, nem em pedaços.

Alto de Mais


«Paisagem com o Voo de Ícaro», de Hans Bol

Tuesday, August 30, 2005

Razões que a Razão Também Desconhece

Pois, não é só o coração. A Política Internacional
também tem destas coisas. O que é que terá passado
pela cabeça das autoridades de um aeroporto russo para
atrasarem, com brutalidade suficiente para que se
falasse em detenção, o voo de dois senadores norte-
americanos, o chairman do comitê de relações externas,
R. Lugar, e B. Obama, ignorando o estatuto diplomático
de uma viagem de verificação de cumprimento de acordos
de desmantelamento de armas nucleares. Ainda por cima
é uma espécie de tiro no pé, já que a Lugar se deve
a obtenção de grande parte das contrapartidas económico-
-financeiras! Não que os EUA não sejam useiros e vezeiros
em usar viagens de parlamentares seus para uma suplementar
espionagenzita. Lembram-se do senador que faleceu aquando
do derrube do avião sul-coreano, sobre a U:R.S.S.? Mas,
desta feita, nada disso foi invocado.
Pura afirmação de soberania (algo rústica, é certo)? Mas
o embaraço das desculpas não torna, para o efeito, a coisa
ainda pior?

Será Este?

O Governador Mark Warner, da Virgínia, anunciou que,
decididamente, não desafiará o Senador George Allen,
na batalha da reeleição, no próximo ano, dando a
entender que se concentrará nas presidenciais de 2008.
Já escrevi aqui que o considero como o melhor candidato
Democrata; e vejo-o a ganhar até a McCain, ao mesmo Allen,
a Giuliani, Hagel, etc.. O que não acontece com Hillary, em
todos os casos. O Problema dele vai ser vencer Mrs. Clinton
nas primárias. Aposto que o Nelson Buíça vai já desencadear
uma campanha negativa contra o homem. E, assim, ele não terá
hipóteses...

Eficácia


Como, neste caso, não houve vítimas e o seguro cobrirá os prejuízos, apetece perguntar se será este o ideal dos ociosos que se entretêm a atirar pedras dos viadutos para os carros que passam em baixo, nas autoestradas portuguesas. Efeito da fúria Katrinesca em New Orleans. Que mais faria, se não tivesse mudado de direcção?

Espanto Sem Causa

Tem vindo a ser muito citada e comentada,
apreciada e troçada a frase magoada de Manuel
Alegre «A República não tem donos». Mas onde
está a dúvida? Quem, salvo talvez o subentendido
visado, seria tão tolo que se habilitasse à
propriedade de traste tão defeituoso? Pergunta o
Leitor:
Devemos então entender que a República é um baldio?
Bom, eu não usaria palavra tão extensa. Basta
dizer que é uma grande balda.

Nota: Nem me venham dizer que «República» ia em
sentido de comunidade. Alegre referia-se, evidentemente,
ao regime.

Vazio


«Não Ver o Mal», de Keith Haring.

Leitura Matinal -103

A impotência do homem perante as catástrofes naturais deveria
equilibrar no seu espírito, se ainda algum lhe restasse, a única
angústia de que ainda é capaz - a que experimenta perante os
desastres que ele próprio provoca. É que estes, embora temíveis,
ainda o tranquilizam, na medida em que lhe asseguram a capacidade
de domínio que só o erro pode fazer descambar. E o homem de
hoje sossega-se ao considerar o erro. Permite-lhe o impensado
optimismo que prevê nele não incorrer e, como força suprema que
se julga, dispensa-se de pensar no Mal, ao menos para além da
vida terrena, a única que reconhece. Deparando com ele e, pior,
chegando a identificá-lo, deixa-se absorver e instrumentalizar, ao
ponto de fazer pensar, a quem creia na existência do Reino das
Trevas para lá desta nossa passagem, se poderá experimentar
alguma surpresa, ainda que negativa. Alcançaremos ainda o Ramo de
Ouro que nos permita abrir as terríveis portas, ir, voltar,
compreender e, dessa forma, infantil mas eficaz, melhorar?
É o homem sem Espiritualidade, ou procurando, por gosto do exótico
e do oculto, espiritualidades de pacotilha que São Eliot nos deu nessa
Insinuação da Fé sem ilusões,

THE HOLLOW MEN

Mistah Kurtz - he dead.

THE HOLLOW MEN

A penny for the Old Guy

I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpice filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meanlingness
As wind in dry grass
Or rats´ feet over broken glass
In ou dry cellar

Shape without form, shade without colour
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death´s other Kingdom
Remember us - if at all - not as lost
violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

II

Eyes I dare not meet in dreams
In Earth´s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind´s singing
More distant and more solemn
Than a fading star

Let me be no nearer
In death´s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat´s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the win behaves
No nearer-

Not that final meeting
In the twilight kingdom

III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man´s hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death´s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

IV

The eyes are not here
There are no eyes here
On this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
In this last of meeting places
We grope together
And avoyd speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death´s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear Prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o´clock in the morning.

Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
.....................................................For Thine is the Kingdom
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
.....................................................Life is very long
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
.....................................................For Thine is the Kingdom
For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.

Terra Devastada


Consequência dos humores da Katrina. Além de um triste balanço de, pelo menos, 55 mortos. Uma excelente fotografia, como esta, é muito pouco para pôr no outro prato da balança.

Monday, August 29, 2005

Pena

O Caríssimo Rafael Castela Santos dá-nos conta, na
alegremente obrigatória Casa de Sarto, de ressentimentos
e choques que se desejaria ver banidos do mundo Católico
e, a fortiori, de um lugar de união como deveria ser Fátima.
Paralelamente, informa-nos da notificação informal de uma
inovadora figura: a «excomunhão técnica». Mesmo que se
quisesse ver no caso uma imprecisa designação da excomunhão
a jure, isso pareceria contender com a autorização da
Peregrinação. Mas nem sou teólogo, nem especialista em
Direito Canónico. Sou um pobre e ignorante pecador.

New Orleans


No momento em que o furacão Katrina ameaça aquela que tem a fama de ser a mais "refinada" cidade dos EUA, Nova Orleães, com o intuito de me mostrar solidário com a população em perigo, o mais emblemático filme cuja acção lá decorre: Vivien Leigh e Marlon Brando em «Um Eléctrico Chamado Desejo».

Venda Irremovível?

Devo dizer que não espero grande coisa da Srª Merkel.
Parece-me uma candidata pouco dotada, escolhida numa
altura de escândalos na CDU alemã por ter as mãos limpas,
vir do Leste e ser Mulher. Também receio que não tenha
estofo de estadista. Nunca ocupou uma pasta ministerial
das chamadas "soberanistas": Finanças, Defesa, Negócios
Estrangeiros, Interior, Justiça... Dir-me-ão: pois, mas
Thatcher também tinha sido Ministra da Educação. Bom,
é verdade, mas nem com óculos muito coloridos se pode
fazer coincidir uma com a outra. A Baronesa possuía uma
fortíssima formação ideológica - dentro dos seus ultra-
-liberais parãmetros, que não são os meus - e tinha-se
distinguido por desmontar a socialização do sistema
educativo, da autoria do trabalhismo de então, anunciando,
na luta com o sindicato dos Professores, o que viria a
fazer aos mineiros de Scargill.
Merkel, apagada, encontrou porém, um verdadeiro tema de
campanha, que não penso ser por ela encarado como mera
boleia eleitoral: a oposição à entrada da Turquia na UE.
Ao contrário dos seus parceiros comunitários, que da Turquia
só temem a triste fama do passado e as vagas migratórias,
com o consequente desemprego, que aí vêm, os alemães sabem
bem com o que se têm de haver, isto é, uma comunidade vasta
e de difícil integração, fonte abundante de criminalidade.
Se adicionarmos o perigo da ameaça de entrada de uns quantos
radicais islãmicos dissimulados na multidão, temos todos os
condimentos para a indigestão.
O verde Fisher já veio dizer que a oposição à entrada dos
turcos é uma perigosa cegueira. Como no poema atrás consultável,
a cegueira maior será a de quem vai falando.

Por Simbolismo...


«Compaixão - A Pedra Coração», Autor desconhecido.

Leitura Matinal -102

Depois de tanto haver escrito contra o Trono e o
Altar, Gomes Leal acabou, pela dupla conversão
final às Verdades Eternas do Catolicismo e da
Monarquia, por merecer, inteiramente, o cognome
de «Verlaine Português». Mas mesmo no período do
desnorte pode encontrar-se aqui e além uma embrionária
perneabilidade ao que de mais profundo há nas
Virtudes que constituem o núcleo da Doutrina Cristã.
Um poema há de que muito gosto. Toda a preocupação
de escola em revelar por palavras-chave que sugiram
Mais não atrofia a força de versos que contrapõem
às jactâncias impiedosas do ouropel que se limita á reflexão
ocasional da luz, as Luminosidades Interiores, encerradas
no seio e nele cultivadas. Se o misantropo fosse bastante
seguro para dar em moralista, procuraria extrair do que
segue regras para conselho dos Outros. Longe porém de tal
valia, limita-se a desejar nunca perder de vista a leitura
que, dele fazendo, gostaria de ter sempre à sua frente.

O OURO

(simbolismo)

Dizia o Ouro à Pedra: - Ente mesquinho!
que profundo cismar sempre te prega
à beira de uma estrada, ou de um caminho
pasmada, mas sem ver, eterna cega?...

Em vão o orvalho a ti lava e rega!
Em ti não cresce nunca pão, nem vinho.
Dura e inútil - o lodo é teu vizinho,
e o homem só, por te pisar, te emprega!

Em ti só medra e cresce o cardo e os lixos.
Tu serves só de abrigo ao lodo e aos bichos,
e ensanguentas os pés descalços, nus...

Ó pedra, quanto a mim, sou a Riqueza!
A cega disse, então, com singeleza:
- Eu guardo dentro do meu peito a luz.

Suave Paciência


«A Pedra Escutando», de Joseph Wheelweight.

Modéstia Verdadeira


De Sassetta (Stefano di Giovanni di Consolo): «A Madona da Humildade».

Sunday, August 28, 2005

PAT(adas)

Deu brado a declaração do Rev. Pat Robertson que
admitia a possibilidade de o governo dos Estados
Unidos promover o assassinato do Presidente Chavez
da Venezuela. Antes do mais, desdramatizemos: o vocal
homicida não dispõe de qualquer influência na política
externa da administração. Tem alguma importância nos
períodos de campanhas, dentro do eleitorado da Coligação
Cristã; donde a paragem obrigatória de muito candidato
junto dele, que, com umas quantas palavras de apreço
pelo Cruzado, vai resolvendo a questão até ao próximo
ciclo eleitoral.
Então o que tornou credível a ameaça? Não creio que tenha
sido o facto de Chavez andar há meses a clamar que a CIA
está em vias de assassiná-lo. Muito mais documentadas são
as queixas de 40 anos do Fidel e já ninguém liga nenhuma.
Também não me parece que tenha sido o diálogo com «The
Houston Chronicle». O jornal texano terá sido o único a
prestar atenção à outra parte da estrondosa frase de Robertson.
Ele tinha dito que, na eventualidade de se ter de começar
uma guerra na Venezuela, a eliminação do leader local sairia
muito mais barata. E aquele expoente da imprensa tranquiliza
as gentes, garantindo que «não estando iminente guerra alguma,
a alternativa - o assassinato - também se não põe».
Então? Julgo que a plausibilidade deste pretenso projecto tem
uma paternidade indiscutível, o facto de da Venezuela sair muito
petróleo
.
Quanto ao resto, não merece um segundo da nossa atenção. A defesa
de Rumsfeld, argumentando que matar Chavez seria contra a lei, só
apaziguará as apreensões de um marciano. E de um marciano distraído.
Quanto às declarações do religioso norte-americano, bem vistas as
coisas, poderão não ter passado de uma desajeitada tentativa de
cavalgar a crescente impopularidade da guerra do Iraque e, por
extensão, de outras guerras.

Diz-me com quem andas...

O assaltante de bancos Carlos Antunes apoia
Soares para Belém, porque diz ser preciso alguém
«determinado».
Ele há companhias reveladoras! Seria esta uma das
«figuras de relevo da sociedade civil», cujo apoio o
presumível candidato pretendia captar?

Grades e... Grades

Mas nem tudo cai no lado negro da Vida.
Quando o Zoo londrino contratou oito jovens
para, com umas folhas suspeitas mal grudadas
aos fatos de banho, se deixarem exibir numa
jaula, em jeito de ilustração do comportamento do
primeiro homo sapiens, pense o Leitor na sorte que tem,
ao frequentar este blogue, de ver, sem horário
nem pagamento de bilhetes, o exemplar muito mais
primitivo que, aqui engaiolado, desnuda por completo
o espírito para vosso gáudio!
Ainda por cima, dois dos actores britãnicos supra-
-citados usam óculos, o que, como se sabe, é um perfeito
retrato da época que se pretende "dar a conhecer"; e todos
eles parecem acreditar que os nossos remotos antepassados
mais não tinham que fazer do que catar piolhos uns aos
outros!

Política de Aquisições

A ideia que o monstro bicéfalo Veiga-Vieira tem
de reforçar a equipa do S.L.B., até Quinta-Feira, está
completamente errada. Não são precisos dois reforços
de indiscutível mérito. Pelo que se viu contra o Gil
Vicente, onze, sim, talvez chegassem.

Imprevisto Arbitrário,


mas potencialmente cativante: «Retrato de um Extraordinário Cão Musical», de Philip Reinagle.
À Teca.

Leitura Matinal -101

Muitos poemas foram feitos, aguns dos quais bons,
explorando o filão da irreverência que, através
do inesperado ou da contestação das entranhadas
rotinas e convenções da sociedade, procura fugir
à monotonia do academismo ou do bom comportamento.
Viciados na preocupação de «épater le bourgeois»,
não reparam os artistas dessa tendência que formam
um novo cânone; ou, se reparam, fingem não notar
que, por muito que a leitura de uma ou outra das
melhores produções do género constitua uma lufada de
ar fresco na vida intelectual dum amador das artes e
das letras, a superficialidade das motivações e a
ligeireza aparente das concretizações pode conduzir
a um novo cansaço. Querendo eximir-se à tirania da
lógica e das regras, opiando-se com o onirismo ou
com a infantilidade e a contradição, os surrealistas,
por exemplo, com o propósito de fugir aos espartilhos
que viam condicionar os restantes artistas, acabaram
por cair na contingência da submissão ou alforria do
mais obsessor dos donos: Breton.
Mas, de quando em quando, sabe bem ler alguma coisa
enquadrável neste espírito de fuga. De António Maria
Lisboa,

PROJECTO DE SUCESSÃO

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
por-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.

Um Outro Perigo


«A História Aborrecida», de George Caleb Bingham.

Saturday, August 27, 2005

Equidade

Depois do Mensalão surge uma escandaleira mais
divertida lá por terras de Vera Cruz. Parece
que alguns políticos influentes viram as agendas
sobrecarregadas por umas audiências - novíssima
correspondência lexical para "orgias" - com umas
mocitas arranjadas pela auto-proclamada promotora
de eventos Jeany Mary Corner. Não posso condenar
as práticas envolvidas, por não dispor de elementos
essenciais ao julgamento do caso concreto. Com efeito,
ainda me não foi dado ver as fotografias das raparigas.
E as idades noticiadas - entre os 18 e os 20 anos - vão
indiciando a existência de causas de exclusão de culpabilidade!
Dos políticos claro, que das miúdas nem se fala!

Surpresa

Afinal de contas, contrariamente ao que a imprensa
e os analistas haviam antecipado, entre as várias
alterações que a comissão independente encarregada
de analisar a reforma do dispositivo militar dos E.U.A.
aprovou não se contava o fecho das bases de Ellsworth,
no Dakota do Sul e Cannon, no Novo México. Veja-se o
que era o "veredicto anunciado" no meu post «Estratégias»,
de ontem. Desta forma, o Senador Thune passa a mito
estadual e o Governador Richardson, um Democrata, sobe
uns furos na corrida à nomeação para a Casa Branca, já
que surgem como os heróis que salvaram o que se tinha
por perdido. Sendo que, no caso do legislador do Dakota
do Sul, corresponde ao cumprimento de um compromisso
eleitoral.

Promessa É Dívida


Cameron Diaz afirmou: «Beijo um sapo, mesmo sabendo que não se transforma em Príncipe. Adoro sapos. Adoro lambê-los». Tomo a liberdade de chamar a atenção para o nome do servidor de mail presente no meu endereço electrónico...

Cara Italia

Uma combinação de leituras do «DN» e do «Correio
da Manhã» afloram temas importantes para a Pátria
de minha Avó Paterna. Assim, o primeiro dá-nos conta
de que a indústria de calçado italiana atravessa uma
crise inabitual, com a correlata ameaça de desemprego,
graças a invasão da concorrência chinesa no sector. Claro
que a solução é fácil, consiste em exportar para o País
de Leonardo da Vinci o Dr. Jardim. O Sr. Berlusconi já
está habituado a empreender aquisições milionárias para
o seu A. C. Milan, bem pode diversificar agora as fontes
de receitas madeirenses, pagando um montante alto pela
transferência. Nem os piores inimigos poderiam negar ao
Presidente do Governo Regional que a transacção se deveria
exclusivamente ao seu virtuosismo próprio.
Na segunda peça, Inês Sampaio dá-nos conta da teoria que
um investigadora espanhola defende, que a «Gioconda», nestes
tempos pelo Louvre, exibe ou esconde o seu sorriso, conforme
o tipo de visão que se emprega ao contemplá-la. Eu tenho
outra proposta: ela está séria, ao ver a situação da sua
Terra de origem agravar-se. E sorri quando se crê olhada
da Madeira, onde a solução repousa. Não é em vão que a ilustre
Teórica acredita que, para o sorriso ser perceptível, é necessário
usar a visão periférica...

Suprema Atribuição


A taumaturgia: «São Pedro Curando o Doente com a sua Sombra», de Masaccio.

Leitura Matinal -100

Quem tenha a sombra por coisa ambígua vê bem o filme,
mas só parte dele. Pois, como é elementar, a ambiguidade
reside no homem. Não falo na descodificação de figurações
obscuras, em que o receptor permaneça indeciso quanto à
identidade do que é projectado. Afinal, essa é uma questão
de habilidade, quer na criação, quer no reconhecimento: as
sombras chinesas constituem um passatempo tanto mais sucedido
quanto... mais clara for, para o espectador, a propriedade da
silhueta.
Mas o Homem, frequentemente, elevou a sombra por causa das suas
próprias fragilidades. Ela era a garantia de que se não encontrava
sózinho. Com ela se desculpava, quando a aproximava da presença do
Diabo, dando desde logo por adquirida a sua impotência em resistir
à tentação de quem lhe era tão próxima e tão persistente companhia.
A integração no tema do "duplo" trazia ainda outro consolo: o de se
supor digno de ser copiado - uma clonagem primitiva.
E, na civilização contemporânea, as grandes estrelas, a parte da
Humanidade idolatrada pelo resto, procuram multiplicar-se pelas
plurais focagens de holofotes. Nas cerimónias de entrega de prémios
de Hollywood cada actor vê no palco duas sombras de si. Nos campos
de futebol, se a luz é proveniente de torres, cada atleta é acompanhado
por quatro. Mas também o homem comum, detentor de uma só, se sente
reconciliado ao notar a ampliação de si que, a certas horas do dia,
a sombra permite.
Já na antiguidade grega, procurando garantir uma imortalidade também
aos maus ou aos vulgares, se dava o Hades, uma espécie de Inferno
raquítico, como o Reino das Sombras.
Até os animais irracionais gastam o seu tempo com elas, procurando
persegui-las, ou reagir aos movimentos que lhes vêem.
Por fim, o grande desafio que o homem moderno se colocou, ou seja
o auto-conhecimento. A maioria de nós, hoje, abdicou de ser boa, para
passar a querer esse faustiano e fraudulento saber que é acumular
mais dados de si. Sabe que nunca o conseguirá, enquanto for
assombrado por esse companheiro de sempre, desconhecido e
silencioso, para onde recambia, a la Jung ou Stevenson a parte menos
assumível que se vai pressentindo. Daí que ame a sombra, porque só ela
lhe transmite a completude. Daí que desconfie dela, porque não confia
por inteiro na descodificação com que, racionalmente, a tenta desmontar.
Moral da história: o único homem mais rápido que a própria sombra
é Lucky Luke. Mas também isto é uma falácia: por muito rápida que
corra a luz, todos o somos. E daí brota o nosso desconforto.
Para que seja condignamente comemorada a
centésima publicação de poesias, neste canto
das «Leituras Matinais», avançamos com Almada
Negreiros:

A SOMBRA SOU EU

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou o que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

O Par


«Sombra Dançarina», de Kim Mcelroy.

Friday, August 26, 2005

Reconhecimento Precoce da Derrota

Meus caros Confrades, bem podemos limpar as mãos
à parede. É melhor começarmos a treinar para ir lendo
os blogues uns dos outros e, ainda assim, à velocidade
da luz. Leitores fora do "Meio", vamos ficar sem um
para amostra: a «Playboy» anunciou que, a partir de 13
de Setembro, disponibilizará a sua versão digital, na net.
A blogosfera vai ficar deserta.
E agora, saio para jantar. Até amanhã.

Morte e Imortalidade

Só hoje soube, via «Correio da Manhã», da morte, no Domingo, de Horst Trappe. Eis uma das suas mais famosas fotografias, muito digna de ser mirada e amada: «Ezra Pound Visitando o Túmulo de Joyce». Esta imagem é dedicada ao BOS, ao Duarte Branquinho, ao FG Santos, ao Pedro Guedes, ao Alce, ao Francisco Agostinho e a todos os que gostam da Literatura do Século XX e de Fotografia.

Mutações no "Ascetismo"

Nessa fundamental e atraente hospedaria de
debate que é A Casa de Sarto, o P. Basilio
Méramo dá-nos uma bela visão do que deve
ser a Igreja sem postura de catavento, como baluarte
contra o circundante canto de sereias do hedonismo
e do consumismo. Não percam.
O que me fez pensar em Max Scheller, uma mente poderosa,
infelizmente instável e incapaz de prosseguir com brava
persistência num rumo constante. Numa das melhores fases
do seu trajecto intelectual, debruçou-se sobre o conceito
de ascetismo. E concluiu, cito de memória: «Na Idade Média
o ascetismo significava o máximo de alegria, com o mínimo
de bens possível. Hoje vêmo-lo como o mínimo de alegria,
rodeado do maior número de solicitações materiais que se
possa imaginar».
Dá que pensar, não dá?

Rendição Antecipada

Sinto-me profundamente infeliz com as declarações
do treinador do meu clube. Mesmo que o Sr. Ronald
Koeman achasse que não podia chegar ao primeiro
lugar não tinha nada que o dizer. Isto é eliminar
uma das motivações dos jogadores, que assim só
sentem pressão para não falharem o 2º lugarzito,
em vez de se verem apontados a dois objectivos, os
dois primeiros lugares, que são, afinal, os que, à
partida, estão em disputa. A menos que seja um bluff
à holandesa, insufla-se lamentavelmente uma mentalidade
de perdedores. E, como já disse, ontem, não estou tão
certo de que, neste momento, o clube do Ronaldo seja
o adversário mais complicado.

Estratégias

Nos Estados Unidos da América a grandeza de muitas instalações
militares torna a sua manutenção uma verdadeira prioridade para
cada estado, pelo estímulo económico que a actividade em seu
redor constitui e pelo trunfo eleitoral que representa para os polticos
que se consigam arrogar céditos no que a esse desiderato respeita.
Vem agora a público o relatório com as conclusões que o painel
encarregado de estudar a proposta do Pentágono para reorganização
do mundo militar americano produziu. Presidido pelo ex-Secretário
para os veteranos, Principi, deu cobertura a várias das principais e
mais contestadas propostas da Administração, como a deslocação
de 20.000 elementos do pessoal, civil, em grandíssima parte, até
agora estacionado na zona da capital, bem como o encerramento
de um grande centro médico militar, Walter Reed, e de bases importantes
no Novo México e no Dakota do Sul. Esta última - Ellsworth - é quase
universalmente conhecida, por ser utilizada pelos bombardeiros B-1, e foi
uma razão nada negligenciável na eleição do Senador John Thune, o qual
se esforçou por dar esperanças de que conseguiria convencer Rumsfeld a
não a encerrar. Mas Thune só enfrenta eleições daqui a cinco anos; e num
estado que lhe é favorável. Outros dois políticos Republicanos, os
Congressistas Shays e Simmons, estão sempre prestes a cair do arame
no hostil estado do Connecticut. Já os Democratas esfregavam as
mãos, pensando que, em 2006 é que os poriam fora, se se viesse a
confirmar o projectado fecho de duas bases no Estado. Afinal
as bases mantêm-se. Porque será? Como uma outra, no Maine, só
que, aqui, as Senadoras Republicanas Snowe e Collins têm popularidade
própria que, posivelmente, lhes permitiria sobreviver, sem ajudas.
No corropio de governadores e legisladores que encabeçaram grupos
de pressão implorando que os seus círculos não fossem os afectados
pela austeridade, o imperativo estratégico foi essencial. Só que estratégia,
neste ponto, não tem uma acepção militar. Tem, sim, sentido económico
e eleitoral.

Perdidos


De Ambrogio Lorenzetti: «Alegoria da Boa Governação: Efeitos da Boa Governação». Posted by Picasa

Leitura Matinal -99

Ao Amigo que, certa vez, me chamou «imobilista»

Na Tradição Ocidental governar era Serviço e Arte. E esta,
no período pré-maquiavélico, não era tida como a habilidade
de conservar o Poder, mas considerada como o talento de o
aplicar na prossecução da estabilidade geral. Não se queria
anatematizar as mudanças convenientes à harmonia social, o que
se pretendia era que as adaptações não ocorressem ou fossem
travadas por exigências, revolucionárias ou sufragadas, de vis
acelerações ou bloqueios. Perseguia-se o fluir natural do rio,
não uma enxurrada ou uma seca.
É neste sentido, não no do estéril equilibrismo circense e falho
de doutrina, sempre ocupado em dar uma no cravo, outra na ferradura,
que deverá, por qualquer tradicionalista digno do nome, ser lido
um poema que é um hino à não-capitulação dos governos perante
os gritos da populaça e da imprensa. Nunca no da sugestão das meias
tintas dos centrismos.

De Alfred, Lord Tennyson:

POLITICS

We move, the wheel must always move,
Nor always on the plain,
And if we move to such goal
As Wisdom hopes to gain,
Then you that drive, and know your Craft,
Will firmly hold the rein,
Nor lend an ear to random cries,
Or you may drive in vain,
For some cry "Quick" and some cry "Slow",
But, while the hills remain,
Up hill "Too-slow" will need the whip,
Down hill "Too-quick", the chain.

Cada Vez Mais Raras


«As Bençãos da Boa Governação», de Sebastiano Conca. Posted by Picasa

Thursday, August 25, 2005

Sempre Esse Optimismo!

Vários Amigos benfiquistas com quem falei hoje
mostravam-se eufóricos com o sorteio da UEFA.
Nada mais afastado do meu pensamento. O Lille
e o Villareal não terão nome, mas possuem equipas
rotinadas e muito perigosas. Até arrisco uma
heresia: antecipando um certo atraso na entrada
em forma aceitável neste início de época, a priori,
o Manchester até poderia ser mais acessível. Claro
que lá mais para a frente, seria para esquecer...

Já Não Era Sem Tempo!

Manchete do DN: Brasil perde confiança
em Lula. Que o partido do presidente tenha podido
arranjar dinheiro sabe Deus como e tenha canalizado
parte dele para comprar deputados em saldo sem o Chefão
nada saber, acredite quem quiser. O facto de o Presidente
ter andado a assobiar para o lado desde a eclosão do
escândalo é mais do que suficiente para lhe ver reconhecida
desconformidade com o que se espera do cargo. Acresce
a minha dificuldade em interpretar as ligeiras discrepâncias
da oralidade do País-Irmão, em relação às nossas: quando
a Ministra Dilma Roussef diz «o governo quer esclarecer que
nós também não concordamos com todas as coisas que aconteceram»
pretende significar que concordaram com algumas, ou que
discordaram de todo? E quando o ex-dirigente do Partido
Liberal, Costa Neto, declara que os seus deputados não
precisavam de receber para apoiar as políticas do governo,
porque pertenciam ao partido do Vice-Presidente Alencar,
implicará que essa recolha se tornava desnecessária por
haver acesso directo às massas?

O sublinhado em strong é meu.

A Promessa de Lawrence

Sabe-se como a Jordânia e o Iraque emanaram
da distribuição familiar resultante de os estadistas
britânicos não terem querido ou podido cumprir a
promessa de dar independência a um grande estado
unitário que abrangesse os dois países. Mas parece
agora haver um sinal de internacionalização de um
movimento que pode redundar no que Nasser sempre sonhou
e Bin Laden, abertamente, nunca defendeu: o pan-arabismo.
Falo do ataque a Aqaba, na Jordânia, a confirmar-se
caber a sua autoria ao grupo de al-Zarkawi. A ascensão
deste no plano do terrorismo internacional estava até
agora confinada ao combate ao invasor americano no Iraque,
como vaga delegação da Al-Qaeda, apesar de a ligação,
pelos azares da guerra, se ter vindo a reduzir a pouco mais
que aos laços sentimentais mestre-discípulo.
Só que, se a doutrina de Bin Laden sempre assentou na
unidade dos Crentes contra o Diabo irreligioso do Ocidente,
legitimando a própria luta na natal Arábia Saudita pela
necessidade de "libertação" e "pureza" dos Lugares Santos,
a acção de Zarkawi parece ter vindo a laicizar-se. Não sei
se o chefe da resistência no Iraque tem um projecto definido.
Os seus actos, porém, se o deixarem, poderão redundar na
formação de um estado com dimensão ameaçadora para o já abalado
equilíbrio regional. E será interessante ver se a unidade
shihita resistirá a esta perspectiva: No Irão, simpatias por
uma unidade do Islão, apesar das diferenças doutrinárias com
Osama. No Iraque, a ambição de reger enfim o seu estado, que
Zarkawi pode frustrar. Que nos trará o Futuro? Julgando-se
vencedores e prestes a ser atendidos, os companheiros árabes
de Lawrence também gritaram: «Aqaba! Aqaba!»...

Tempos Contrapostos


Máscara Esquimó. Noutras épocas, noutros lugares, a máscara permitia a incarnação dos personagens do mito nela representados. Era a transformação, não como aqui e agora, um disfarce. Posted by Picasa

Leitura Matinal -98

A atomização interior a que leva a profusão
de apelos da vida em raras circunstâncias nos
permite o índice de concentração que, pela dor,
essa estrada essencial da caminhada humana, bastante
por sua própria presença, seja ainda estímulo para a
compreensão das formulações arquetípicas em que
o nosso sofrer se inclui. São raros os que, no
empreendimendo vital da rotina diária, com as
sucessões e os apaziguamentos vários que vitimam
a capacidade de plena apreensão escapem à assombração
da insensibilidade. Cada poeta e cada leitor poderão
ter a esperança e a certeza de que o momento único da
ligação pela magia poética encarnará a grande possibilidade
de excepção, neste nosso tempo. Mas esse momento ímpar
acaba por deixar-nos o nostálgico rasto do que
é efémero.
Como nota Luís Quintais,

Os mitos
são ininteligíveis máscaras.
Só no poema fazem eles sentido
e não nas regiões dos dispersos sentimentos
que a vida colhe
e na confusa leitura dos dedos
resgatando as sombras
e nas paixões que a distância
se encarrega de por nós
delir.
Por isso é importante
incluir o sofrimento
no rigor que mede a alma
para as coisas serem arguila moldada,
figurações de sentido.
Que da razão
se subtraia a ilusória luz
e se fique com a noite que nela deposita.
Uma flor nocturna
é tudo o que sobra
do esplendor dos versos.

Fronteira da Inteligibilidade


«Velho Mito», de Ron Jones. Posted by Picasa

O Reforço

Enquanto o Glorioso continua a saga do reforço
por chegar
, inicia-se na blogosfera J P Magalhães
e Santos, com O Jogral. Chamou-me a atenção para
este esperançoso reforço o sempre atentíssimo FG
Santos. Ao novo confrade e respectivo diário na
net os melhores votos, depois de ter deglutido com
entusiasmo as pisadas seguras no bom trilho com
que se iniciou.
Bem-vindo.

Wednesday, August 24, 2005

Elevação da Retórica

Em defesa de Sua Dama, o Américo de Sousa
produz em Retórica e Persuasão um notável
post, no qual vem reforçar a preocupação de
encarar a retórica como elemento liminar que
nos cative, ainda antes da acepção mais espalhada
de artifício que nos convença. E remete para a
sua obra «A Persuasão - Estratégias da Comunicação
Influente», que desde já, pela Qualidade do seu Autor,
me comprometo a ler com a máxima atenção.
Na segunda parte do fundamental texto, irmana as
nossas preocupações versando a perceptível cedência
ao novo, sem exame, por grande parte dos que nos rodeiam,
jogando subtilmente com o título que eu dera a um
comentário à Sua anterior prosa sobre o problema,
no momento em que transpõe para a vida e para a diferença
de habilitações a permeabilidade maior ou menor à novidade.
Sem discordar por um instante com o que ali é dito, tenho
contudo a ousadia de salientar que, paradoxalmente, tendo
a ver esse desarmamento intelectual perante a novidade como
fenómeno transversal, espalhando-se, qual tecido cancerígeno
por variados níveis de saber, pelo menos ao nível do diploma.
É a preguiça que o Américo lamenta, não só no plano do não fazer
por saber mais, mas, tão ou mais preocupante, no patamar do
não usar o saber que a comunidade lhe reconhece
. Por isso a minha
provocação acerca da publicidade, na ávida perspectiva de beber a Sua
Sabedoria acerca do tema.

Comentar Genialmente

Como estou perante os meus Leitores, ajo por minha
conta e sem grande risco ao chamar a atenção para
a extraordinária lição aposta como comentário pelo
BOS ao post «Palavras e Sentimentos», um
verdadeiro «mimo», na inigualável linguagem da Nova
Frente, bem como à mais que elucidativa resposta dada
pelo Luís Graça naquele lugar. São coisas como esta que
me fazem orgulhar de ter um blogue. Pobre Peseiro! E pobre
jornalista!

CLARIFICAÇÃO

A questão creio já ter sido esclarecida nos comentários
dois posts acima, àquele que ostenta o título «P.S.F.
e Lideranças». Todavia, espero morrer sem que se possa
dizer de mim que alguma vez tenha atribuído a alguém
ideias que não são as suas. Muito menos em se tratando
de um Querido Amigo, que admiro e prezo muitíssimo, como
o FG Santos.
Assim, rogo ao Leitor que se digne interpretar a alusão
final da posta em apreço como referente à fama de expoente
da "ala atlantista" do P.S.F. que o Sr. Fabius tem cultivado.
E, por acrescento, à mudança no papel de "interlocutor privilegiado
do Mundo Árabe no Ocidente" que uma ascensão daquele político
à Presidência da França poderia acarretar. Sendo muito mais
aberto, por solidariedade étnico-religiosa, ou, quem sabe,
por convicção, às posições israelo-americanas, poderia trazer
uma nova política externa, encaminhando-a para uma direcção
de que sei o FG Santos ser muito crítico.
Mas a posição Dele será melhor explanada em Santos da Casa,
para onde tomo a liberdade de vos reenviar.

Palavras e Sentimentos

Do DN:
«Peseiro consolado com derrota».
Consolado????!!!! Não seria melhor pôr "conformado",
igual ao que vem no texto? É que, a ser verdade, o
consolo referido corresponderia ao desconsolo de quase
todos os sportinguistas por ser aquele o treinador!

P.S.F. e Lideranças

O Dr. Bernard Kouchner admitiu a hipótese de
criação de um novo partido, por parte dos
militantes do P.S.F. que não aceitam a liderança
eventual de Laurent Fabius, o qual tentaram expulsar,
mas que, pelas voltas da roda da fortuna, surge,
de repente, como favorito ao cargo.
Os socialistas franceses são especialistas em
cindir-se e fundir-se, mais do que qualquer grande
grupo empresarial. Mas espero que não pensem no
fundador dos «Médicos Sem Fronteiras» para os chefiar:
o homem já provou inabilidade bastante, ao perder para
Guterres o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados.
E uma palavra de conforto para o Eurico de Barros e
para o FG Santos. Como se sabe, o Sr. Fabius é judeu...

Jeróónimooooooooo!

Numa finta de corpo que deixou estatelada no chão
a especulativa Comunicação Social, o Partido
Comunista Português, sensatamente, escolheu o
Secretário Geral Jerónimo de Sousa para concorrer
às Presidenciais, em vez de uma mais ou menos anónima
militante, pelo facto de ser Mulher, como se aventava.
É jogada interessante. Jerónimo tem uma penetração de
simpatia que Carvalhas, mau grado todos os esforços,
nunca conseguiu ter. E é a hipótese mais viável de
prolongar por mais uns mesitos o estado de graça
originado pela morte de Cunhal, coisa em que os nossos
jornalistas não são muito pródigos, inversamente ao
que acontece com o apaparicamento constante dessa
realidade por eles inventada que é o Bloco de Esquerda.
O P.C.P. bem pode precisar disso, se o recuo autárquico
se agravar. E poderia ser a derradeira tábua de salvação,
na hipótese de perder Beja e Almada.
Finalmente, não resisto a uma pequena maldade: como as
razões apresentadas para a candidatura foram «combater
o velho projecto da direita de se apoderar da Presidência»
e as ameaças de subversão da Constituição pelos defensores
do «presidencialismo autocrático», ainda veremos os nossos
amigos comunistas a defender a institucionalização da
Monarquia. Não pensem que é inédito. Foi admitido pelos
dirigentes comunistas italianos da Rifundazionne, ainda há
poucos anos, quando Berlusconi falou em transformar o sistema
político italiano num presidencialismo!

Prodígio de Estoicismo


Bernard de Fontenelle 1651-1751. Disse: «Um bom espírito cultivado é, por assim dizer, composto de todos os espíritos precedentes.» Posted by Picasa

O Horror

Não quero, nem por uma décima de segundo, equiparar
o tremendo horror da perda das vidas e da Vida que
subjaz ao arder da floresta pátria a um puro, embora
obsessivo terror pessoal: o de que a biblioteca
particular deste pobre ser ardesse. De alguma forma
receio que viesse a transformar-se numa extinção da
vida própria, mais que não fosse, na sua faceta espiritual.
É por isso que considero como um irmão um filósofo cujas
formulações frequentemente me desgostam: Fontenelle. Esse
mesmo, o homem que "inventou" modernamente a noção hedionda
do Progresso, um mito todo o dia desmentido. Mas o homem
adorava os seus livros e vivia com e para eles. Um dia, a
biblioteca enorme ardeu. Racine, que sabia como ele era,
enviou-lhe uma bela carta de pêsames, como se parente
chegado tivesse falecido. E no agradecimento, encontrou
estas imortais palavras:
«Se os meus livros não me tivessem ensinado a viver sem eles
não me teriam servido de nada.»
E, numa versão actualizada dos livros que levaria para a
ilha deserta, perguntaram a Cocteau o que procuraria salvar,
se a sua biblioteca fosse devorada pelas chamas. «O Fogo»,
respondeu. Mas claro que, na vida comum, não é possível, nem
aconselhável, preservar o espírito e o desportivismo, no que
à desgraça alheia toca. Pode mesmo ser ofensivo.

Quem Vê


«O Todo-Poderoso, Com os Profetas e as Sibilas», de Pietro Perugino. Posted by Picasa

Leitura Matinal -97

Sempre experimentei um nevoento mal-estar face
aos preditores do Futuro, mesmo os estatutariamente
dignos de Veneração. Incomodava-me que um possuidor
da visão do porvir espostejasse aquele e só desse
aos seus ouvintes parcelares nacos dele, mais ou
menos gordurosos, conforme o humor do dia.
Conhecer o Futuro, como estudar o Passado, ou gozar
essa aproximação que é o Presente, são maneiras que
o Homem inventou para satisfazer a sua curiosidade,
o mais corrosivo dos vícios, bem como para se aumentar
o vulto, a mais atormentadora das ambições.
Reconhecimento disto é a quase universal condenação
religiosa da automática e egoista fruição dos prazeres
materiais, a conformação do Passado numa Versão Sagrada
e a proscrição do conhecimento do Futuro, com excepção
dos raros Iluminados por Deus.
É que a ambição de saber o que virá é o verdadeiro fruto
proibido, que pareceu mais alcançável à Humanidade. A
imortalidade cedo ficou confinada aos alucinados heterodoxos
que insistiam em procurar o Elixir da Longa Vida, ou a esses
novos magos dos nossos dias, pobres sucedâneos, que mais se
não propoem do que retardar o envelhecimento. O conhecimento
do Bem e do Mal foi mais consequência do que causa da Queda.
E daí a masoquística noção de que, obtida uma previsão, a acção
do homem dela já conhecedor, com a sua pequenez, a levará para
um destino desfavorável, mesmo nos casos em que parecia ser
benigna. O castigo. Donde as ambiguidades e obscuridades dos
oráculos e dos ditos sibilinos.
Mas, claro está, na grande maioria das situações a desilusão não
se faz preceder de trombetas ou de arautos.
Viu-o bem Pedro Tamen:

IMPROVISO AOS PROFETAS

O dia de amanhã caminha a pé:
a lira o canta, a base o deixa
estar sentado, e é mendigo; e o é
assim desfeito e perturbado, mal se queixa.

Azul é terna cor de nos deixarmos
amortecer à calma; mas ele vem
tão íntimo, indiferente, que sacarmos
da sua boca o mel que mastiguemos não convém.

Nós o damos às chagas e às flores
dos agonizados dias - outros. Existe
igual aos nossos olhos e às dores
que nos fizemos. Porque o faremos triste

qual nos fazendo somos. É meu segredo
que ele será secreto, como criança
suja. Igual ao nosso medo
e à nossa esperança.

Resposta


«Bola de Cristal», de John William Waterhouse. Posted by Picasa

Tuesday, August 23, 2005

Apontar a Dedo

Concordo com o Luís Graça. A culpa é do Peseiro.

Nome versus Género

O P.C.P., o outro, que não o autor destas
linhas, é, está provado à saciedade, um
partido colectivista, quer nas opções de
estruturação económica do Estado, quer nas
formas de tomada de decisão. Mas não parecerá
demasiado compressor da individualidade atribuir
ao partido a intenção de candidatar à Presidência
da República, cargo inequivocamente pessoal, uma
militante, por pertencer a uma categoria específica,
no caso, o Género Feminino? Mesmo que a candidatura
seja para não levar até ao fim, o que se deveria
anunciar não seria um conjunto de qualidades daquela
pessoa, em vez da metade da Humanidade de que faz
parte? Diga-se em abono da verdade que o partido tem
sido muito mais discreto, ou contido, do que a imprensa,
no anúncio dessa intenção, mantendo que ainda nada
está decidido.
São as alegrias republicanas... a mim, a República nunca
me deu coisa outra que alergias...

Tubarões à Vista?

A classe política norte-americana é culpada de
mil e uma malfeitorias? Certo. A própria população
do País julga os seus políticos como gentalha abaixo
de cão? Bom, quando a pergunta é feita genericamente,
sim. Porém, ao serem perguntados sobre o "seu" senador
ou congressista, salvo casos excepcionais, a maioria
que o elegeu defende-o com unhas e dentes e até muitos
eleitores que contra o indivíduo votaram dizem discordar
na política, mas gostar do homem. Esta predisposição é
uma das principais razões pelas quais são raros os incumbents,
quer dizer os titulares do cargo, derrotados em lutas
pela reeleição.
Entretanto, há um campo em que a fúria da opinião pública
e das sanções legais se abate sobre os políticos: quando
se comprovam condutas impróprias no que a dinheiros respeita.
Neste momento estão a braços com acusações de impropriedade
em matéria financeira o Governador Bob Taft e o Congressista
Cunningham, Republicanos de Ohio e Califórnia, respectivamente,
bem como o Congressista Jefferson, Democrata da Luisiana. E
este dado pode ser muito mais importante do que os 33% de
americanos que dizem, presentemente, desaprovar o trabalho do
Congresso. Se, por exemplo, se provassem as acusações contra
os dois membros do GOP e viesse a ser ilibado o parlamentar
Democrata, poderíamos estar próximos do ambiente de mudança
que, em 1994, levou à conquista republicana de ambas as
Câmaras. Recorde-se que aquele momento histórico foi precedido
de perto pelo escãndalo financeiro protagonizado pelo então todo-
-poderoso presidente do comitê Ways and Means da House, Dan
Rostenkowski.
Os Democratas começam a cheirar sangue e aguçam o dente. Será
que a História se vai repetir, favorecendo o outro lado?

Muito Importante

Não sei se devo culpar o pudor ou a preguiça
por não ter transcrito aqui «A Canção de Amor
de J. Alfred Prufrock», do Poeta que ponho acima
de todos, T. S. Eliot. É um dos poemas da minha
vida, no mundo das letras anglo-saxónicas. O
Árbitro das Elegâncias publicou-o. Façam-me uma
caridade, vão lá ler a Oitava Maravilha do Mundo.

Imagem "Dionisíaca"


«Queda Livre», de Sidney Goodman Posted by Picasa

Leitura Matinal -96

Tivesse eu o meu pobre ser na inconcebível
conta de "pensador" e, por força do primeiro
dos apelidos com que assino, deveria ver-se
o texto que segue como salutar exercício de
auto-crítica. Mas que a interpretação continue
a ser o derradeiro entreposto da liberdade, tendo,
contudo, em mente o que a Autora considera ser «a
génese do eros frenético: quando se atinge o nível
da gargalhada reprimida começa a grande sabedoria».
De Ana Hatherly,

o livre pensador da cunha
o pensador livre da cunha
a cunha livre do pensador
a cunha do pensador livre
o pensador da cunha livre
o pensador da livre cunha
do pensador a cunha livre
do pensador a cunha o livre
da cunha o livre pensador
livra o pensador da cunha
livra a cunha do pensador
da livre cunha ao pensador
da cunha o pensador do livro
do pensador a cunha da lebre
da livre pensa e cunhador
do livro penso o cunhado
e a lebre punha senso e unha
e livre a lebre da cunha e leve
pensador de penso imenso
e livre e pen

Imagem "Apolínea"


«A Pensadora», de Renoir. Posted by Picasa

Monday, August 22, 2005

E os Ensinamentos da Experiência?

Não me espantei com as notícias dos contactos
diplomáticos mais ou menos paralelos que terão
tido lugar entre os E.U.A. e o deposto governo
taliban, do Afeganistão. Nem com a tentativa
de que o regime do Mullah Omar matasse ou desse
a matar ao gigante americano o seu inimigo público
nº1. O que me deixou espantado e deveria ter deixado
o Secretário da Defesa avergonhado, para parafrasear
o outro, foi a oferta feita: O fornecimento de mísseis
de cruzeiro. Armar quem nos odeia! Os exemplos, apesar
de tudo menos ostensivos, do Irão e de Sadam não terão
servido para coisa alguma!

Teorização da Neopatia


O livro em questão no post anterior. Posted by Picasa

O Reverso da Medalha

Pegando no último terceto do poema de João Arroyo
que ontem aqui foi publicado, o Américo de Sousa,
com a mestria que é seu apanágio, transforma-o em
mote de uma tese aliciante: a de que o alheamento às
solicitações que nos não respeitassem directamente
fossem idóneas a, em razão da hiperbolização do poder
selectivo de cada qual, incrementar a atenção dirigida
ao Outro e o engenho de (lhe) agradar, ou seja, o que,
exactamente, o nome do seu blogue alardeia: Retórica e
Persuasão
.
No plano ideal a coisa seria, evidentemente, assim. Mas
quereria este desmancha-prazeres incorrigível que o velho
misantropo vai sendo chamar a atenção para as vulnerabilidades
individuais que um euismo hipertrofiado desperta. Como nem
todos os nossos contemporâneos se inserem na elite que o
Américo descreveu, há a constatação real de que estão muito
permeáveis ao aparecimento do novo, exactamente pelas razões
inversas do espírito crítico que o Américo e eu gostaríamos
de ver dar cartas.
É que a abundância de (des)informação habilita justamente os
emissores a dirigirem-se, por vezes, a um sujeito anónimo, extraído
dos inquéritos sociológicos e das estatísticas, apelando ao que
pior há no homem de hoje: a adesão ao novo, por o ser, motivada
por uma fragilidade sensível - não querer ser votado a qualquer
ostracismo ligado ao démodé. É a neopatia, que foi enunciada
por Lucas Fournier num livro que se lê bem, mas em que o texto
nem sempre consegue acompanhar a excelente ideia de partida.
Neste âmbito, em que até as campanhas políticas sublinham a
ideia abstracta de mudança, abdicando da apresentação de
propostas concretas que fizessem apelo ao espírito crítico
individual do receptor, entramos no domínio do jurado inimigo
da retórica e da persuasão, porque seu concorrente desleal:
a publicidade.

560

Consequente como sempre, cá vem o Manuel Azinhal dar conta
do Movimento 560, que visa incrementar a compra de produtos
portugueses. É contributo mais que louvável. Não sei é se, no
nosso País, ou, diga-se, em qualquer outro do Ocidente, a iniciatva
colherá os seus frutos. Por cá, o Norte do consumismo é a pretensa
satisfação de necessidades reais ou inventadas do indivíduo, muita
vez determinada pelo sucesso de operações de marketing , que de
facto, favorecem marcas estrangeiras.
O oposto, diz-nos Fukuyama, acontece no Japão. De «O Fim da
História e o Último Homem». Falando do empregado/consumidor
japonês:
«A cultura japonesa, por exemplo (tal como outras na Ásia oriental),
possui um espírito de grupo muito mais desenvolvido que o individual.
(...)Quando o grupo para o qual ele busca o reconhecimento é a nação,
o resultado traduz-se em nacionalismo económico. O Japão é, de facto,
mais nacionalista que os Estados Unidos. Este nacionalismo não se
expressa por um proteccionismo assumido, mas por formas menos visíveis,
como a rede de fornecedores internos tradicionais mantidos pelos
produtores japoneses, ou a enorme disposição dos consumidores
japoneses de pagarem mais caro por produtos japoneses.».
A coisa, como se vê, é possível. Mesmo cá? Só tentando. No que toca ao
vosso misantropo, ele não constitui exemplo para quem quer que seja. É
um consumidor imperfeitíssimo. Praticamente só compra comida e bens
culturais. E se na primeira dá indubitavelmente preferência ao que é
nacional, nos outros tem de fazer penitência pesada: anda muito, muito
dependente da estranja.

Mais


«Três Desejos», de Kathryn Andrews Fincher. Posted by Picasa

Leitura Matinal -95

Que coisa ambígua é o Homem! Labuta, Criação,
Acaso, inclusivé, dão-lhe tanto, os sonhos,
quais amibas sempre em expansão, fazem-no tão
pouco. Perpétua insatisfação de tudo querer,
teria sido essa a verdadeira maldição contida
no Castigo Divino que justiçou a Queda, motivada
já por si no desejo de mais que enquadrou a fatal
desobediência?
Condição tantalesca e risível a nossa, não fora
nossa ser, portadora da infelicidade constante de
aspirarmos ao inalcançável, sempre desmentida por
limites que julgamos indignos de nós, nunca nos
lembrando que podemos é ser indignos do que, por
justiça, dadas as origens, mas, igualmente a conduta
de cada dia, nos terá sido negado.
De António Manuel Couto Viana,

MERCÊ

A todos chamarás amigo, irmão,
Menos a quem estenderes a tua mão.

Terás o mundo todo: terra e mar,
Menos a parte onde quiseres ficar.

Os frutos poderás colher, comer,
Menos aquele que te apetecer.

E haverá sonhos p´ra sonhar, fugir;
Porém ninguém te deixará dormir.

Não terás nem divisas nem bandeiras,
Mas hão-de rodear-te de fronteiras.

As Asas


«Sem Limites», de Mari Giddings. Posted by Picasa

Sunday, August 21, 2005

O Ouro e a Mina


EXULTATE! JUBILATE! Sei que já passaram alguns dias sobre os Campeonatos do Mundo de Atletismo, mas como tinha faltado esta imagenzita da Isinbayeva... Posted by Picasa

Um Mestre Pouco Lembrado


D. Miguel Sotto-Mayor. Posted by Picasa

O Pleno do Tradicionalismo

Releitura dominical de uma obra prima: o
livro de D. Migvel Sotto-Mayor «A Realeza de
D. Migvel», 2ª edição, Atlântida,Coimbra, 1929,
em que, respondendo a um livro de falsidades
e imprecisões, de Tomaz Ribeiro, sustenta o
Portugal Tradicional e a respectiva ossatura jurídica
em toda a sua latitude. Ao contrário do que
fizeram outros hoje mais citados defensores da
Concepção Integral da Realeza, o Autor não se
debruça primordialmente sobre a fundamentação
doutrinária do Realismo Português que serviu de
base ao apaixonado trabalho de formação dos
mestres integralistas. No seu escrito esse intento
coexiste permanentente - e não já consquentemente -,
com a identificação da Legitimidade, numa interacção
recíproca, como suporte e necessidade da outra.
Para além da pormenorizada análise jurídica das razões
pelas quais o Trono coube por direito a El-Rei D. Miguel I,
a todo o momento é evidenciada a ironia de os defensores
autoproclamados da "Soberania Nacional" se oporem às Leis
Fundamentais do Reino que, afirmadas e reafirmadas em sucessivas
Cortes, excluíam os príncipes estrangeiros da chefia do Estado
Português e reforçavam o sistema político unificador, contrapondo-lhes
decisões individuais em contrário, ora a Carta indevidamente outorgada
por D. Pedro I do Brasil, ora as obscuras e suspeitíssimas (mas, em
todo o caso, juridicamente nulas) instruções particulares dum moribundo
D. João VI.
Se há livro que, pela qualidade e pelo portuguesismo, faz falta voltar
a ler, é este

Sem Cara Afogueada

- Já se sabe que o Mecanismo Comunitário de Protecção
Civil está disponibilizável pela União Europeia para
ser accionado.
-Já se sabe que a dimensão da tragédia o justifica.
-Já se sabe que outros, noutras ocasiões recorrerão
ao esquema que para isso mesmo foi criado.
-Já se sabe que a seca agravou o que grave era.
-Já se sabe que se os dois mil militares que vão reforçar
aqueles que já patrulham as matas tivessem para lá sido
destacados ontem, talvez não ardessem agora 50 fogos, mas
25, ou 30, ou 35.
-Já se sabe que casa roubada, trancas à porta.
-Já se sabe, (ou, pelo menos espera-se) que não é o
governo que ateia os fogos.
-Já se sabe que, na oposição, um partido diz uma coisa
e, no poder, faz o mesmo que o outro.
-Já se sabe que é feio aproveitar os desastres naturais,
ainda que resultantes da mão humana, para politicar.
-Já se sabe que, não obstante tanta ciência, todos
acabam por o fazer.
-Já se sabe que nenhum governo estabelecerá penas dignas
do nome para os incendiários, nem conseguirá disciplinar
as negociatas de madeiras baseadas no fogo posto.
-Já se sabe que o Ministro da Aministração Interna que
insultou os críticos e disse que o governo tinha já
disponibilizado meios bastantes é o que agora pede ajuda.
-Já se sabe que, mesmo que, num inesperado assomo de dignas
coragem e responsabilidade, viesse a demitir-se, ficaria
sempre a a achar que não tinha culpas no cartório.
-Já se sabe.

O Interesse


«Arlequim e Espelho», de Picasso. Posted by Picasa

Leitura Matinal -94

Quanta vez não deparámos com o insensível da esquina
que, perante umas catastróficas cheias no Oriente, ocupa
só o que diz ser o cérebro com o temor de que a ajuda
humanitária desvie do seu próprio caminho recursos
que poderia aproveitar? E quantas não caímos nós, os
altruístas e solidários, na armadilha psíquica de cingir
o olhar sobre qualquer quotidiana tensão da vida à parte
de prazer ou de temor-desconforto que nos compete da
partilha? Partilha, como "divisão", que, como comunhão,
já se sabe o que a casa gasta.
No limite, a própria prática bloguística, por muito que
tentemos estender o olhar ao que nos supera, redunda
frequentemente numa suspeitíssima satisfação do Autor
consigo, ou com um primor do que escreveu, não falando
já nos casos mais graves, em que publica, sob a capa de
uma opinião genérica, a tentativa de infuenciar, na senda
de um seu interesse.
Muito além da mea culpa do parágrafo anterior, satirizando
o tema, João Arroyo publicou, num livro de 1918:

EGOTISMO

O egotismo é o microscópio da desgraça.
Chega notícia: arde em guerra toda a Baixa;
O outro inquire tremulo, a fechar a Caixa:
-Em todo o caso, tenho electrico p´ra a Graça?

Commentam com pesar o p´rigo que ameaça,
O pão a preço enorme, o cambio não abaixa,
A fome vem... Est´outro diz:-Não nos rebaixa
A crise, mas,... vão-me faltar pasteis de massa?

Falai ao egotista em nós ou elles; eu
Responderá, pois foi p´ra ell´que Ptolomeu
O sol lançou da ecliptica na estrada bella.

Leitor, se abordas uma apathica pessoa,
Conversa no que lhe int´ressar. E se ella enjôa,
Vae por caminho inda melhor: falla-lhe d´ella!

A Única Vista


«Jardim Interior», de Tony Casper. Posted by Picasa
 
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